São Paulo, sexta-feira, 07 de setembro de 2007

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Bolívia enfrenta protestos violentos

Confronto levaria governo a propor o fechamento da Constituinte, um dos principais projetos de Morales

Violência de ontem teve como estopim disputa entre Sucre e La Paz para ser sede do governo federal; mais de cem pessoas ficaram feridas

France Presse
Universitários que tentavam impedir sessão da Constituinte e policiais se enfrentam em Sucre; governo culpou grupo de extrema direita pelo início dos choques

DA REDAÇÃO

A disputa entre partidários de Sucre e de La Paz pela redefinição da capital plena da Bolívia desembocou ontem em novos e violentos choques entre policiais e manifestantes, com saldo de mais de cem feridos e ao menos oito presos no departamento de Chuquisaca, cuja capital é Sucre.
Na Assembléia Constituinte, os trabalhos de redação da nova Carta foram suspensos após um ataque com coquetéis molotov contra o prédio histórico que abriga os constituintes, também em Sucre.
Citando fontes parlamentares, a agência Efe informou ontem à noite que a violência levou o vice-presidente Álvaro García Linera a apresentar ao Congresso, em La Paz, um projeto para o "fechamento temporário" da Constituinte, um dos principais projetos do presidente Evo Morales para "refundar" o país por meio de uma nova Carta.
Desde que os constituintes eleitos tomaram posse, há 13 meses, os trabalhos não avançam devido a divergências entre o MAS (Movimento ao Socialismo), partido de Morales, e a oposição. O MAS tem maioria na Constituinte, mas não os dois terços necessários para aprovar os artigos constitucionais mais espinhosos. "Neste momento Sucre está em confronto e a Assembléia não avança", disse à Efe o senador governista Guido Guardia.
O ataque de ontem à sede da Assembléia Constituinte foi atribuído pelo governo à União Juvenil Cruzenhista, organização de extrema direita do departamento de Santa Cruz, governado pela oposição.
Depois que a bancada do MAS vetou na Constituinte a proposta de transferência dos poderes Legislativo e Executivo de La Paz para Sucre -que já abriga o Judiciário-, em 15 de agosto, lideranças regionais e estudantes começaram a protestar contra a decisão.
Na semana passada, uma greve convocada pela oposição em seis dos nove departamentos do país também gerou violência. Pressionado pelos confrontos, o governador pró-Morales de Chuquisaca, David Sánchez, anunciou na última sexta-feira sua renúncia ao cargo.
Ontem, as TVs locais mostraram centenas de jovens lançando pedras, bombas incendiárias e foguetes contra a polícia, que respondeu com gás lacrimogêneo e tiros de borracha.
O Comitê pela Capitalidade Plena de Sucre afirmou que a polícia atacou os manifestantes durante uma vigília contra a Constituinte. O comitê informou que o Seguro Social Universitário atendeu 57 feridos, e os hospitais receberam 83 pessoas intoxicadas com gás lacrimogêneo e 24 feridos com balas de borracha.
Uma das condições dos dirigentes de Sucre para negociar com o governo é que os trabalhos da Constituinte não sejam retomados antes de um acordo.
A violência de ontem coincidiu ainda com um ultimato dos "movimentos cívicos" de seis departamentos, reunidos na autodenominada Junta Democrática, que ameaçam iniciar uma greve de fome na segunda-feira caso o governo não permita a discussão sobre a capital na Constituinte.
A data é a mesma escolhida por Morales para tentar juntar cem mil simpatizantes em Sucre, como um sinal de força diante da oposição.


Com France Presse e Efe


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