São Paulo, domingo, 07 de setembro de 2008

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Discursos de candidatos não farão história, diz especialista

ANDREA MURTA DE NOVA YORK

Mesmo com todo o barulho atual em torno das convenções democrata e republicana, no que depender de seus discursos finais, nem Barack Obama nem John McCain terão lugar de honra na política dos EUA. Segundo o especialista em oratória e discursos políticos Wayne Fields, da Washington University em Saint Louis, McCain foi prisioneiro de suas limitações retóricas, e Obama, orador comparado ao ativista Martin Luther King Jr., já teve falas melhores em 2008. Ainda assim, Fields, autor de "Union of Words; A History of Presidential Eloquence" (união de palavras: uma história da eloqüência presidencial, Free Press, 1996), destaca as qualidades de orador de Obama e diz que o democrata é melhor até do que o presidente John F. Kennedy (1961-1963). Leia a seguir os principais trechos da entrevista à Folha.

 

FOLHA - Como o sr. avalia os discursos finais de McCain e Obama nas convenções partidárias de 2008? WAYNE FIELDS - O discurso de Obama foi correto, mas não o mais inspirado do ano. Não foi comparável a seu discurso sobre raça [de março]. Mas ele estava tentando confirmar sua capacidade para liderar e teve uma fala forte. Já McCain não entrará para a história por ter feito discursos memoráveis. Ele parece mais desconfortável ao discursar, não tem o apelo com audiências como o rival. Dentro disso, sua fala foi a melhor possível.

FOLHA - O quão decisivos são os discursos para uma eleição? FIELDS - A mídia espera que discursos sejam capazes de transformar tendências, e eles não fazem isso. Eles podem ser coerentes com a imagem que um candidato tenta construir, podem manter por mais tempo um "momentum" que já existia, mas sozinhos não são nada. Há pouquíssimos discursos memoráveis, não em uma campanha, mas em toda a história política, como alguns discursos de Kennedy, que marcaram.

FOLHA - Obama é comparável a Kennedy na habilidade retórica? FIELDS - Obama é melhor em escrever e desenvolver discursos. Boa parte de sua eloqüência vem de suas próprias palavras. Kennedy era muito dependente de Ted Sorensen [responsável pelos discursos]. O que era extraordinário em Kennedy era sua capacidade de lidar com perguntas difíceis. George W. Bush e seu pai também lidaram bem com isso. Já Ronald Reagan era surpreendentemente fraco, o que mostra como a importância disso é relativa.

FOLHA - Quais são os pontos fortes da retórica de Obama e McCain? FIELDS - Para Obama, o diferencial está mais na forma como ele discursa do que nos discursos em si. Ele projeta juventude, energia e seriedade. Se mostra muito confiante e tem uma cadência própria na voz, que reforça essa imagem.
Não há nada de errado com McCain. Só que ele oferece outra imagem, de uma América mais velha, mais tradicional. Os dois candidatos têm um excelente pacote de apresentação política. A pergunta é qual desses pacotes o eleitorado americano busca hoje.


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