São Paulo, sábado, 07 de outubro de 2000

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REVOLUÇÃO NOS BÁLCÃS
Departamento de Estado diz que recompensa de US$ 5 milhões existe e é parte de sua política
EUA mantêm pressão sobre presidente

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Os EUA saudaram a vitória da democracia e da população na Iugoslávia, mas não aliviaram a pressão que exercem sobre o presidente do país, Slobodan Milosevic, mantendo a exigência de que ele seja julgado pelo tribunal penal internacional de Haia para crimes cometidos na ex-Iugoslávia (TPI).
O TPI acusa Milosevic de crimes de guerra cometidos durante o conflito em Kosovo (1999). Carla del Ponte, promotora-chefe do tribunal, declarou ontem que espera que o presidente eleito da Iugoslávia, Vojislav Kostunica, não coloque obstáculos para a extradição de Milosevic.
"Quero aproveitar a oportunidade para enviar ao presidente eleito da Iugoslávia minha mensagem de que estou disposta a receber Milosevic em Haia a qualquer hora", afirmou Del Ponte durante entrevista concedida na capital de Kosovo, Pristina.
Os Estados Unidos, por sua vez, informaram que a recompensa de US$ 5 milhões para qualquer pessoa que forneça pistas que possam levar à prisão de Milosevic ainda existe.
"A recompensa faz parte de nossas políticas. Nada mudou nesse campo", disse Richard Boucher, porta-voz do Departamento de Estado. A recompensa foi estabelecida em maio de 98, quando Milosevic foi indiciado pelo TPI.
"A democracia recuperou o terreno que Milosevic havia apropriado indevidamente. Pela primeira vez na história, desapareceu o grande obstáculo que impedia a realização do sonho de uma Europa unida e em paz", disse o presidente Bill Clinton, em declaração sobre a situação na Iugoslávia, proferida na Casa Branca.
Clinton sustentou que a intervenção da Otan (aliança militar do Ocidente) em Kosovo foi decisiva na transformação que acontece agora na Iugoslávia.
"Devemos pensar na situação em que nos encontrávamos há pouco mais de um ano", disse o presidente dos EUA, que acrescentou que, com Milosevic no poder, vivia-se uma situação de violência na Iugoslávia.
O chefe da Administração Provisória da ONU (Organização das Nações Unidas) em Kosovo, Bernard Kouchner, também saudou as mudanças que estão ocorrendo em Belgrado e disse que já estabeleceu contatos com as novas autoridades iugoslavas "em relação à situação de Milosevic".
Apesar de ter ordem de prisão decretada pelo TPI, Milosevic pode não ter de responder por seus crimes em Haia. Kostunica declarou diversas vezes que não pretende entregá-lo ao TPI por considerar o tribunal um órgão político, não judicial.
O presidente eleito afirma que o TPI sofre influência dos EUA e argumenta que a Constituição iugoslava não lhe permite extraditar o atual presidente.
Boa parte dos analistas políticos ocidentais começam a trabalhar com a hipótese de que o fortalecimento da estabilidade na Iugoslávia seja, por enquanto, mais importante do que o julgamento de Milosevic pelo TPI.

Ouro
O economista iugoslavo Mladjan Dinkic, assessor de Kostunica, disse ontem que Milosevic estaria tentando enviar parte das reservas de ouro do país à China. Segundo Dinkic, um DC-10 estaria para partir para Pequim levando o ouro. Ele afirmou que a oposição ordenou o fechamento do banco central ontem, mas não teve acesso ao tesouro, onde estariam cerca de US$ 150 milhões em ouro.


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