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POBREZA
Número pode chegar a 2 bilhões dentro de 30 anos, revela estudo; 31,6% da população urbana mundial é favelada
Quase 1 bilhão vive em favelas, diz ONU
DA SUCURSAL DO RIO
DA REDAÇÃO
Se não forem tomadas medidas
de combate à pobreza e adotadas
políticas de emprego e de habitação, a população mundial que vive em favelas deve duplicar e chegar a 2 bilhões em 30 anos, alerta
relatório divulgado ontem pelas
Nações Unidas.
Em 2001, havia 924 milhões de
favelados, ou 31,6% dos moradores de zonas urbanas no mundo,
afirma o relatório. Nos regiões em
desenvolvimento, os favelados
correspondem a 43% dos que
moram nas cidades.
O documento, intitulado "O
Desafio das Favelas, o Programa
de Alojamento Humano da
ONU", define favela como um
aglomerado urbano que combina
as seguintes características: acesso inadequado à água potável,
acesso inadequado à rede de saneamento, habitações precariamente construídas, excesso de
moradores e ausência ou precariedade dos títulos de posse ou de
propriedade.
A definição se aplica, segundo a
ONU, aos "kampungs" da Indonésia, aos "townships" da África
do Sul e às próprias favelas do
Brasil. "O relatório deve servir de
incentivo para que as administrações municipais dêem prioridade
ao atendimento às favelas e assentamentos precários em todo o
mundo", disse Anna Kajumula
Tibaijuka, diretora executiva do
programa Habitat, da ONU, que
participou ontem do lançamento
do relatório no Rio.
No prefácio do documento, o
secretário-geral da ONU, Kofi
Annan, afirma que as favelas representam o pior da pobreza urbana e da desigualdade. "Elas são
uma bomba-relógio", diz Naison
Mutizwa-Mangiza, chefe do programa responsável pela elaboração do relatório.
Segundo Anna Tibaijuka, há
um fluxo irreversível para as zonas urbanas, que hoje já abrigam
50% população mundial -ou 3
bilhões de pessoas. Nos próximos
20 anos, prevê a ONU, o número
de moradores das cidades vai aumentar para 5 bilhões de pessoas.
A maior parte desse crescimento, diz o relatório, estará concentrada nos países em desenvolvimento, onde a população das cidades aumenta a uma taxa anual
de 2,3%, contra 0,4% nos países
desenvolvidos. A pobreza, que foi
no passado um fenômeno característico de regiões rurais, se "urbaniza" de forma acelerada.
Brasil
O documento da ONU não traz
dados globais sobre o Brasil, mas
analisa a situação das favelas no
Rio e em São Paulo.
No caso do Rio, o relatório faz
elogios ao programa "Favela Bairro", lançado nos anos 90, mas
aponta o excesso de burocracia, a
escassez de financiamento para
moradias e o pouco uso de tecnologias alternativas na construção
civil como empecilhos à melhoria
das condições de vida nas favelas.
Em São Paulo, diz o documento, a
proporção de favelados passou de
5,2%, em 1980, para 19,8% da população. No caso paulistano, a
ONU critica a falta de continuidade nos programas para as comunidades pobres, "frequentemente
paralisados por mudanças na administração pública e subsequentes viradas políticas".
Segundo a ONU, não há planejamento para acomodar o fluxo
migratório para as cidades, abrindo espaço para a criminalidade.
Em 2001, do total de favelados,
60%, ou 554 milhões, viviam na
Ásia, 187 milhões (20%) estavam
na África e 128 milhões (14%) na
América Latina. Na Europa e em
outros países desenvolvidos, havia 54 milhões -ou 6%.
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