São Paulo, quinta-feira, 07 de outubro de 2004

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IRAQUE SOB TUTELA

Relatório americano conclui que o Iraque não tinha arsenal de destruição em massa quando foi invadido

Saddam não possuía armas proibidas

Jim MacMillan/Associated Press
Soldado americano faz patrulha no centro de Samarra, enquanto iraquianos observam o local


LUCIANA COELHO
DE NOVA YORK

Um relatório de mais de mil páginas apresentado ontem ao Senado americano pôs por terra o principal argumento para a Guerra do Iraque ao concluir que o país não tinha armas de destruição em massa quando foi invadido pelos EUA, em março de 2003.
Além disso, o autor do texto e chefe dos 1.400 inspetores de armas dos EUA que passaram mais de 16 meses buscando o suposto arsenal iraquiano, Charles Duelfer, afirmou não ter expectativa de que vestígios de armas proibidas ainda sejam encontrados.
A conclusão de Duelfer bate de frente com o que o governo de George W. Bush alegou ao defender a guerra, num momento em que os democratas o criticam sobre o Iraque.
Nos meses que precederam a invasão e mesmo após a ocupação, o governo americano afirmava que o ex-ditador Saddam Hussein representava uma ameaça porque tinha armas químicas e biológicas e buscava desenvolver um arsenal nuclear. Duelfer disse ao Comitê de Serviços Armados do Senado o oposto: não há indício de que Saddam tenha mantido seu arsenal após a imposição de sanções pela ONU, em 1991, e estas minaram seus recursos para produzir armas proibidas.
Apesar do relatório, Bush continuou defendendo a decisão de ir à guerra, em discurso na Pensilvânia. O discurso originalmente tratava de saúde, mas seu foco foi mudado depois do vazamento do relatório e de declarações controversas de autoridades (o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, admitiu não haver prova da ligação entre o ex-ditador iraquiano Saddam Hussein e a Al Qaeda; e Paul Bremer, ex-administrador dos EUA no Iraque, fez uma série de críticas à estratégia americana).
Maior aliado de Bush na Guerra do Iraque, o premiê britânico, Tony Blair, foi mais condescendente com os críticos. "Assim como eu tenho de aceitar que as provas são de que não havia arsenais prontos para o uso, espero que outros aceitem que o relatório também mostra que as sanções não estavam funcionando", disse Blair. "Saddam tinha toda a intenção de retomar os programas e as armas de destruição em massa."
Apesar de concluir que não havia arsenal, Duelfer afirmou que Saddam tentava recriá-lo.
Segundo o texto, entrevistas com o ex-ditador e seus assessores indicam que o Iraque tentava reverter as sanções, por meio de financiamento ilegal, para partir para a produção de armas. Seus recursos, porém, eram escassos.
De acordo com o inspetor, Saddam fez progressos em burlar as sanções até 11 de setembro de 2001. Mas, após os atentados da Al Qaeda contra os EUA, suas tentativas foram frustradas.
As conclusões vão na mesma direção do que afirmara o antecessor de Duelfer na chefia das inspeções, David Kay. "Erramos em quase tudo", dissera Kay ao comentar um relatório preliminar em janeiro, quando Duelfer assumiu. Na época, o governo afirmou que só faria comentários após a conclusão das buscas.
Ontem, o porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan, citou o ditador como "uma ameaça crescente". Mas, em vez de repetir que o Iraque possuía um arsenal, ele admitiu que "era uma questão de tempo para que ele começasse a buscar as armas de destruição em massa".
No mesmo dia, o Senado aprovou uma reforma das agências de inteligência federais que, entre outras coisas, cria o posto de diretor nacional de inteligência. A medida foi recomendada pela comissão que analisou falhas sistêmicas no 11 de Setembro.


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