São Paulo, quarta, 7 de outubro de 1998

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EXTREMA DIREITA
Líder da Frente Nacional pode ser julgado por chamar câmaras de gás de "mero detalhe" da Segunda Guerra
Holocausto faz Le Pen perder imunidade

Reuters
O líder da extrema direita francesa, Le Pen, na sessão de ontem do Parlamento europeu


MARIANA SGARIONI
de Paris

A imunidade parlamentar do deputado Jean-Marie Le Pen, presidente do partido de extrema direita francês Frente Nacional (FN), foi suspensa ontem pelo Parlamento Europeu, em Estrasburgo, na França.
A suspensão da imunidade de Le Pen possibilitará que ele seja submetido a julgamento pela Justiça alemã por ter declarado que as câmaras de gás, usadas pelos nazistas para matar prisioneiros nos campos de concentração, foram "um detalhe na história da Segunda Guerra Mundial".
A polêmica declaração foi feita durante uma entrevista coletiva, em Munique (Alemanha), quando o deputado foi convidado para o lançamento de sua biografia, intitulada "Le Pen, o Rebelde".
A banalização ou a negação do Holocausto são crimes na Alemanha, passíveis de uma pena máxima de cinco anos de prisão.
O procurador alemão Helmut Meyer-Staude havia acionado o Parlamento Europeu em abril passado, manifestando o interesse de processar Le Pen pelas declarações de Munique.
Ontem, 420 deputados do Parlamento votaram a favor da suspensão da imunidade do presidente da Frente Nacional. Apenas 20 votaram contra. Seis se abstiveram.
"Nós não podemos permitir que Jean-Marie Le Pen continue no exercício de suas funções", afirmou o relatório da comissão do Parlamento que pediu a cassação da imunidade do deputado.
Anteontem, a maioria dos deputados do Parlamento já tinha se manifestado a favor da suspensão da imunidade de Le Pen. "O que ele disse é passível de punição de acordo com as leis da Alemanha. Ele está se beneficiando do período mais negro de nossa história", afirmou o deputado socialista alemão Willi Rothley.
Para o liberal francês Jean-Thomas Nordmann, Le Pen tenta "minimizar o crime mais medonho do século 20". Já para Gianfranco De L'Alba (Itália), "a suspensão da imunidade não é a melhor forma de lutar contra as teses de Le Pen".
O líder extremista, que estava presente no Parlamento durante a votação, afirmou que estava tendo seu direito à liberdade de expressão censurado.
"Sei que há milhões de pessoas que estão presas na Alemanha por ter expressado sua opinião, mas não posso dividir o mesmo espaço com elas porque tenho garantias diplomáticas", disse. Segundo o deputado, o procurador Meyer-Staude mentiu.
"Não há nada de menosprezo ou banalização em minhas propostas. Tenho garantias diplomáticas concedidas por um tribunal e não por um procurador."
O assessor de imprensa da Frente Nacional, Bruno Gollnisch, afirmou que a suspensão da imunidade parlamentar de Le Pen não vai impedir o deputado de continuar dizendo o que pensa.
"Essa decisão político-judiciária contra o homem mais atacado da política européia fará com que nós protestemos cada vez mais alto contra a ditadura do pensamento único". afirmou ele.



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