São Paulo, domingo, 07 de novembro de 2010

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O IMPÉRIO VOTA

Marca Tea Party já atrai 600 grupelhos

Movimento ultraconservador dos EUA, fenômeno da eleição da semana passada, ainda esbarra na dispersão

Ao contrário da imagem barulhenta, apatia afeta muitos que dizem ser do movimento; 70% não fizeram campanha

Michael Reynolds - 5.nov.2010/Efe
Simpatizantes do movimento ultraconservador seguram cartazes que dão suporte ao Tea Party, em Washington

ANDREA MURTA
DE WASHINGTON

Grande novidade das eleições nos EUA em 2010, o movimento ultraconservador Tea Party já tem contabilizados mais de 600 grupos.
Mas seus ativistas são menos organizados e politicamente ativos do que se poderia supor pelo barulho que causam.
A influência política real do Tea Party ainda é uma incógnita. Há diferentes estimativas sobre quantos candidatos apoiados por alguma parte do movimento foram alçados ao Congresso na última terça, que vão de algumas dezenas a mais de 120, de acordo com a fonte.
É fato que eles foram fator decisivo na hora do voto pró-republicanos. Agruparam parte do eleitorado irritado com a Casa Branca.
Pelo menos quatro grandes nomes estão no Senado, e vários candidatos identificados com o Tea Party se tornaram uma nova "casta" de estrelas republicanas.
Mas o que se chama de "movimento" na maior parte das vezes não passa de bandos dispersos de grupos com conexões no máximo vagas entre si e que não se engajam tanto no processo eleitoral.
Uma extensa pesquisa do "Washington Post" revela que 70% dos grupos populares que dizem pertencer ao Tea Party não participaram de nenhuma campanha.
Como um todo, não há candidatos "oficiais", nem líderes nacionais. O que há é ambivalência em torno de objetivos.
As narrativas parecem um pouco infladas. O grupo Tea Party Patriots, baseado em Atlanta, diz por exemplo ter listadas 2.300 supostas organizações. O "Post" afirma ter identificado 1.400, mas só conseguiu falar com 647.
Todos esses responderam a um questionário apresentado pelo jornal, e o resultado foi discordância entre quais temas devem ser prioridades.
As respostas mais comuns foram sobre corte de gastos e governo menor.
Outros temas do movimento são oposição ao aborto, ao casamento gay e à restrição no uso de armas.

POTENCIAL
Mas os resultados mostram vasto potencial inexplorado. Não se sabe o que pode acontecer nas eleições de 2012, quando o presidente Barack Obama deve disputar a reeleição, se os 70% que não participaram das campanhas deste ano decidirem se engajar mais.
Cerca de 86% dos líderes locais afirmaram que a maior parte de seus membros são novos na política, o que sugere que podem se tornar ativistas de raiz ferozes.
Por enquanto, os maiores sucessos do Tea Party chegaram pelas mãos de pequeno número de organizações nacionais com amplo financiamento, longe de ações espontâneas que povoam o imaginário do movimento.
Exemplo disso é que os dois únicos grupos que oficialmente endossaram candidatos a postos no Congresso (Freedom Works e Tea Party Express) são chefiados por antigos conhecidos da velha guarda republicana.
O primeiro foi fundado por Dick Armey, um dos artífices da chamada Revolução Republicana de 94, quando o partido conquistou maioria no Congresso após quatro décadas de domínio democrata. Armey foi líder da Câmara de 1995 a 2003.
O segundo é obra de Howard Kaloogian, ex-legislador na Califórnia.
Mesmo com essa relação umbilical com republicanos, a visibilidade do movimento incomoda integrantes "moderados" do partido, para quem é possível estabelecer um diálogo pragmático e centrado em alguns pontos com Obama.
Em 2012, temem que um candidato presidencial do Tea Party seja rejeitado por eleitores independentes.


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