São Paulo, segunda-feira, 07 de novembro de 2011

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Pianista brasileiro foi assassinado por ditadura argentina

DE BUENOS AIRES

"Vou sair pra comprar cigarros e um remédio. Volto logo."
Depois de deixar esse bilhete aos parceiros Vinicius de Moraes e Toquinho, com quem fazia uma temporada de shows, o pianista Francisco Tenório Jr. deixou o hotel Normandie, em Buenos Aires, e nunca mais reapareceu.
O músico foi confundido com um guerrilheiro de esquerda e levado por repressores para um centro de detenção.
A Argentina estava às vésperas de um golpe militar que imporia uma ditadura no país -o sequestro ocorreu no dia 18 de março de 1976, os militares tomaram o poder no dia 24.
Segundo um oficial da Marinha que diz ter sido testemunha do ocorrido, quando se deram conta do equívoco, era tarde demais. Tenório estava muito machucado e teria visto o rosto de seus algozes. Foi então assassinado. Tinha 35 anos.

DEDICATÓRIA
No próximo dia 16, a legislatura da cidade de Buenos Aires fará uma homenagem ao artista brasileiro, dedicando a ele uma placa, que será colocada na frente do hotel.
Na avaliação do escritor e colunista da Folha Ruy Castro, a história da música popular brasileira poderia ter sido outra e mais variada se Tenório não tivesse morrido naquela noite.
Além da homenagem na capital argentina, Tenório está sendo celebrado por meio de um documentário do cineasta espanhol Fernando Trueba ("El Embrujo de Shangai"), em fase de edição.
A filha mais velha de Tenório, Elisa Cerqueira, conta que foram encontrados arquivos inéditos do músico, que serão editados junto com o filme.
"Ele ficaria muito feliz de saber dessas homenagens. É uma pena, porém, o fato de que eu, meus irmãos e minha mãe não tenhamos ficado sabendo nunca o que aconteceu de verdade com ele", diz Elisa.
Elisa conta que, até 1986, os familiares ainda acreditavam que ele pudesse estar apenas desaparecido e que um dia "poderia tocar a campainha da porta".
Quando surgiu a versão do oficial da Marinha, porém, eles perderam as esperanças. A homenagem portenha é mais um acontecimento na série de reparações que a Argentina tem feito com relação aos crimes cometidos pelo Estado durante a ditadura.
A família do músico já havia sido indenizada pelo governo local. (SYLVIA COLOMBO)


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