São Paulo, Terça-feira, 07 de Dezembro de 1999


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Próximo Texto | Índice

TCHETCHÊNIA
Tropas russas espalham panfleto pedindo retirada e ameaçando aniquilar quem permanecer na cidade
Rússia dá ultimato a civis de Grozni

Associated Press
Soldados russos disparam contra posições tchetchenas perto de Achkoi, a sudoeste de Grozni


das agências internacionais

O comando das forças russas na Tchetchênia deu um ultimato ontem à população civil da capital Grozni. Os militares russos espalharam folhetos pedindo que todos os civis abandonem a cidade em um prazo de cinco dias.
Segundo o comunicado, depois desse prazo todos que ficarem em Grozni serão considerados "terroristas e bandidos", que serão "destruídos" por ataques da artilharia e da Força Aérea russas.
"Vocês estão cercados. Todas as estradas ao redor de Grozni estão bloqueadas. Até 11 de dezembro estará aberto um corredor para a saída. Todos que não deixarem a cidade serão destruídos. Não haverá mais negociações", diz o panfleto.
A ofensiva russa na Tchetchênia começou no final de setembro. A região, que formalmente é território russo, desfrutava de autonomia desde a guerra de independência com a Rússia (1994-96), que deixou 40 mil mortos.
O governo russo acusa a Tchetchênia (de maioria muçulmana) de abrigar grupos rebeldes islâmicos, suspeitos de atentados terroristas que deixaram quase 300 mortos na Rússia, entre agosto e setembro. Moscou acusa ainda os extremistas de apoiarem um movimento separatista na vizinha região do Daguestão.
O presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, condenou o ultimato. Em uma das mais fortes críticas à ofensiva russa até o momento, ele afirmou que a Rússia "pagará caro" por suas ações na Tchetchênia, dizendo que as medidas adotadas só reforçarão o extremismo e mancharão a imagem internacional do país.
"Esse ultimato significa que há uma ameaça às vidas dos idosos, dos doentes, dos feridos e de outros inocentes que não podem ou estão muito assustados para deixarem suas casas. Eu estou profundamente perturbado com informações que indicam que civis inocentes vão continuar recebendo a violência maior desta guerra, e não os militantes que a Rússia combate", afirmou o presidente dos EUA.
O primeiro-ministro inglês, Tony Blair, por meio de um porta-voz, disse que "o mundo está olhando o que a Rússia está fazendo". Blair se manifestou "profundamente preocupado" com o ultimato, que, em sua opinião, aumentará o número de vítimas civis no conflito.
Os folhetos assustaram ainda mais os civis em Grozni e provocaram um novo movimento de fuga da cidade. Os russos estimam que até 40 mil civis ainda estão na cidade. Segundo os tchetchenos, o número de civis está entre 50 mil e 80 mil.
Moradores que estavam deixando Grozni ontem por uma estrada na parte oeste da cidade declararam que muitos idosos, principalmente, não pretendem sair. Disseram não ter condições físicas de aguentar uma extensa caminhada nem dinheiro para pagar os ônibus e táxis que ainda circulam.


Próximo Texto: Ieltsin tem alta e vai à China
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.