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São Paulo, domingo, 07 de dezembro de 2003

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ITÁLIA

Líderes sindicais e oposicionistas querem impedir reformas no sistema de aposentadoria, que hoje consome 15% do PIB

Mais de 1 mi protestam contra Berlusconi

DA REDAÇÃO

Uma manifestação contra a reforma da Previdência, proposta pelo governo de centro-direita do premiê Silvio Berlusconi, reuniu mais de um milhão de pessoas ontem, em Roma.
Os três principais sindicatos do país lideraram a marcha que convergiu para a Piazza San Giovanni, uma das maiores praças da capital italiana, para ouvir discursos dos líderes trabalhistas.
Junto com líderes de oposição dos principais partidos de centro-esquerda e de esquerda, os manifestantes apitaram, cantaram canções trabalhistas tradicionais e carregaram faixas em que se lia: "Vamos defender o futuro".
Os manifestantes, de todas as regiões do país, utilizaram cerca de 3.000 ônibus e 40 trens para chegar a Roma. "Acredito que esse seja apenas o primeiro passo para o governo tentar tirar nossas pensões quando formos velhos", disse um deles.
A Itália, que ocupa atualmente a presidência da União Européia (UE), possui uma população de cerca de 57 milhões de pessoas, das quais mais de 7 milhões são pensionistas. Qualquer mudança no sistema de aposentadoria provoca conflitos entre os sindicatos e as empresas.
A primeira reforma da Previdência foi feita em 1995, durante o governo de Lamberto Dini. Em 1994, Berlusconi, então em seu primeiro mandato, tentou realizar outra reforma, mas foi impedido por uma manifestação histórica convocada pelos sindicatos e por divisões em sua coalizão governamental.
A atual mudança proposta pelo governo poderá impedir que as pessoas se aposentem antes de completar 40 anos de contribuição ou de alcançar uma idade mínima -65 anos para os homens e 60 para as mulheres. Atualmente, os italianos podem se aposentar a partir dos 57 anos se tiverem contribuído por 35 anos.
Como a França e a Alemanha, a Itália está tentando reformar seu sistema de aposentadoria, que consome cerca de 15% do PIB (total de riquezas produzidas no país). É um dos mais altos percentuais da UE e tende a crescer com a queda da taxa de natalidade e o aumento da expectativa de vida. Os sindicatos argumentam, porém, que a reforma de 1995 é suficiente para prevenir uma crise.
O governo, cujo projeto de reforma é apoiado pelos empresários, também está oferecendo incentivos para que as pessoas continuem trabalhando ao atingir a idade de se aposentar.
"Ele [Berlusconi] precisa ouvir o povo", disse, durante a manifestação, Guglielmo Epifani, presidente da maior central sindical italiana, a CGIL. "Há uma grande maioria no mundo do trabalho, a nação em geral, que quer mudanças, mas não mudanças políticas que apenas ajudam alguns poucos e colocam os jovens, os trabalhadores, a classe média e os idosos em desvantagem", afirmou.
Anteontem, o ministro do Trabalho, Roberto Maroni, pediu aos sindicatos que apresentassem "propostas alternativas" antes de 11 de dezembro, mas os líderes sindicais negaram-se a colaborar, alegando que a política econômica do governo é "inaceitável".
Na manifestação de ontem, também houve protestos contra o Orçamento do governo para 2004. Para a oposição e os líderes sindicais, cortes propostos pelo governo vão prejudicar a maioria das pessoas. "Minha mensagem para Berlusconi é que ele deve sair porque não merece o governo. Ele não sabe como fazer as coisas certas para o povo italiano", disse um manifestante idoso.


Com agências internacionais



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