UOL


São Paulo, domingo, 07 de dezembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELEIÇÃO RUSSA

Apesar do desempenho, país depende demais do petróleo, e empresas são sufocadas pela burocracia e a corrupção

Economia cresce e vira trunfo de Putin

MARIE JÉGO
DO ""LE MONDE"

Cinco anos após a gigantesca crise financeira, a Rússia parece nunca ter estado tão bem, o que é um dos principais trunfos do presidente Vladimir Putin na eleição de hoje. Pela primeira vez em sua história, o país apresenta taxa de crescimento positiva (6,6%), uma moeda estável, inflação sob controle, superávit de conta corrente e uma reserva de divisas confortável. Por outro lado, embora o fluxo de investimentos externos tenha sido maior em 2003 do que no passado, os capitais que entram ainda são insuficientes e se concentram no setor petrolífero.
O crescimento russo é frágil. Economicamente, o país continua dependente de um fator que não controla: o preço do barril de petróleo. Enquanto o petróleo iraquiano não voltar ao mercado e a Opep continuar a frear a produção, o preço do barril deve permanecer elevado. Mas o que acontecerá se o preço do petróleo cair?
Os números de desempenho da economia russa não devem ocultar o fato de que 12 grandes grupos produzem, sozinhos, 70% do PIB. As pequenas e médias empresas têm dificuldade em se desenvolver num ambiente caracterizado pelo desprezo pela lei, por decisões administrativas arbitrárias e pela corrupção.
""A burocracia consolidou consideravelmente suas posições, comparada ao período soviético", explica o sociólogo Igor Kliamkine. ""Pode-se afirmar que ela se tornou a jogadora mais poderosa nos mercados ilegais e corruptos. A função pública se transformou numa espécie de negócio privado. Os empresários são forçados a "comprar" seus direitos constitucionais dos burocratas."
O projeto político da ""ditadura da lei", que vem sendo comentado sem parar desde a chegada de Vladimir Putin ao Kremlin, em 2000, é elogiado pelas Chancelarias ocidentais, para as quais é sinal de uma retomada de controle bem-vinda. Em lugar do capitalismo selvagem e corrupto da Presidência de Ieltsin, a Rússia de Putin estaria navegando em direção à ordem e à prosperidade.
Apesar disso, 40 milhões de russos -ou seja, 25% da população total- continuam a viver abaixo do limite de pobreza (fixado pelo Banco Mundial em menos de um dólar por dia por pessoa).
Desaparecimento da imprensa livre, Judiciário tutelado, chegada aos cargos de comando de quadros da FSB (a antiga KGB) e do Exército, tudo isso debilita o frágil espaço democrático instalado após o fim da União Soviética.
Em 1999, a campanha para a eleição presidencial de março de 2000 foi colocada sob o signo da ""caça aos tchetchenos", que Vladimir Putin prometia ""liquidar até nos banheiros". Agora, as eleições terão como pano de fundo a ""caça aos oligarcas" -megaempresários acusados de sonegação, que financiam partidos de oposição. É sucesso garantido.


Tradução de Clara Allain


Texto Anterior: Eleição russa: Rússia vai às urnas para fortalecer Putin
Próximo Texto: Pós-URSS: Democracia fracassa no espaço soviético
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.