São Paulo, terça-feira, 07 de dezembro de 2010

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Após Brasil, Argentina reconhece Palestina

Governo Kirchner pede Estado em áreas ocupadas por Israel em 67

Porta-voz do chanceler israelense põe culpa do anúncio na influência do governo brasileiro sobre o país vizinho

GUSTAVO HENNEMANN
DE BUENOS AIRES
MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

A Argentina anunciou ontem o reconhecimento da Palestina como "um Estado livre e independente", demarcado pelas fronteiras de 1967, ano em que Israel ocupou a faixa de Gaza e a Cisjordânia.
A decisão veio três dias depois de o Brasil ter feito um anúncio igual atendendo à ANP (Autoridade Nacional Palestina).
"A Argentina tradicionalmente vem defendendo o direito do povo palestino de constituir um Estado independente, assim como o direito do Estado de Israel de viver em paz junto a seus vizinhos", diz o comunicado lido pelo chanceler argentino, Héctor Timerman, que tem origem judaica.
Desde 1996, a ANP mantém relações diplomáticas com a Argentina e, há um ano, o presidente da organização, Mahmoud Abbas, visitou a presidente argentina, Cristina Kirchner.
Em relação a Israel, Timerman disse que a relação bilateral deve continuar "se fortalecendo", e que a Argentina seguirá defendendo o reconhecimento do Estado judaico por todos os países.
Para Israel, a decisão da Argentina mostra que o Brasil usa de forma equivocada sua influência internacional sobre os vizinhos.
"O Brasil é, sem dúvida, uma voz ouvida hoje no mundo", disse à Folha o porta-voz da Chancelaria israelense, Yigal Palmor. "Infelizmente, o presidente Lula usa o seu peso internacional de forma equivocada. Deveria incentivar as negociações, não ações unilaterais. Declarações não avançam em nem um centímetro a causa palestina", declarou.
O diplomata disse que causou mal-estar a forma com que o Brasil anunciou o reconhecimento, quase no fim do mandato de Lula. "Foi desrespeitoso. Não pareceu parte de uma política pensada, mas algo feito de última hora", afirmou.
Entre os dirigentes palestinos, o anúncio argentino foi recebido como demonstração de que sua campanha diplomática está dando frutos.
A expectativa da ANP é que Uruguai e Equador sejam os próximos a seguir o exemplo do Brasil.
Para o analista internacional Carlos Escudé, a decisão argentina resulta não só da articulação com o Brasil mas também da necessidade de responder a setores governistas antiamericanos.
As relações da Argentina com Israel tiveram um forte revés após o atentado terrorista contra a Associação Israelita Argentina, em 1994, que deixou 86 mortos. Desde o governo de Néstor Kirchner, no entanto, as investigações sobre o ataque avançaram e houve uma reaproximação.


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