São Paulo, quinta, 8 de janeiro de 1998.




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MARCAS DO PASSADO
Escola de Mecânica da Marinha, em Buenos Aires, serviu como centro de repressão na ditadura
Argentina vai demolir centro de tortura

LÉO GERCHMANN
de Buenos Aires

O prédio da Esma (Escola de Mecânica da Marinha), um dos principais símbolos da ditadura militar argentina e da repressão implantada na América Latina nos anos 70 e início dos 80, será demolido, provavelmente até 99.
O anúncio foi feito oficialmente ontem pelo presidente Carlos Menem, sob a alegação de que "os futuros oficiais da Marinha estarão mais próximos do local (o rio da Prata, em Puerto Belgrano)" onde desempenharão suas atividades.
Menem disse que "será construído (no terreno onde hoje funciona a Esma, em Buenos Aires) um espaço verde com um símbolo da unidade nacional", o que, segundo ele, demonstra "a vontade de conciliação dos argentinos".
Assessores da Presidência disseram à Folha que o governo vê o prédio da Esma como "um emblema da ditadura militar" e que a sua destruição tem objetivos relacionados aos direitos humanos e àquilo que Menem define como a "pacificação nacional".
Em nome dessa "pacificação", o presidente argentino já promoveu indultos de oficiais vinculados ao regime militar. No final do ano passado, chegou a ser cogitada a realização de novos indultos, o que resultou em protestos e acabou não se confirmando. A intenção foi de fazer um teste com a opinião pública.
Durante a ditadura (1976-1983) e a "guerra suja" contra militantes de esquerda, mais de 30 mil pessoas desapareceram na Argentina. No prédio da Esma, segundo relatos, havia uma espécie de campo de concentração.
Menem tem se aproximado dos militares. Em recente entrevista à Folha, o tenente-coronel Aldo Rico, hoje prefeito de San Miguel, admitiu que ele e seus companheiros de partido (o Modin) estudam a possibilidade de entrar para o governista PJ (Partido Justicialista).
A fixação da data para o começo da demolição depende da liberação de dinheiro por parte do Ministério da Economia.
Pentágono argentino
A nova sede da Esma será instalada na Cidade Militar a ser construída pelo governo. Os custos para as novas instalações serão de US$ 396 milhões em 12 anos.
Haverá, para a construção do complexo no município de Bahía Blanca (ao sul da capital federal e dentro da Província de Buenos Aires), a realização de uma licitação internacional. A previsão é de que a construção dure dois anos.
A Cidade Militar argentina terá uma estrutura similar à do Pentágono norte-americano, inclusive em termos tecnológicos.
O seu anúncio causou manifestações de rejeição por assegurar, geograficamente, o estabelecimento de uma unidade militar tida por muitos como perigosa.
Além disso, houve algumas críticas à destruição de um prédio que registra um período histórico. Segundo alguns, o melhor seria não esquecê-lo, a fim de que os fatos não se repitam.



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