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ORIENTE MÉDIO
Israel prende oponente de Abbas na cidade, ampliando acusações de que está restringindo a campanha eleitoral
Abbas promete Jerusalém aos palestinos
FÁBIO ZANINI
ENVIADO ESPECIAL A JERUSALÉM
O favorito para vencer a eleição
presidencial palestina amanhã,
Mahmoud Abbas, 69, encerrou
sua campanha ontem desafiando
as autoridades israelenses, ao dizer que um dia os palestinos retornariam a Jerusalém como "um
povo livre, em milhões".
Abbas decidiu fazer seu último
ato antes da eleição nos arredores
de Jerusalém, cidade sagrada disputada por palestinos e israelenses como capital. O plano inicial
era rezar na mesquita de Al Aqsa,
dentro da Cidade Velha, local sagrado para os muçulmanos, mas
ele teve de desistir da idéia.
"Hoje nós não fomos a Jerusalém, mas amanhã estaremos em
Jerusalém, porque é a capital eterna do povo palestino. Os muros e
assentamentos israelenses não
nos impedirão de alcançá-la", disse a uma multidão que aplaudia.
Extra-oficialmente, assessores
disseram que havia o risco de um
atentado e que, por isso, a visita
teria de ser feita com a proteção
de um grande contingente de soldados israelenses, imagem que
Abbas preferiu evitar tão próximo
da eleição.
Ele optou por fazer um comício
em Bir Nabala, nas cercanias de
Jerusalém, perto de onde passa
uma das seções do muro que Israel constrói para se proteger de
ataques terroristas.
O segundo colocado nas pesquisas, o ativista de direitos humanos Mustafa Barghouti, também enfrentou problemas ontem
no encerramento de sua campanha em Jerusalém. Barghouti, que
igualmente queria rezar em Al
Aqsa, acabou sendo detido por
policiais israelenses na entrada da
Cidade Velha, por não ter uma
autorização especial para fazer
campanha no local.
Foi a segunda vez que isso ocorreu com ele na campanha. O candidato foi levado pelos policiais
até a Cisjordânia, onde foi solto.
"Estou vindo aqui rezar na mesquita e agora você está me prendendo, prendendo um candidato
presidencial com permissão para
estar em Jerusalém", afirmou
Barghouti ao ser detido.
O governo israelense reagiu ao
comentário. "O objetivo óbvio
dele era criar um tumulto público
que serviria a sua campanha eleitoral abusando da boa vontade do
governo de Israel", disse um porta-voz do Ministério das Relações
Exteriores.
Segundo Israel, Barghouti abusou da autorização que tinha para
estar em Jerusalém -ele se encontraria com o ex-presidente
americano Jimmy Carter.
Deslocamento
Os incidentes envolvendo os
dois principais candidatos devem
intensificar a insegurança de palestinos de Jerusalém quanto à
possibilidade de participarem da
eleição.
A Autoridade Palestina acusa o
governo de Israel de criar dificuldades propositalmente, para que
o comparecimento às urnas seja
pequeno e o candidato eleito tenha baixa legitimidade.
Há 120 mil potenciais eleitores,
localizados na parte oriental da cidade, que foi ocupada por Israel
em 1967. Haverá seis locais de votação na cidade, funcionando em
agências do correio, mas os que
não conseguirem terão a opção de
votar na Cisjordânia.
Para isso, no entanto, Israel terá
de liberar a passagem em suas
barreiras erguidas nos territórios
ocupados, o que prometia fazer
até a meia noite de ontem (20h no
horário de Brasília). A liberação
dura até segunda-feira, um dia
após a eleição.
Em tese, palestinos que atualmente precisam fazer fila para
atravessar barreiras, mostrando
seus documentos, terão seus acessos liberados para ir votar. Mas algumas barreiras em locais mais
violentos, como em Gaza, devem
ser mantidas.
Israel afirma que está dando total liberdade de movimento para
os candidatos fazerem campanha
e que a breve prisão ontem de
Barghouti foi uma exceção, porque ele estaria desrespeitando um
acordo dos candidatos de não fazer campanha em locais sagrados
da Cidade Velha.
Em algumas áreas sob administração palestina, a segurança das
eleições será feita por policiais armados, segundo acordo firmado
com o Exército israelense.
Ataque palestino
Atiradores palestinos abriram
fogo contra um grupo de soldados israelenses na Cisjordânia,
matando um e ferindo três, um
dia depois que os líderes de grupos hostis a Israel disseram a Abbas que estavam prontos para negociar um cessar-fogo.
O ataque, realizado por atiradores das Brigadas dos Mártires de
Al Aqsa -grupo terrorista ligado
ao Fatah, facção de Abbas-, lança dúvidas sobre a capacidade de
Abbas de prevenir a violência dos
extremistas, principal exigência
dos israelenses para dialogar.
Com agências internacionais
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