São Paulo, sábado, 08 de janeiro de 2005

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ORIENTE MÉDIO

Israel prende oponente de Abbas na cidade, ampliando acusações de que está restringindo a campanha eleitoral

Abbas promete Jerusalém aos palestinos

FÁBIO ZANINI
ENVIADO ESPECIAL A JERUSALÉM

O favorito para vencer a eleição presidencial palestina amanhã, Mahmoud Abbas, 69, encerrou sua campanha ontem desafiando as autoridades israelenses, ao dizer que um dia os palestinos retornariam a Jerusalém como "um povo livre, em milhões".
Abbas decidiu fazer seu último ato antes da eleição nos arredores de Jerusalém, cidade sagrada disputada por palestinos e israelenses como capital. O plano inicial era rezar na mesquita de Al Aqsa, dentro da Cidade Velha, local sagrado para os muçulmanos, mas ele teve de desistir da idéia.
"Hoje nós não fomos a Jerusalém, mas amanhã estaremos em Jerusalém, porque é a capital eterna do povo palestino. Os muros e assentamentos israelenses não nos impedirão de alcançá-la", disse a uma multidão que aplaudia.
Extra-oficialmente, assessores disseram que havia o risco de um atentado e que, por isso, a visita teria de ser feita com a proteção de um grande contingente de soldados israelenses, imagem que Abbas preferiu evitar tão próximo da eleição.
Ele optou por fazer um comício em Bir Nabala, nas cercanias de Jerusalém, perto de onde passa uma das seções do muro que Israel constrói para se proteger de ataques terroristas.
O segundo colocado nas pesquisas, o ativista de direitos humanos Mustafa Barghouti, também enfrentou problemas ontem no encerramento de sua campanha em Jerusalém. Barghouti, que igualmente queria rezar em Al Aqsa, acabou sendo detido por policiais israelenses na entrada da Cidade Velha, por não ter uma autorização especial para fazer campanha no local.
Foi a segunda vez que isso ocorreu com ele na campanha. O candidato foi levado pelos policiais até a Cisjordânia, onde foi solto.
"Estou vindo aqui rezar na mesquita e agora você está me prendendo, prendendo um candidato presidencial com permissão para estar em Jerusalém", afirmou Barghouti ao ser detido.
O governo israelense reagiu ao comentário. "O objetivo óbvio dele era criar um tumulto público que serviria a sua campanha eleitoral abusando da boa vontade do governo de Israel", disse um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores.
Segundo Israel, Barghouti abusou da autorização que tinha para estar em Jerusalém -ele se encontraria com o ex-presidente americano Jimmy Carter.

Deslocamento
Os incidentes envolvendo os dois principais candidatos devem intensificar a insegurança de palestinos de Jerusalém quanto à possibilidade de participarem da eleição.
A Autoridade Palestina acusa o governo de Israel de criar dificuldades propositalmente, para que o comparecimento às urnas seja pequeno e o candidato eleito tenha baixa legitimidade.
Há 120 mil potenciais eleitores, localizados na parte oriental da cidade, que foi ocupada por Israel em 1967. Haverá seis locais de votação na cidade, funcionando em agências do correio, mas os que não conseguirem terão a opção de votar na Cisjordânia.
Para isso, no entanto, Israel terá de liberar a passagem em suas barreiras erguidas nos territórios ocupados, o que prometia fazer até a meia noite de ontem (20h no horário de Brasília). A liberação dura até segunda-feira, um dia após a eleição.
Em tese, palestinos que atualmente precisam fazer fila para atravessar barreiras, mostrando seus documentos, terão seus acessos liberados para ir votar. Mas algumas barreiras em locais mais violentos, como em Gaza, devem ser mantidas.
Israel afirma que está dando total liberdade de movimento para os candidatos fazerem campanha e que a breve prisão ontem de Barghouti foi uma exceção, porque ele estaria desrespeitando um acordo dos candidatos de não fazer campanha em locais sagrados da Cidade Velha.
Em algumas áreas sob administração palestina, a segurança das eleições será feita por policiais armados, segundo acordo firmado com o Exército israelense.

Ataque palestino
Atiradores palestinos abriram fogo contra um grupo de soldados israelenses na Cisjordânia, matando um e ferindo três, um dia depois que os líderes de grupos hostis a Israel disseram a Abbas que estavam prontos para negociar um cessar-fogo.
O ataque, realizado por atiradores das Brigadas dos Mártires de Al Aqsa -grupo terrorista ligado ao Fatah, facção de Abbas-, lança dúvidas sobre a capacidade de Abbas de prevenir a violência dos extremistas, principal exigência dos israelenses para dialogar.


Com agências internacionais


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