São Paulo, sábado, 08 de janeiro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Jihad diz que aceita trégua se Abbas pedir

DO ENVIADO ESPECIAL A JERUSALÉM

O Jihad Islâmico, um dos principais grupos terroristas palestinos, acena com uma trégua momentânea caso o futuro presidente -provavelmente Mahmoud Abbas- faça o pedido. Mas avisa: a opção pela resistência armada à ocupação israelense, que inclui ataques a soldados, colonos e civis dentro de Israel jamais será descartada.
Em entrevista à Folha, Khaled Al Batsh, um dos principais líderes do grupo, afirma que a possível trégua teria prazo de validade definido, que não seria muito grande.
"Estamos dispostos a tomar qualquer atitude que alivie o sofrimento do nosso povo. Se Mazen [nome pelo qual Abbas é conhecido entre os palestinos] vier até nós e disser que tem um outro caminho para acabar com a ocupação, vamos ver então qual é", afirma. "Mas trégua definitiva não, porque a luta armada é sempre uma opção que precisamos manter", ressalva.
Ele disse simpatizar com Abbas, mas afirmou ter discordâncias "estratégicas" com o favorito da eleição palestina.
O Jihad defende a criação de um Estado palestino islâmico e não reconhece o direito de Israel de existir, ao contrário do Fatah, facção de Abbas, partido secular e que aceita o Estado judeu. Junto com o Hamas, também de orientação fundamentalista islâmica, o Jihad defende o boicote das eleições de amanhã.
Batsh, cuja organização é perseguida pelo Exército israelense, falou à Folha por um celular, em um inglês arrastado. Disse apenas que estava na faixa de Gaza, sem entrar em detalhes sobre sua localização. Leia a seguir os principais trechos de sua entrevista.
 

Folha - Por que o Jihad boicota a eleição?
Khaled Al Batsh -
Somos contra a ocupação israelense, somos contra os acordos de Oslo [que criou a Autoridade Nacional Palestina]. Por coerência, somos contra a eleição, que deveria ser boicotada pelos palestinos.

Folha - Mahmoud Abbas defendeu o fim das ações contra alvos civis israelenses, dizendo que são contraproducentes. O sr. concorda com essa avaliação?
Batsh -
A ocupação israelense precisa terminar antes que qualquer operação armada termine. Quando os tanques de Israel saírem de nosso território poderemos falar sobre o fim dos ataques. Antes disso, não. O que Abu Mazen disse não faz sentido.

Folha - Se ele pedir um cessar-fogo para ajudar em uma negociação com Israel, vocês concordam?
Batsh -
Não gosto de falar em cessar-fogo. Cessar-fogo é para Estados, é para Exércitos, e os palestinos não têm um Estado ou um Exército. Podemos falar em trégua, se isso ajudar a população palestina.
Estamos dispostos a tomar qualquer atitude que alivie o sofrimento do nosso povo. Se Mazen vier até nós e disser que tem um outro caminho para acabar com a ocupação, vamos ver então qual é. Podemos esperar um pouco, podemos conversar, mas isso é para ser decidido depois.

Folha - Ele já pediu informalmente a vocês uma trégua?
Batsh
Isso eu não sei dizer.

Folha - Seria uma trégua por quanto tempo?
Batsh
- Não sei, é impossível dizer isso agora.

Folha - Mas seria por um longo tempo, poderia ser definitiva?
Batsh
- Definitiva não, porque a luta armada é sempre uma opção que precisamos manter.

Folha - Muitos palestinos dizem que a Intifada [revolta armada contra a ocupação, iniciada em setembro de 2000] fracassou em seus objetivos e que deveria ser encerrada. Vocês concordam?
Batsh
- A questão não é essa. É como evitar que a Intifada seja necessária em primeiro lugar. A Intifada pode muito bem ser suspensa agora, ou amanhã, mas o que mudaria? Ela inevitavelmente teria de retornar em algum ponto do futuro, se a ocupação não terminar.

Folha - Qual a opinião de vocês sobre Abbas?
Batsh
- É um bom homem, temos respeito por ele, é um nacionalista. Nossas discordâncias são estratégicas, ele tem de entender que a opção pela resistência armada é fundamental.

Folha - Há alguma chance de o Jihad Islâmica reconhecer o direito do Estado de Israel de existir no futuro?
Batsh
- O Estado sionista é agressivo, ocupa nossa terra, mata nossas crianças. Nós não podemos dar nenhum tipo de reconhecimento a isso.


Texto Anterior: Palestinos da cidade sagrada estão céticos
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.