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Jihad diz que aceita trégua se Abbas pedir
DO ENVIADO ESPECIAL A JERUSALÉM
O Jihad Islâmico, um dos principais grupos terroristas palestinos, acena com uma trégua momentânea caso o futuro presidente -provavelmente Mahmoud
Abbas- faça o pedido. Mas avisa: a opção pela resistência armada à ocupação israelense, que inclui ataques a soldados, colonos e
civis dentro de Israel jamais será
descartada.
Em entrevista à Folha, Khaled
Al Batsh, um dos principais líderes do grupo, afirma que a possível trégua teria prazo de validade
definido, que não seria muito
grande.
"Estamos dispostos a tomar
qualquer atitude que alivie o sofrimento do nosso povo. Se Mazen
[nome pelo qual Abbas é conhecido entre os palestinos] vier até
nós e disser que tem um outro caminho para acabar com a ocupação, vamos ver então qual é", afirma. "Mas trégua definitiva não,
porque a luta armada é sempre
uma opção que precisamos manter", ressalva.
Ele disse simpatizar com Abbas,
mas afirmou ter discordâncias
"estratégicas" com o favorito da
eleição palestina.
O Jihad defende a criação de um
Estado palestino islâmico e não
reconhece o direito de Israel de
existir, ao contrário do Fatah, facção de Abbas, partido secular e
que aceita o Estado judeu. Junto
com o Hamas, também de orientação fundamentalista islâmica, o
Jihad defende o boicote das eleições de amanhã.
Batsh, cuja organização é perseguida pelo Exército israelense, falou à Folha por um celular, em
um inglês arrastado. Disse apenas
que estava na faixa de Gaza, sem
entrar em detalhes sobre sua localização. Leia a seguir os principais
trechos de sua entrevista.
Folha - Por que o Jihad boicota a
eleição?
Khaled Al Batsh - Somos contra a
ocupação israelense, somos contra os acordos de Oslo [que criou
a Autoridade Nacional Palestina].
Por coerência, somos contra a
eleição, que deveria ser boicotada
pelos palestinos.
Folha - Mahmoud Abbas defendeu o fim das ações contra alvos civis israelenses, dizendo que são
contraproducentes. O sr. concorda
com essa avaliação?
Batsh - A ocupação israelense
precisa terminar antes que qualquer operação armada termine.
Quando os tanques de Israel saírem de nosso território poderemos falar sobre o fim dos ataques.
Antes disso, não. O que Abu Mazen disse não faz sentido.
Folha - Se ele pedir um cessar-fogo para ajudar em uma negociação
com Israel, vocês concordam?
Batsh - Não gosto de falar em
cessar-fogo. Cessar-fogo é para
Estados, é para Exércitos, e os palestinos não têm um Estado ou
um Exército. Podemos falar em
trégua, se isso ajudar a população
palestina.
Estamos dispostos a tomar
qualquer atitude que alivie o sofrimento do nosso povo. Se Mazen
vier até nós e disser que tem um
outro caminho para acabar com a
ocupação, vamos ver então qual é.
Podemos esperar um pouco, podemos conversar, mas isso é para
ser decidido depois.
Folha - Ele já pediu informalmente a vocês uma trégua?
Batsh Isso eu não sei dizer.
Folha - Seria uma trégua por
quanto tempo?
Batsh - Não sei, é impossível dizer isso agora.
Folha - Mas seria por um longo
tempo, poderia ser definitiva?
Batsh - Definitiva não, porque a
luta armada é sempre uma opção
que precisamos manter.
Folha - Muitos palestinos dizem
que a Intifada [revolta armada contra a ocupação, iniciada em setembro de 2000] fracassou em seus objetivos e que deveria ser encerrada.
Vocês concordam?
Batsh - A questão não é essa. É
como evitar que a Intifada seja necessária em primeiro lugar. A Intifada pode muito bem ser suspensa agora, ou amanhã, mas o
que mudaria? Ela inevitavelmente
teria de retornar em algum ponto
do futuro, se a ocupação não terminar.
Folha - Qual a opinião de vocês
sobre Abbas?
Batsh - É um bom homem, temos respeito por ele, é um nacionalista. Nossas discordâncias são
estratégicas, ele tem de entender
que a opção pela resistência armada é fundamental.
Folha - Há alguma chance de o Jihad Islâmica reconhecer o direito
do Estado de Israel de existir no futuro?
Batsh - O Estado sionista é
agressivo, ocupa nossa terra, mata nossas crianças. Nós não podemos dar nenhum tipo de reconhecimento a isso.
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