São Paulo, domingo, 08 de janeiro de 2006

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MISSÃO NO CARIBE

Membros da missão da ONU falam de suicídio do general Urano Bacellar, que assumiu comando em 31 de agosto

General brasileiro é achado morto no Haiti

DA REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA


O general brasileiro Urano Teixeira da Matta Bacellar, que comandava as forças de paz das Nações Unidas no Haiti, foi encontrado morto ontem pela manhã.
Segundo informação da agência France Presse, que afirmou ter tido acesso a documento interno da missão da ONU, ele aparentemente cometeu suicídio, na varanda do apartamento que ocupava no hotel Montana, em Porto Príncipe, capital haitiana.
O informe, que teria sido feito por militares filipinos responsáveis pela segurança de Bacellar, afirma que ele morreu "de um tiro aparentemente autoinfligido". A arma de fogo foi encontrada ao lado de seu corpo, vestido com shorts e camiseta.
Horas mais tarde, o comando do Exército em Brasília divulgou nota na qual "lamenta profundamente" a morte do general.
No texto, o Exército não comenta as circunstâncias da morte do militar. Apenas diz que a ONU, por meio de seu setor policial, "está apurando as circunstâncias que envolveram o fato". A nota ainda afirma que o "Exército Brasileiro está acompanhando o trabalho de investigação policial".
O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, se disse "comovido e entristecido" com a morte.
Já o embaixador brasileiro no Haiti, Paulo Cordeiro de Andrade Pinto, disse que "é devastador ver um general tão bom e honrado morto nessas circunstâncias".
Ontem pela manhã, ainda sem saber a razão da morte, o Exército comunicou o ocorrido aos familiares do general. Bacellar era natural de Bagé (RS) e tinha 58 anos.
No Exército, segundo a Folha apurou, a possibilidade de suicídio é tratada com extrema cautela. Isso porque, segundo o jargão militar, o general não apresentava nenhum "sintoma" a esse respeito. Anteontem, por exemplo, jantou normalmente com a tropa brasileira em Porto Príncipe.
Reproduzindo declaração do tenente-coronel Fernando da Cunha Matos, assessor de informações públicas da força brasileira no Haiti, a Agência Brasil informou que o general foi vítima de um "acidente com arma de fogo".
Segundo a brigada brasileira no Haiti, a previsão é que o corpo de Bacellar seja trasladado ao Brasil amanhã, em avião da FAB.
Assumiu interinamente o comando militar da missão o general chileno Eduardo Aldunate Herman, segundo informou o Ministério da Defesa do Chile.
Conforme a Folha apurou, o nome do comandante da Brigada de Operações Especiais do Exército, general Marco Aurélio Costa Vieira, aparecia ontem como um dos cotados para substituir Bacellar. Fluente em espanhol, inglês e francês, Vieira foi adido militar em Madri. O nome precisa ser chancelado pela ONU.

Missão
Desde 2004, o Brasil detém o comando militar das forças conhecidas pela sigla Minustah (Missão de Estabilização da ONU no Haiti), cujo chefe diplomático é o chileno Juan Gabriel Valdés.
A missão enfrenta graves percalços no país, onde a insegurança e problemas de infra-estrutura já adiaram as eleições presidenciais por quatro vezes.
Em novembro último o general Bacellar passou por momentos difíceis, quando a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos) acusou as forças da ONU de suposta omissão em chacinas ocorridas no país.
Em entrevista à Folha em setembro, pouco mais de um mês após ter assumido o comando da missão, o general Bacellar afirmou ter encontrado no país uma situação "calma e controlada".
Contido, mas transparecendo otimismo, ele afirmou estar sofrendo pressões por parte de autoridades haitianas para que implementasse uma ação militar mais ofensiva para conter a violência. Exaltou-se apenas ao comentar as denúncias de mortes de civis, lamentando que essas mortes fossem "danos colaterais" da atuação da força de paz.


Com agências internacionais

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