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Morte abala política externa de Lula
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A morte do general Urano Bacellar, ontem, em Porto Príncipe
(Haiti), foi um duro golpe tanto à
política externa do governo Luiz
Inácio Lula da Silva como ao
Exército, como instituição.
Liderada pelo Brasil, a missão
de paz da ONU no Haiti tem servido como um dos alicerces do
Itamaraty para vender ao mundo
a possibilidade de o país obter um
assento permanente no Conselho
de Segurança das Nações Unidas.
Em 2004, ao receber dos EUA o
comando da missão haitiana, o
Brasil passou a liderar pela primeira vez uma força da ONU justamente para chamar a si uma
maior responsabilidade nas ações
da instituição.
Agora, com a morte de Bacellar,
o governo sabe que aumentarão
as críticas e terá de dar explicações cada vez mais constantes,
principalmente no Congresso, se
vale a pena arriscar a vida de homens brasileiros em troca de uma
aspiração da política externa
-desgastada na semana passada
pelo fato de o Japão ter desistido
de assinar o projeto de reforma do
Conselho de Segurança apoiado
por Brasil, Índia e Alemanha.
Já no Exército o desgaste pode
vir da eventual confirmação de
que o comandante da Minustah
cometeu suicídio em seu alojamento em Porto Príncipe.
Casos de suicídio são comuns
nas Forças Armadas, mas não entre oficiais generais. Tal confirmação ocorreria no momento em
que a auto-estima dos militares
não é das melhores. O próprio comandante do Exército, general
Francisco Roberto de Albuquerque, tem admitido publicamente
o sucateamento da Força e a impossibilidade de seus comandados fazerem três refeições diárias.
Até o início da tarde de ontem o
Itamaraty não tinha a confirmação do motivo da morte de Bacellar porque o exame de balística
ainda estava sendo efetuado. No
Haiti, as tropas brasileiras foram
informadas do fato durante uma
missão numa favela da capital.
Na tarde de ontem, eram aventadas duas possibilidades. Uma,
que o Exército encampou rapidamente, de que a morte foi acidental, e a outra, também considerada no Itamaraty, que era a de suicídio. Mas os diplomatas não queriam falar nada oficialmente por
falta de confirmação técnica.
O ministro Celso Amorim (Relações Exteriores), que estava no
Rio com a família, retornou a Brasília, onde se reuniu com o ministro da Defesa e vice-presidente,
José Alencar, e com assessores do
Ministério da Defesa e do comando do Exército no fim da tarde.
O chanceler também conversou
sobre o fato com o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, e com a
secretária de Estado americana,
Condoleeza Rice.
Em nota, o Itamaraty afirmou
que o general era "conhecido por
seu preparo e competência" e "vinha conduzindo com excelência e
grande responsabilidade a difícil
tarefa de comandar o componente militar da missão", e disse que
Lula "reitera sua plena confiança
no trabalho desenvolvido pelas
tropas brasileiras no Haiti e reafirma a determinação do governo
brasileiro de continuar apoiando
o povo haitiano na construção da
paz e normalização política" do
país. Por fim, o texto pede que a
ONU "conduza imediata e ampla
investigação sobre o assunto" e
dispõe que autoridades da Defesa,
das Relações Exteriores e do Gabinete de Segurança Institucional
acompanhem o processo.
Amorim conheceu pessoalmente o general Bacellar na última vez em que esteve em Porto
Príncipe, após voltar de Nova Iorque, no final do ano passado. A
assessores, o ministro descreveu o
general como "uma pessoa muito
afável, gentil e que parecia muito
satisfeito com o trabalho que desempenhava em nome do governo brasileiro".
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