São Paulo, quinta-feira, 08 de janeiro de 2009

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Relator da ONU expulso de Israel vê crimes de guerra

DA REPORTAGEM LOCAL

Nomeado relator da ONU para a situação humanitária nos territórios palestinos em março, o americano de origem judaica Richard Falk não conseguiu iniciar seu trabalho. Ao tentar chegar à Cisjordânia por Israel, em dezembro, ele foi barrado pela polícia, que o trancou em uma cela por 15 horas antes de expulsá-lo do país.
Israel alegou que seu trabalho era "enviesado".
Após passar o Ano Novo em Paraty (RJ), Falk veio a São Paulo, onde conversou ontem com a Folha. Professor emérito da Universidade Princeton, negou ser pró-palestino e acusou Israel de "crimes de guerra e contra a humanidade". (SA)

 

FOLHA - Por que o mundo é tão passivo na crise em Gaza?
RICHARD FALK
- A realidade central é que os EUA ainda têm enorme poder político, especialmente no Oriente Médio.
Os regimes árabes, receosos com a própria estabilidade, se cuidam para não ferir os interesses americanos na região.
Esses mesmos regimes estão divididos entre, de um lado, pressões populares [pró-palestinas], e, do outro, o medo da expansão da área de influência do Irã por meio do Hamas. Daí a posição dúbia ante a crise.
Além disso, Israel e os EUA foram muito hábeis em induzir a União Europeia a rotular o Hamas como organização terrorista. Isso minou qualquer ímpeto imparcial europeu.

FOLHA - O Hamas infiltrou organizações humanitárias?
FALK
- É uma acusação absurda. A ONU é muito rigorosa no esforço constante de se manter à distância de movimentos políticos. Mas como o Hamas é a principal força em Gaza, é possível que indivíduos isolados tenham algum tipo de simpatia com o Hamas, nada mais.

FOLHA - O que responde aos que acusam o senhor de ser enviesado?
FALK
- Não se pode igualar o desigual. Se a realidade tende para um lado, então o relato tem de ir para esse lado. Queria ter sido avaliado em função de meu relatório, mas não me deixaram entrar.

FOLHA - Há quem ache exagero falar em crise humanitária.
FALK
- É uma das mais graves crises humanitárias da história recente. O pior é Israel impedir os civis de abandonarem Gaza. Os israelenses estão usando armas muito sofisticadas, algumas delas ilegais, como bombas de fósforo e projéteis que entram decepando o corpo.
Israel também não provê suprimentos básicos e remédios, numa violação clara do direito humanitário internacional que representa um crime de guerra e contra a humanidade. Os responsáveis devem ser julgados.


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