São Paulo, terça-feira, 08 de fevereiro de 2005

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Abin monitora militares brasileiros recrutados para trabalhar no Iraque

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Abin (Agência Brasileira de Inteligência) informou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que militares brasileiros da reserva estavam sendo recrutados para trabalhar no Iraque como seguranças de tropas americanas. Os relatórios foram entregues no final do ano passado. Lula determinou que o assunto fosse acompanhado de perto.
A informação de que militares brasileiros da reserva estão aceitando o trabalho no país ocupado foi divulgada anteontem pelo jornal "O Globo". Segundo o diário, cerca de 500 brasileiros já teriam topado a empreitada, atraídos por salários de US$ 6.500 a US$ 8.000 mensais (R$ 17 mil a R$ 21 mil).
O recrutamento seria feito por dois alemães - Frank Guenter Salewski e Heiko Helmut Emil Seibold-, que representariam em Goiânia (GO) e São Paulo a empresa americana Inveco Internacional Corporation.
Os dois, que não foram localizados ontem pela Folha, vêm sendo monitorados pela Abin desde o ano passado.
Os brasileiros teriam a função de sentinelas em acampamentos americanos no Iraque. Desde que venceram a guerra contra Saddam Hussein, os EUA mantêm 150 mil soldados no país.
Há vários casos de empresas norte-americanas que enviam guarda-costas e seguranças ao país para acompanhar empresários e políticos temerosos de atentados terroristas e seqüestros praticados quase diariamente.
A cúpula do Ministério Público do Trabalho se reúne amanhã à tarde para avaliar se há alguma maneira de proteger brasileiros que estariam sendo recrutados. Será um exercício de interpretação jurídica, uma vez que os contratos e a prestação de serviço não ocorrem no Brasil.
Segundo o procurador regional do Trabalho da 10ª Região, que atende Brasília e Tocantins, Ronaldo Curado Fleury, será preciso um exercício exegético -interpretação minuciosa- da Constituição, leis nacionais e tratados internacionais ratificados pelo Brasil para descobrir uma forma de proteger os brasileiros recrutados. "É um caso muito delicado. A Constituição garante a dignidade da pessoa humana, do trabalho. A interpretação disso é mole, é fácil? Não", disse o procurador.
Segundo Fleury, o principal objetivo do Ministério Público do Trabalho é assegurar um mínimo de garantias aos recrutados e suas famílias. "Aparentemente, não vejo ilegalidade no recrutamento. Temos casos semelhantes de pessoas selecionadas no Brasil para trabalhar lá fora. Mas precisa dar um mínimo de segurança para o trabalhador que vai e à família aqui", assinalou.

Convite de trabalho
O empresário Robinson do Prado, proprietário da Bodyguard Advanced Training, empresa de treinamento de segurança localizada em Osasco, na Grande São Paulo, disse que Frank Guenter Salewski lhe contou que havia sido convidado por Heiko Helmut Emil Seibold, um amigo alemão que mora em Goiânia, para trabalhar no Iraque.
"Ele recebeu um convite para atuar como guarda-costas e comentou com as pessoas", afirmou Prado, que nega qualquer envolvimento de sua empresa com o recrutamento de militares para trabalhar no Iraque. Salewski trabalha como "free-lancer" para a empresa de Prado.
"Ele dá cursos práticos de direção defensiva; o que ele faz particularmente eu não sei." Os dois se conheceram, segundo o empresário brasileiro, há cerca de cinco anos. Ambos são membros da Ialefi (International Association Law Enforcement Firearms Instructors). "Ele é um bobo nesta história; tenho até dó dele", disse o empresário, que não soube afirmar se Salewski aceitou ou não a oferta de trabalho como guarda-costas no Iraque.


Colaborou a Reportagem Local

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