São Paulo, segunda-feira, 08 de fevereiro de 2010

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Rivais se unem contra hegemonia no México

PAN, do presidente Calderón, e PRD, que travaram dura disputa eleitoral em 2006, fazem aliança para barrar avanço do PRI

Acerto valerá para eleições regionais, mas, se tiver êxito, pode se repetir para impedir que partido que governou por 71 anos volte ao poder

THIAGO GUIMARÃES
DA REPORTAGEM LOCAL

O anúncio de uma aliança eleitoral entre os rivais PAN (Partido da Ação Nacional, centro-direita), do presidente Felipe Calderón, e PRD (Partido da Revolução Democrática, centro-esquerda) agitou na semana passada o mundo político mexicano.
Os dois partidos, que disputaram cabeça a cabeça a Presidência em 2006, ensaiam um "casamento de conveniência" para frear o avanço do outrora hegemônico PRI (Partido da Revolução Institucional), em apostas locais que antecipam os primeiros movimentos da eleição presidencial de 2012.
O México elege em julho governadores em 12 dos 32 Estados -nove controlados pelo PRI, dois pelo PAN e um pelo PRD. Ganhar Estados do PRI -que lidera a maioria das pesquisas locais- seria um modo de neutralizar a vantagem da sigla nessas regiões em 2012.
"Uma vitória do PRI em julho seria um impacto muito forte para PAN e PRD, que pouco teriam a fazer para evitar a derrota em 2012", disse à Folha Salvador García Soto, colunista do jornal "El Universal".
Dez anos após deixar a Presidência e 71 anos de poder, o centrista PRI está na crista da onda no México. No embalo da crise econômica que afetou o PAN de Calderón (é de 6,7% a queda estimada do PIB em 2009) e das divisões internas do PRD, levou maioria na Câmara dos Deputados e 5 dos 6 governos estaduais em disputa nas eleições de julho passado.
Esse revitalizado PRI é também o partido de Enrique Peña, governador do Estado do México (cargo que se renova só em 2011) e atual favorito na corrida presidencial.
De olho na dianteira do rival, PAN e PRD formalizaram nesta semana uma aliança eleitoral no Estado de Durango (norte), em que dividirão com partidos menores uma chapa para governador, prefeitos e deputados estaduais. Negociam ainda acordos em Oaxaca, Hidalgo e Puebla, todos bastiões do PRI.
Embora não seja a primeira união de forças entre PAN e PRD -desde 1991 já houve nove alianças locais, três vitoriosas-, o acordo era impensável até pouco tempo. Em 2006, Calderón ganhou por 0,6 ponto de Andrés Manuel López Obrador, do PRD, que fez dois meses de piquetes pedindo recontagem de votos e até hoje não reconhece o resultado do pleito.
"As alianças são fruto da avaliação de setores do PAN e do PRD de que o crescimento de seus partidos, em eleições e base social, está limitado. Apesar de gastos recorde em publicidade, parecem ter topado com um muro", afirmou à Folha o analista Daniel Lund.
A aliança expôs divisões internas dos partidos. O setor de López Obrador no PRD rechaçou a união, e também há divergências no PAN -Calderón não falou em público a respeito, mas avaliza a aliança nos bastidores, diz Soto.
Ruídos internos à parte, o PRI acusou o golpe e se mostrou assustado com a aproximação dos rivais, diz Soto. Para o analista, o governador Peña teme que, se funcionar, o ensaio de união se repita em seu Estado em 2011 -uma derrota na eleição regional ameaçaria seu projeto presidencial.


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