São Paulo, quarta-feira, 08 de março de 2000


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ELEIÇÃO NOS EUA
Vice-presidente, virtual candidato democrata à Presidência, muda discurso e imagem na campanha
Gore se livra da sombra de Clinton

Reuters - 6.mar.2000
O pré-candidato democrata à Presidência Al Gore acena para simpatizantes durante um comício na Universidade de Missouri


MARCIO AITH
enviado especial a Nova York

Uma reforma radical em sua imagem e no seu discurso eleitoral, operada há cinco meses pelo comando de sua campanha, permitiu ao vice-presidente Al Gore sair da sombra do presidente Bill Clinton, sob a qual ficou sete anos, e despontar como virtual candidato democrata à Presidência dos EUA.
Pesquisas indicavam que Gore venceria as primárias do Partido Democrata nos 16 Estados em que houve votação ontem, inviabilizando a campanha de seu rival, o ex-astro do basquete Bill Bradley.
Entre os republicanos, o favoritismo era do governador do Texas, George W. Bush, contra o senador do Arizona John McCain. Até o fechamento desta edição, os resultados ainda não haviam sido divulgados.
Depois de lançar sua pré-candidatura, em junho do ano passado, Gore patinou durante meses com discursos conservadores, dúbios e excessivamente estudados.
Seu perfil "robótico" e a história de sua infância, passada num hotel de luxo em Washington, viraram motivo de piada em programas de entrevistas noturnos. Ele quase cedeu a liderança democrata a Bradley, ex-senador por Nova Jersey que havia subido nas pesquisas com uma maneira franca e aparentemente apolítica de se comunicar com eleitores.
Gore estava imobilizado por impasses que poderiam ser mortais para sua campanha. Estaria preso em pequenos espaços políticos. Nas armadilhas montadas pela necessidade de herdar o prestígio do atual governo e, ao mesmo tempo, de afastar-se do "passivo moral" do presidente Bill Clinton; de defender o apego ao aparelho do governo, do qual faz parte, e de saciar a sede de reformas dos eleitores.
No começo de setembro do ano passado, Gore realizou uma reunião de emergência com o comando de sua campanha, nas mãos de Tony Coelho, descendente de portugueses. A reunião ocorreu na residência do vice-presidente, na avenida Massachusetts, a uns 200 metros da Embaixada brasileira em Washington.
Como medida prática, Gore decidiu desvincular-se de Washington, DC, transferindo a sede de sua campanha para seu Estado natal, o Tennessee. O candidato decidiu ainda priorizar encontros com eleitores, em detrimento de aparições nas redes de TV, e partir para o ataque contra seu rival Bradley, convidando-o para debates.
O provável resultado das primárias democratas de ontem, na "Super Terça", indicam que a estratégia deu certo. Pesquisas mostram que o vice-presidente, herdeiro de uma tradição política familiar, não é mais visto como o número dois de Clinton, mas como o candidato democrata.
Como resultado, Gore não só caminha para uma nomeação tranquila na convenção democrata de agosto, mas também será um adversário duro nas eleições gerais de novembro.
Gore diminuiu em quase dez pontos sua distância para Bush, líder nas pesquisas e favorito para a nomeação republicana, e teria um bom espaço para avançar.
O único problema do candidato, segundo analistas, seria a possibilidade de uma correção forte no mercado de ações dos EUA pôr fim ao período recorde de expansão econômica do país, principal conquista da era Clinton.
Gore centra sua campanha na continuidade do programa econômico de Clinton.
Até o momento, ele soube aproveitar da satisfação do eleitorado com a valorização da Bolsa de Valores. Hoje, cerca de 50% dos lares americanos têm algum tipo de investimento em ações, seja por meio de carteira própria ou de fundos de investimento.
Somente os fundos norte-americanos controlam uma montanha de US$ 4,3 trilhões, mais de cinco vezes o tamanho da produção anual da economia brasileira.



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