São Paulo, segunda-feira, 08 de março de 2010

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Lei que facilita aborto detona protesto maciço na Espanha

Em Madri e em 24 cidades, milhares pedem a renúncia de chefe de governo espanhol

Novo texto aumenta ainda mais a reprovação popular a Zapatero, já criticado por medidas impopulares de combate à crise econômica

LUISA BELCHIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE MADRI

Às voltas com impopulares medidas anticrise, o presidente de governo da Espanha, José Luis Rodríguez Zapatero, vem enfrentando oposição cada vez maior da população, cuja maioria sempre o apoiara. Ontem, milhares de pessoas tomaram as ruas do centro de Madri e de mais 24 cidades para protestar contra a nova lei do aborto e pedir a renúncia do mandatário.
A aprovação da reforma, no fim do mês passado, despertou a ira de uma parcela da sociedade espanhola de cunho nacionalista e conservador e alimentou um movimento crescente de oposição a Zapatero.
Em um ano, o percentual da população que classifica o governo do socialista como ruim cresceu de 26% para 35%, segundo o Centro de Investigações Sociais (CIS).
"Economicamente, ele é um desastre. E agora quer se meter nesse tipo de coisa [aborto]. Não dá mais", declarou o aposentado Javier Ramírez, 73, que participou da manifestação na capital espanhola.
Há duas semanas, o presidente enfrentou o primeiro protesto em massa, quando cerca de 10 mil pessoas saíram às ruas contra sua proposta de adiar por dois anos a aposentadoria dos espanhóis. O movimento foi convocado pelos dois principais sindicatos do país, CCOO (Comissões Obreiras) e UGT (União Geral dos Trabalhadores) -antigos aliados dos socialistas, mas que romperam com o presidente na ocasião.
Nem a atual presidência espanhola da União Europeia -que vai até junho- tem ajudado Zapatero. Segundo o CIS, 7 de cada 10 espanhóis não veem boas influências do país no bloco.
Ante altas taxas de desemprego -cerca de 4 milhões de pessoas, ou 20% da população economicamente ativa-, Zapatero tampouco tem convencido com as medidas anticrise: mais de 80% dos espanhóis consideram que a economia é o principal problema do país.
Ontem, no protesto que, em Madri, reuniu 10 mil pessoas, segundo o instituto de pesquisa espanhol Lynce, e 600 mil, segundo os organizadores, os participantes pediam em faixas e gritos a renúncia de Zapatero.
"Votei duas vezes nele, mas agora me parece que ele não tem força nem experiência para tirar a Espanha da crise. O pouco que está fazendo faz mal", disse o funcionário público Juan Pablo Miguel, 43.
"O problema é que muita gente votou em Zapatero só por questões econômicas e agora está desapontada porque acha que ele não está resolvendo", disse o historiador e economista Miguel Sánchez.
Outro problema enfrentado pelo governante é a crescente retirada de apoio político às medidas que tem anunciado para tentar tirar a Espanha da crise, consideradas pouco populares. "Ele traiu uma parcela da esquerda do país e, ao mesmo tempo, não agrada a oposição", disse o ex-prefeito de Paradas, o também socialista Joaquim Monteiro. "Nos seus quase oito anos de governo, dos quais em quatro teve maioria absoluta, ele não fez mais que agravar a situação da Espanha."
A reforma da lei do aborto, porém, foi aprovada por ampla maioria no Congresso. Pela nova lei, as grávidas têm até a 14ª semana de gestação para decidir se querem ou não abortar -antes, a legislação só permitia o aborto a mulheres que comprovassem risco de vida para si ou para o bebê dentro deste mesmo período.
Agora, nos casos de risco para a mãe ou para o bebê ou anomalias comprovadas no feto, a permissão se estende até a 22ª semana. Em casos de "anomalias incompatíveis com a vida", o aborto é permitido em qualquer estágio da gestação.
O texto diz que "a decisão de ter filhos e quando constitui um dos assuntos mais íntimos e pessoais (...). Os poderes públicos estão obrigados a não interferir nesse tipo de assunto (...)".
Ontem, os manifestantes pediram a revogação da lei. "Aqui não há só beatas. Há jovens, aposentados, donas de casa, esquerdistas, direitistas e pessoas de todos os tipos, que consideram essa lei desumana", disse a porta-voz da ONG Derecho a Vivir, Gador Joya.


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