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Lei que facilita aborto detona protesto maciço na Espanha
Em Madri e em 24 cidades, milhares pedem a renúncia de chefe de governo espanhol
Novo texto aumenta ainda mais a reprovação popular a Zapatero, já criticado por medidas impopulares de combate à crise econômica
LUISA BELCHIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE MADRI
Às voltas com impopulares
medidas anticrise, o presidente
de governo da Espanha, José
Luis Rodríguez Zapatero, vem
enfrentando oposição cada vez
maior da população, cuja maioria sempre o apoiara. Ontem,
milhares de pessoas tomaram
as ruas do centro de Madri e de
mais 24 cidades para protestar
contra a nova lei do aborto e pedir a renúncia do mandatário.
A aprovação da reforma, no
fim do mês passado, despertou
a ira de uma parcela da sociedade espanhola de cunho nacionalista e conservador e alimentou um movimento crescente
de oposição a Zapatero.
Em um ano, o percentual da
população que classifica o governo do socialista como ruim
cresceu de 26% para 35%, segundo o Centro de Investigações Sociais (CIS).
"Economicamente, ele é um
desastre. E agora quer se meter
nesse tipo de coisa [aborto].
Não dá mais", declarou o aposentado Javier Ramírez, 73,
que participou da manifestação
na capital espanhola.
Há duas semanas, o presidente enfrentou o primeiro
protesto em massa, quando
cerca de 10 mil pessoas saíram
às ruas contra sua proposta de
adiar por dois anos a aposentadoria dos espanhóis. O movimento foi convocado pelos dois
principais sindicatos do país,
CCOO (Comissões Obreiras) e
UGT (União Geral dos Trabalhadores) -antigos aliados dos
socialistas, mas que romperam
com o presidente na ocasião.
Nem a atual presidência espanhola da União Europeia
-que vai até junho- tem ajudado Zapatero. Segundo o CIS,
7 de cada 10 espanhóis não
veem boas influências do país
no bloco.
Ante altas taxas de desemprego -cerca de 4 milhões de
pessoas, ou 20% da população
economicamente ativa-, Zapatero tampouco tem convencido com as medidas anticrise:
mais de 80% dos espanhóis
consideram que a economia é o
principal problema do país.
Ontem, no protesto que, em
Madri, reuniu 10 mil pessoas,
segundo o instituto de pesquisa
espanhol Lynce, e 600 mil, segundo os organizadores, os participantes pediam em faixas e
gritos a renúncia de Zapatero.
"Votei duas vezes nele, mas
agora me parece que ele não
tem força nem experiência para tirar a Espanha da crise. O
pouco que está fazendo faz
mal", disse o funcionário público Juan Pablo Miguel, 43.
"O problema é que muita
gente votou em Zapatero só por
questões econômicas e agora
está desapontada porque acha
que ele não está resolvendo",
disse o historiador e economista Miguel Sánchez.
Outro problema enfrentado
pelo governante é a crescente
retirada de apoio político às
medidas que tem anunciado
para tentar tirar a Espanha da
crise, consideradas pouco populares. "Ele traiu uma parcela
da esquerda do país e, ao mesmo tempo, não agrada a oposição", disse o ex-prefeito de Paradas, o também socialista Joaquim Monteiro. "Nos seus quase oito anos de governo, dos
quais em quatro teve maioria
absoluta, ele não fez mais que
agravar a situação da Espanha."
A reforma da lei do aborto,
porém, foi aprovada por ampla
maioria no Congresso. Pela nova lei, as grávidas têm até a 14ª
semana de gestação para decidir se querem ou não abortar
-antes, a legislação só permitia
o aborto a mulheres que comprovassem risco de vida para si
ou para o bebê dentro deste
mesmo período.
Agora, nos casos de risco para
a mãe ou para o bebê ou anomalias comprovadas no feto, a
permissão se estende até a 22ª
semana. Em casos de "anomalias incompatíveis com a vida",
o aborto é permitido em qualquer estágio da gestação.
O texto diz que "a decisão de
ter filhos e quando constitui
um dos assuntos mais íntimos e
pessoais (...). Os poderes públicos estão obrigados a não interferir nesse tipo de assunto (...)".
Ontem, os manifestantes pediram a revogação da lei. "Aqui
não há só beatas. Há jovens,
aposentados, donas de casa, esquerdistas, direitistas e pessoas
de todos os tipos, que consideram essa lei desumana", disse a
porta-voz da ONG Derecho a
Vivir, Gador Joya.
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