São Paulo, sábado, 08 de abril de 2000


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Estudo denuncia campanha da Philip Morris contra cientistas

RICARDO GRINBAUM
de Londres

A maior fabricante mundial de cigarros, Philip Morris, montou uma campanha para manipular a opinião pública e minar os resultados de uma pesquisa científica que apontava os riscos de câncer entre os fumantes passivos - aqueles que não fumam mas vivem ou trabalham com fumantes.
De acordo com a denúncia publicada ontem na revista científica "The Lancet", da Inglaterra, a Philip Morris destinou US$ 2 milhões a uma campanha para influenciar cientistas, a imprensa e o governo. Outros US$ 4 milhões foram reservados para financiar a realização de estudos científicos para desmentir os resultados da pesquisa sobre fumantes passivos.
O artigo da Lancet é assinado por Elisa Ong e Stanton Glantz, da Universidade da Califórnia em San Francisco, nos EUA. Eles examinaram documentos liberados pela Philip Morris num processo movido nos EUA.
Elisa e Stanton descobriram entre os documentos, que podem ser acessados pela Internet, papéis em que a empresa traça planos para se infiltrar e atrasar resultados de um estudo da Agência Internacional de Pesquisas Contra o Câncer (IARC, na sigla em inglês), ligada à Organização Mundial da Saúde (OMS).
Além disso, diz o artigo, a Philip Morris montou uma estratégia para neutralizar o efeito da pesquisa sobre a opinião pública e evitar que fossem tomadas medidas pelos países europeus para restringir o fumo em locais públicos. A campanha contava com uma força-tarefa composta por executivos da empresa e um orçamento de US$ 2 milhões, o mesmo valor gasto em dez anos pela agência em seu estudo sobre fumantes passivos.
"As empresas de cigarros tentam de tudo para manipular a opinião pública, principalmente financiando pesquisas científicas que comprovam suas teses", disse à Folha Gena Keng, diretora da Campanha da Pesquisa contra o Câncer, do Reino Unido. "Mesmo cientistas sérios perdem a credibilidade ao receber financiamento das empresas de tabaco. Como eles podem ter isenção para contradizer quem dá o dinheiro para a pesquisa?"
De acordo com o artigo da "Lancet", a Philip Morris conseguiu alcançar um de seus objetivos, o de confundir a opinião pública. Embora o resultado da pesquisa apontasse que frequentar ambientes em que se fuma muito aumenta em 16% a chance de desenvolver câncer, não foi isso o que saiu em muitos jornais.
Na véspera do anúncio do resultado da pesquisa, em 1998, o jornal inglês "Sunday Telegraph" publicou uma reportagem dizendo que o estudo não indicava que os fumantes passivos têm mais chances de desenvolver câncer. A reportagem foi reproduzida em vários países e confundiu os leitores sobre as reais conclusões do estudo. Com isso, a pesquisa, feita ao longo de uma década, perdeu impacto e a força para influenciar a opinião pública.


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