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Estudo denuncia campanha da
Philip Morris contra cientistas
RICARDO GRINBAUM
de Londres
A maior fabricante mundial de
cigarros, Philip Morris, montou
uma campanha para manipular a
opinião pública e minar os resultados de uma pesquisa científica
que apontava os riscos de câncer
entre os fumantes passivos -
aqueles que não fumam mas vivem ou trabalham com fumantes.
De acordo com a denúncia publicada ontem na revista científica
"The Lancet", da Inglaterra, a Philip Morris destinou US$ 2 milhões
a uma campanha para influenciar
cientistas, a imprensa e o governo. Outros US$ 4 milhões foram
reservados para financiar a realização de estudos científicos para
desmentir os resultados da pesquisa sobre fumantes passivos.
O artigo da Lancet é assinado
por Elisa Ong e Stanton Glantz, da
Universidade da Califórnia em
San Francisco, nos EUA. Eles examinaram documentos liberados
pela Philip Morris num processo
movido nos EUA.
Elisa e Stanton descobriram entre os documentos, que podem
ser acessados pela Internet, papéis em que a empresa traça planos para se infiltrar e atrasar resultados de um estudo da Agência
Internacional de Pesquisas Contra o Câncer (IARC, na sigla em
inglês), ligada à Organização
Mundial da Saúde (OMS).
Além disso, diz o artigo, a Philip
Morris montou uma estratégia
para neutralizar o efeito da pesquisa sobre a opinião pública e
evitar que fossem tomadas medidas pelos países europeus para
restringir o fumo em locais públicos. A campanha contava com
uma força-tarefa composta por
executivos da empresa e um orçamento de US$ 2 milhões, o mesmo valor gasto em dez anos pela
agência em seu estudo sobre fumantes passivos.
"As empresas de cigarros tentam de tudo para manipular a
opinião pública, principalmente
financiando pesquisas científicas
que comprovam suas teses", disse
à Folha Gena Keng, diretora da
Campanha da Pesquisa contra o
Câncer, do Reino Unido. "Mesmo
cientistas sérios perdem a credibilidade ao receber financiamento
das empresas de tabaco. Como
eles podem ter isenção para contradizer quem dá o dinheiro para
a pesquisa?"
De acordo com o artigo da
"Lancet", a Philip Morris conseguiu alcançar um de seus objetivos, o de confundir a opinião pública. Embora o resultado da pesquisa apontasse que frequentar
ambientes em que se fuma muito
aumenta em 16% a chance de desenvolver câncer, não foi isso o
que saiu em muitos jornais.
Na véspera do anúncio do resultado da pesquisa, em 1998, o jornal inglês "Sunday Telegraph"
publicou uma reportagem dizendo que o estudo não indicava que
os fumantes passivos têm mais
chances de desenvolver câncer. A
reportagem foi reproduzida em
vários países e confundiu os leitores sobre as reais conclusões do
estudo. Com isso, a pesquisa, feita
ao longo de uma década, perdeu
impacto e a força para influenciar
a opinião pública.
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