|
Texto Anterior | Índice
Mbeki é acusado de dificultar combate à Aids
DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS
O presidente sul-africano, Thabo Mbeki, voltou a ser atacado
por ativistas e organizações de
combate à Aids, depois que a comissão de especialistas criada para aconselhar o governo não chegou a um consenso sobre as causas da doença.
Os 33 especialistas contratados
por Mbeki para orientá-lo em relação à Aids entregaram, na quarta-feira, um relatório confuso ao
governo. Enquanto cientistas ortodoxos defendem a distribuição
de medicamentos anti-retrovirais
a mulheres grávidas para evitar a
transmissão do vírus HIV para os
bebês, cientistas dissidentes insistem que o HIV não causa a Aids e
recomendam terapia musical e
gengibre no combate à doença.
Os ativistas consideraram o relatório uma perda de tempo e de
dinheiro no momento em que o
país enfrenta uma série crise de
saúde pública.
Com 4,7 milhões de infectados,
a África do Sul é o país com o
maior número de pessoas vivendo com o HIV no mundo. Por dia,
cerca de 1.700 sul-africanos contraem o vírus, sem que haja, no
país, uma campanha eficiente de
prevenção da Aids nem tratamento para os doentes.
Revoltados com o relatório da
comissão de notáveis, os ativistas
fizeram um apelo para que Mbeki
abandone sua posição polêmica
em relação à Aids e agilize o combate à doença.
O presidente sul-africano tem
sido criticado dentro e fora do
país por questionar a ligação entre o HIV e a Aids e impedir a distribuição de medicamentos anti-retrovirais na rede pública, alegando que os remédios, além de
caros, são prejudiciais à saúde. Ele
também foi criticado por incluir
cientistas dissidentes na comissão
de aconselhamento sobre Aids.
"O governo continua escondendo-se atrás da desculpa de que há
duas diferentes visões sobre a
causa da Aids e, ao fazer isso, não
enfrenta o problema", disse um
porta-voz da Aliança Democrática, de oposição.
Funcionários do governo dizem
que a ministra da Saúde, Manto
Tshabalala-Msimang, acredita
que o HIV seja a causa da Aids,
mas tem evitado expressar sua
opinião em público para não contrariar Mbeki.
O presidente vêm enfrentando,
no entanto, grande pressão para
oferecer medicamentos anti-Aids
na rede pública. O debate em torno do tema acabou sendo impulsionado pela indústria farmacêutica, que pediu à Justiça a anulação de uma lei de 1997, aprovada
pelo governo de Nelson Mandela,
que autoriza a compra ou produção de versões genéricas de remédios patenteados em casos de crise na saúde pública.
O julgamento teve início em
março, mas foi adiado para apresentação de novas testemunhas e
será retomado no próximo dia 18.
Mesmo que Mbeki mude de posição em relação ao HIV, o governo sul-africano já deixou claro
que não tem condições de oferecer o tratamento à população.
"Não temos objeções, em princípio, ao uso dos anti-retrovirais,
mas o custo é uma barreira enorme", disse a ministra da Saúde.
Texto Anterior: Aids: África do Sul pressiona farmacêuticas Índice
|