São Paulo, domingo, 08 de abril de 2001

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Mbeki é acusado de dificultar combate à Aids

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O presidente sul-africano, Thabo Mbeki, voltou a ser atacado por ativistas e organizações de combate à Aids, depois que a comissão de especialistas criada para aconselhar o governo não chegou a um consenso sobre as causas da doença.
Os 33 especialistas contratados por Mbeki para orientá-lo em relação à Aids entregaram, na quarta-feira, um relatório confuso ao governo. Enquanto cientistas ortodoxos defendem a distribuição de medicamentos anti-retrovirais a mulheres grávidas para evitar a transmissão do vírus HIV para os bebês, cientistas dissidentes insistem que o HIV não causa a Aids e recomendam terapia musical e gengibre no combate à doença.
Os ativistas consideraram o relatório uma perda de tempo e de dinheiro no momento em que o país enfrenta uma série crise de saúde pública.
Com 4,7 milhões de infectados, a África do Sul é o país com o maior número de pessoas vivendo com o HIV no mundo. Por dia, cerca de 1.700 sul-africanos contraem o vírus, sem que haja, no país, uma campanha eficiente de prevenção da Aids nem tratamento para os doentes.
Revoltados com o relatório da comissão de notáveis, os ativistas fizeram um apelo para que Mbeki abandone sua posição polêmica em relação à Aids e agilize o combate à doença.
O presidente sul-africano tem sido criticado dentro e fora do país por questionar a ligação entre o HIV e a Aids e impedir a distribuição de medicamentos anti-retrovirais na rede pública, alegando que os remédios, além de caros, são prejudiciais à saúde. Ele também foi criticado por incluir cientistas dissidentes na comissão de aconselhamento sobre Aids.
"O governo continua escondendo-se atrás da desculpa de que há duas diferentes visões sobre a causa da Aids e, ao fazer isso, não enfrenta o problema", disse um porta-voz da Aliança Democrática, de oposição.
Funcionários do governo dizem que a ministra da Saúde, Manto Tshabalala-Msimang, acredita que o HIV seja a causa da Aids, mas tem evitado expressar sua opinião em público para não contrariar Mbeki.
O presidente vêm enfrentando, no entanto, grande pressão para oferecer medicamentos anti-Aids na rede pública. O debate em torno do tema acabou sendo impulsionado pela indústria farmacêutica, que pediu à Justiça a anulação de uma lei de 1997, aprovada pelo governo de Nelson Mandela, que autoriza a compra ou produção de versões genéricas de remédios patenteados em casos de crise na saúde pública.
O julgamento teve início em março, mas foi adiado para apresentação de novas testemunhas e será retomado no próximo dia 18.
Mesmo que Mbeki mude de posição em relação ao HIV, o governo sul-africano já deixou claro que não tem condições de oferecer o tratamento à população. "Não temos objeções, em princípio, ao uso dos anti-retrovirais, mas o custo é uma barreira enorme", disse a ministra da Saúde.



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