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Reuters
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Fumaça encobre Jenin, na Cisjordânia, cidade palestina alvo de ofensiva israelense, que enfrentou resistência do Jihad Islâmico |
TENSÃO NO ORIENTE MÉDIO
Segundo general de Israel, "quase todos os palestinos" caíram com fuzis na mão ou com cintos explosivos'; 11 soldados morreram
Em 10 dias, conflito já matou 200 palestinos
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A JERUSALÉM
O general Shaul Mofaz, chefe do
Estado-Maior de Israel, anunciou
ontem que, nos dez dias que já
dura a invasão dos territórios palestinos pelas tropas israelenses,
200 palestinos foram mortos,
bem como 11 soldados israelenses. Os feridos são 143 do lado de
Israel e 1.500 entre os palestinos,
sempre segundo Mofaz.
A divulgação do número provocou a acusação de que Israel está
cometendo "abusos que são sérias violações das leis internacionais de direitos humanos", no dizer de Mark Neumann, da Anistia
Internacional, que falou também
em nome de World Watch e Médicos Sem Fronteiras, duas outras
entidades humanitárias.
O governo de Israel nega. O general Dan Harel, chefe do Departamento de Operações das IDF
(Forças de Defesa de Israel), diz
que "quase todos (os 200 palestinos) caíram com fuzis na mão ou
com cintos explosivos".
Harel contou até um episódio
em Jenin (Cisjordânia), em que
cinco palestinos do campo de refugiados da cidade vieram em direção das tropas israelenses com
os braços levantados, como se estivessem se rendendo. Mas não
obedeceram às ordens de parar
até que um deles foi alvejado.
"Explodiu no ato", contou Harel, para indicar que usava um
cinto explosivo, o método terrorista mais comum nos atentados
contra Israel.
Israel também nega a acusação
dos grupos de direitos humanos
de que estão sendo feitas prisões
em massa. Os números divulgados ontem mostram que, dos
1.413 palestinos detidos, 361 estavam sendo procurados por Israel
como terroristas.
Significa que há evidências contra apenas um em cada quatro detidos. E, deles, "de 60 a 70 são terroristas pesados", na descrição de
Harel.
Os números serviram para que
Israel desse como bem-sucedida
até agora a operação Escudo Defensivo, lançada na sexta-feira retrasada, como reação ao mais
mortífero ataque terrorista já cometido contra Israel.
No Park Hotel da cidade costeira de Netania, um terrorista suicida palestino detonou explosivos
que estavam atados a seu corpo e
matou 27 pessoas que festejavam
a Páscoa judaica -Pessach- (a
27ª, uma mulher de 88 anos, morreu ontem).
O fato de não ter ocorrido nenhum novo atentado desde o início da ofensiva faz o governo israelense comemorar, embora
seus representantes digam, repetidamente, que não podem dar
100% de garantia de que não haverá novos ataques.
"A operação reduziu dramaticamente a capacidade dos terroristas de agir", diz o comandante
da Força Aérea, Dan Hallutz.
Ainda assim, Israel está insistindo em que o líder palestino Iasser
Arafat deve agir energicamente
contra o terrorismo, começando
por condená-lo em mensagem
em árabe. A liderança palestina
acha "impossível" tomar qualquer providência uma vez que
Arafat está confinado em seu
quartel-general em Ramallah.
De todo modo, o êxito da operação, nas contas de Israel, abre espaço não só para o início da retirada israelense como para iniciar
negociações diplomáticas.
Afinal, acabar com o terrorismo
era a exigência primeira do governo Ariel Sharon antes de iniciar
qualquer negociação política. Como Arafat, na opinião de Israel (e
dos Estados Unidos), nada fez, as
IDF entraram nos territórios.
Como consideram bem-sucedida a operação contra o terrorismo, as autoridades israelenses começam a voltar a uma linguagem
político-diplomática.
"Nossa guerra não é contra os
palestinos nem mesmo contra a
Autoridade Nacional Palestina
nem contra o seu desejo de um
Estado independente. Não há intenção de lutar contra esse desejo", diz o vice-ministro do Exterior, o rabino Michael Melchior.
É uma linguagem compatível
com o discurso do presidente
norte-americano George Walker
Bush da semana passada, no qual
voltou a falar em um Estado palestino "viável" (ou seja, não a colcha de retalhos que era o território
administrado pelos palestinos até
a invasão israelense).
Mas há também outro tipo de
linguagem no governo israelense.
Ontem, foi acertado acordo entre
o primeiro-ministro Ariel Sharon
e o Partido Nacional Religioso, de
extrema-direita, para que ele entre na já enorme coalizão montada por Sharon. No mesmo dia, o
PNR trocou de líder e entronizou
o general da reserva Effi Eitan,
que diz que os palestinos são "um
câncer" no corpo de Israel.
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