São Paulo, segunda-feira, 08 de abril de 2002

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Reuters
Fumaça encobre Jenin, na Cisjordânia, cidade palestina alvo de ofensiva israelense, que enfrentou resistência do Jihad Islâmico


TENSÃO NO ORIENTE MÉDIO

Segundo general de Israel, "quase todos os palestinos" caíram com fuzis na mão ou com cintos explosivos'; 11 soldados morreram

Em 10 dias, conflito já matou 200 palestinos

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A JERUSALÉM

O general Shaul Mofaz, chefe do Estado-Maior de Israel, anunciou ontem que, nos dez dias que já dura a invasão dos territórios palestinos pelas tropas israelenses, 200 palestinos foram mortos, bem como 11 soldados israelenses. Os feridos são 143 do lado de Israel e 1.500 entre os palestinos, sempre segundo Mofaz.
A divulgação do número provocou a acusação de que Israel está cometendo "abusos que são sérias violações das leis internacionais de direitos humanos", no dizer de Mark Neumann, da Anistia Internacional, que falou também em nome de World Watch e Médicos Sem Fronteiras, duas outras entidades humanitárias.
O governo de Israel nega. O general Dan Harel, chefe do Departamento de Operações das IDF (Forças de Defesa de Israel), diz que "quase todos (os 200 palestinos) caíram com fuzis na mão ou com cintos explosivos".
Harel contou até um episódio em Jenin (Cisjordânia), em que cinco palestinos do campo de refugiados da cidade vieram em direção das tropas israelenses com os braços levantados, como se estivessem se rendendo. Mas não obedeceram às ordens de parar até que um deles foi alvejado.
"Explodiu no ato", contou Harel, para indicar que usava um cinto explosivo, o método terrorista mais comum nos atentados contra Israel.
Israel também nega a acusação dos grupos de direitos humanos de que estão sendo feitas prisões em massa. Os números divulgados ontem mostram que, dos 1.413 palestinos detidos, 361 estavam sendo procurados por Israel como terroristas.
Significa que há evidências contra apenas um em cada quatro detidos. E, deles, "de 60 a 70 são terroristas pesados", na descrição de Harel.
Os números serviram para que Israel desse como bem-sucedida até agora a operação Escudo Defensivo, lançada na sexta-feira retrasada, como reação ao mais mortífero ataque terrorista já cometido contra Israel.
No Park Hotel da cidade costeira de Netania, um terrorista suicida palestino detonou explosivos que estavam atados a seu corpo e matou 27 pessoas que festejavam a Páscoa judaica -Pessach- (a 27ª, uma mulher de 88 anos, morreu ontem).
O fato de não ter ocorrido nenhum novo atentado desde o início da ofensiva faz o governo israelense comemorar, embora seus representantes digam, repetidamente, que não podem dar 100% de garantia de que não haverá novos ataques.
"A operação reduziu dramaticamente a capacidade dos terroristas de agir", diz o comandante da Força Aérea, Dan Hallutz.
Ainda assim, Israel está insistindo em que o líder palestino Iasser Arafat deve agir energicamente contra o terrorismo, começando por condená-lo em mensagem em árabe. A liderança palestina acha "impossível" tomar qualquer providência uma vez que Arafat está confinado em seu quartel-general em Ramallah.
De todo modo, o êxito da operação, nas contas de Israel, abre espaço não só para o início da retirada israelense como para iniciar negociações diplomáticas.
Afinal, acabar com o terrorismo era a exigência primeira do governo Ariel Sharon antes de iniciar qualquer negociação política. Como Arafat, na opinião de Israel (e dos Estados Unidos), nada fez, as IDF entraram nos territórios.
Como consideram bem-sucedida a operação contra o terrorismo, as autoridades israelenses começam a voltar a uma linguagem político-diplomática.
"Nossa guerra não é contra os palestinos nem mesmo contra a Autoridade Nacional Palestina nem contra o seu desejo de um Estado independente. Não há intenção de lutar contra esse desejo", diz o vice-ministro do Exterior, o rabino Michael Melchior.
É uma linguagem compatível com o discurso do presidente norte-americano George Walker Bush da semana passada, no qual voltou a falar em um Estado palestino "viável" (ou seja, não a colcha de retalhos que era o território administrado pelos palestinos até a invasão israelense).
Mas há também outro tipo de linguagem no governo israelense. Ontem, foi acertado acordo entre o primeiro-ministro Ariel Sharon e o Partido Nacional Religioso, de extrema-direita, para que ele entre na já enorme coalizão montada por Sharon. No mesmo dia, o PNR trocou de líder e entronizou o general da reserva Effi Eitan, que diz que os palestinos são "um câncer" no corpo de Israel.


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