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Em turbulência, Timor elege presidente
Atual premiê Ramos Horta, que ganhou força na crise política de 2006, e Lu-Olo, de centro-esquerda, são os mais cotados
Apesar de focos de violência, ONU, que mantém força de paz no país lusófono, prevê eleição tranqüila amanhã; há apenas 500 mil eleitores
GIOVANA VITOLA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE
SYDNEY
Depois de um ano marcado
pela instabilidade política e
uma crise militar, os timorenses irão às urnas amanhã para
eleger o novo presidente do
país lusófono, o segundo chefe
de Estado desde que Timor se
tornou livre da ocupação indonésia, em 1999. O escolhido entre os oito candidatos sucederá
Xanana Gusmão, líder da luta
pela independência.
Não há pesquisas confiáveis,
mas o provável é que a disputa
se dê entre o atual primeiro-ministro, José Ramos Horta,
57, Nobel da Paz em 1996, e
Francisco Guterres, 53, conhecido como Lu-Olo, candidato
da Fretilin (Frente Revolucionária de Timor Leste Independente) -movimento que liderou a luta pela independência e
do qual Xanana Gusmão se
afastou no final dos anos 1990.
O atual presidente apóia Ramos Horta, a quem nomeou
primeiro-ministro em julho de
2006, depois que uma rebelião
militar levou à renúncia do então premiê Mari Alkatiri, da
Fretilin, que hoje faz campanha
para Lu-Olo.
Alkatiri foi inocentado pela
Justiça, em fevereiro deste ano,
da acusação de ter entregado
armas a seus partidários durante a rebelião, quando expulsou
das jovens Forças Armadas Timorenses 600 militares. Alfredo Reinado, o chefe da rebelião,
que está foragido, divulgou carta de apoio à candidata Lúcia
Lobato, que defende o fim do
português como língua oficial.
De acordo com analistas, Lu-Olo, nacionalista e que concorre com uma plataforma de centro-esquerda, sofre a oposição
da Austrália, que fornece 1.100
dos 1.250 capacetes azuis que
integram a missão de paz enviada pela ONU ao país em
1999. A missão acaba de ser renovada por um ano.
Interesses australianos
"A Austrália tem muito medo
que a Fretilin, nacionalista, retome o poder com a força e o
prestígio que ela tinha antes e
volte a enfrentar os australianos na questão do petróleo",
disse Iberê Lopes, assessor jurídico da Usaid (a agência norte-americana para o desenvolvimento internacional) em Timor. "A Austrália confia mais
em Ramos Horta, por vê-lo como mais moderado."
Segundo escreveu o sociólogo português Boaventura Souza Santos, em artigo para a Folha no ano passado, os interesses australianos em Timor são
econômicos (reservas de petróleo e gás calculadas em US$ 30
bilhões) e geomilitares (controlar rotas marítimas e travar
a emergência da China).
Na opinião de Boaventura, o
ex-premiê Alkatiri confrontou
os interesses australianos ao
aumentar a participação de Timor na renda do petróleo extraído pela Austrália e ao conceder direitos de exploração a
uma empresa chinesa.
Nos últimos dias da campanha, que começou em 23 de
março, os comícios foram turbulentos, com intervenções da
polícia de Dili, capital do país.
Incidentes ocorridos em Viqueque, a 220 km de Dili, onde
partidários de Ramos Horta foram apedrejados, contabilizaram ao menos 20 feridos. Além
disso, foram lançadas pedras
contra uma coluna de veículos
da campanha da Fretilin em
que seguiam Lu-Olo e Alkatiri.
Apesar dos conflitos, a porta-voz da ONU no Timor, Allison
Cooper, disse à Folha que até
agora não houve "violência séria" na campanha. Cooper disse que há 1.665 policiais internacionais da ONU no Timor
para garantir a segurança da
votação.
Troca de posto
Caso eleja seu aliado Ramos
Horta para a Presidência, o
projeto de Xanana Gusmão é
concorrer no ano que vem ao
cargo de premiê. Ele acaba de
formar um partido, o Congresso Nacional da Resistência Timorense (CNTR), que tem o
mesmo nome da frente política
que apoiou a luta pela independência de Timor. A ex-colônia
portuguesa esteve sob ocupação da Indonésia entre 1975 e
1999 e ficou sob administração
da ONU até 2002.
Ramos anunciou na semana
passada que, caso vença, pedirá
às Nações Unidas, à Austrália e
à Nova Zelândia que permaneçam com suas tropas o tempo
necessário para ajudar a estabilizar o país.
As eleições serão acompanhadas por mais de mil observadores timorenses e por cerca
de cem observadores internacionais, entre eles brasileiros.
Cerca de 500 mil timorenses
estão registrados para votar. Se
nenhum candidato obtiver
50% dos votos ou mais, o segundo turno será disputado em
9 de maio.
Colaborou FERNANDO SERPONE BUENO
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