|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Espanha vive boom da imigração
País é o que mais recebe estrangeiros na União Européia; de 2000 a 2006, número cresceu 448%
Onda abre debate sobre limites espanhóis para absorver imigrantes; regra que pode limitar fluxo começa a vigorar
RAQUEL MALDONADO
CARLOS IAVELBERG
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
DE MADRI
"Assim como todos, vim em
busca de uma vida melhor da
que eu tinha em meu país." É
uma justificativa simples, como esta da equatoriana Victoria Castro Arriaga, que explica
o porquê de centenas de milhares de pessoas deixarem seus
países a cada ano e imigrarem
para a União Européia.
Aos 52 anos e adaptada à vida
na Espanha, Victoria lembra as
dificuldades do início. Em
1999, viúva com sete filhos, deixou Quito e veio sozinha trabalhar como empregada doméstica em Madri. Passados dois
anos, trouxe o primeiro filho e
assim, um por um, foi juntando
novamente a família.
Os últimos já chegaram com
documentos, pois Victoria havia sido beneficiada pela regularização dos imigrantes ilegais
promovida em 2005 pelo governo do premiê socialista José
Luis Rodríguez Zapatero.
Na União Européia, a Espanha lidera a lista dos países que
mais recebem estrangeiros, segundo relatório da Eurostat, a
agência de estatística do bloco.
Estima-se que cheguem 600
mil imigrantes por ano.
De acordo com os registros
municipais, em 2000 viviam na
Espanha 923.879 estrangeiros,
número que disparou e foi a 4
milhões em 2006 (incluindo os
ilegais), um crescimento de
448%. Ainda segundo os dados,
no início de 2006, os imigrantes eram 9,7% da população.
Em Madri e Barcelona, essa
proporção chega a 20%.
Esse boom imigratório abriu
um debate sobre até quando o
país pode suportar um fluxo
tão grande de imigrantes. Oficialmente, o governo diz que
não há com o que se preocupar,
já que afirma estar impedindo
o ingresso dos ilegais e dificultando o trabalho informal.
A nova exigência de visto para viajantes de países como a
Bolívia, que começou a vigorar
no domingo passado e causou
correria nos últimos dias de
prazo nos aeroportos latino-americanos, é apresentada como medida capaz de limitar a
onda. Com a esperança de entrar no país antes da regra, um
grupo de bolivianos chegou em
navio de cruzeiro à Espanha na
semana passada: foi barrado.
Os passageiros tiveram de voltar a La Paz de avião.
Ainda ilegais
Mesmo depois da regularização em massa, dos 4,1 milhões
que viviam no país no início de
2006, apenas 2,7 milhões tinham visto. A maior comunidade é formada por marroquinos
(563.012), seguida dos equatorianos (461.310), romenos
(407.159), britânicos (247.722)
e colombianos (265.141).
Os brasileiros ocupam a 15º
posição, com 72.441 imigrantes, dos quais menos da metade
(30.242) em situação legal.
Na Espanha, além do bom
momento econômico -o país
cresceu em 2006 acima da média da UE-, o idioma é um
atrativo para os latino-americanos, enquanto a proximidade
geográfica facilita a entrada dos
africanos do norte.
A política adotada pelo governo socialista, que estimula a
imigração legal para preencher
os postos de trabalho, é outro
fator. "A Espanha está recebendo um número importante de
imigrantes legais. Em 2006,
com contratação em origem,
vieram 150 mil. Neste ano, prevemos a chegada de 200 mil para dar resposta aos setores onde não se encontram espanhóis
para trabalhar", diz Consuelo
Rumí Ibáñez, secretaria de Estado de Imigração da Espanha.
Assim como os filhos da
equatoriana Victoria, que chegaram quando ela já tinha os
documentos em ordem, cerca
de 250 mil pessoas entraram na
Espanha nos últimos três anos
por meio da reunião familiar.
Uma norma da UE reconhece o direito do imigrante em situação legal de trazer seus parentes de primeiro grau caso
apresente condições financeiras para sustentá-los, já que os
familiares não recebem visto
para trabalhar. "A vinda de familiares é um facilitador para a
integração desse indivíduo em
nossa sociedade", diz Ibañez.
Pesquisa do governo indica
que, de forma geral, os espanhóis aceitam bem os imigrantes: 73% acreditam que eles
contribuem para a economia e
69,7% acham positivo que a sociedade abrigue pessoas de diferentes culturas e religiões.
Mas, de forma contraditória,
61,8% acreditam que o número
de imigrantes é excessivo.
Texto Anterior: Reforço precário Próximo Texto: Sem papéis, milhares vêm pelo mar Índice
|