São Paulo, domingo, 08 de abril de 2007

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Espanha vive boom da imigração

País é o que mais recebe estrangeiros na União Européia; de 2000 a 2006, número cresceu 448%

Onda abre debate sobre limites espanhóis para absorver imigrantes; regra que pode limitar fluxo começa a vigorar

RAQUEL MALDONADO
CARLOS IAVELBERG
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE MADRI

"Assim como todos, vim em busca de uma vida melhor da que eu tinha em meu país." É uma justificativa simples, como esta da equatoriana Victoria Castro Arriaga, que explica o porquê de centenas de milhares de pessoas deixarem seus países a cada ano e imigrarem para a União Européia.
Aos 52 anos e adaptada à vida na Espanha, Victoria lembra as dificuldades do início. Em 1999, viúva com sete filhos, deixou Quito e veio sozinha trabalhar como empregada doméstica em Madri. Passados dois anos, trouxe o primeiro filho e assim, um por um, foi juntando novamente a família.
Os últimos já chegaram com documentos, pois Victoria havia sido beneficiada pela regularização dos imigrantes ilegais promovida em 2005 pelo governo do premiê socialista José Luis Rodríguez Zapatero.
Na União Européia, a Espanha lidera a lista dos países que mais recebem estrangeiros, segundo relatório da Eurostat, a agência de estatística do bloco. Estima-se que cheguem 600 mil imigrantes por ano.
De acordo com os registros municipais, em 2000 viviam na Espanha 923.879 estrangeiros, número que disparou e foi a 4 milhões em 2006 (incluindo os ilegais), um crescimento de 448%. Ainda segundo os dados, no início de 2006, os imigrantes eram 9,7% da população. Em Madri e Barcelona, essa proporção chega a 20%.
Esse boom imigratório abriu um debate sobre até quando o país pode suportar um fluxo tão grande de imigrantes. Oficialmente, o governo diz que não há com o que se preocupar, já que afirma estar impedindo o ingresso dos ilegais e dificultando o trabalho informal.
A nova exigência de visto para viajantes de países como a Bolívia, que começou a vigorar no domingo passado e causou correria nos últimos dias de prazo nos aeroportos latino-americanos, é apresentada como medida capaz de limitar a onda. Com a esperança de entrar no país antes da regra, um grupo de bolivianos chegou em navio de cruzeiro à Espanha na semana passada: foi barrado. Os passageiros tiveram de voltar a La Paz de avião.

Ainda ilegais
Mesmo depois da regularização em massa, dos 4,1 milhões que viviam no país no início de 2006, apenas 2,7 milhões tinham visto. A maior comunidade é formada por marroquinos (563.012), seguida dos equatorianos (461.310), romenos (407.159), britânicos (247.722) e colombianos (265.141).
Os brasileiros ocupam a 15º posição, com 72.441 imigrantes, dos quais menos da metade (30.242) em situação legal.
Na Espanha, além do bom momento econômico -o país cresceu em 2006 acima da média da UE-, o idioma é um atrativo para os latino-americanos, enquanto a proximidade geográfica facilita a entrada dos africanos do norte.
A política adotada pelo governo socialista, que estimula a imigração legal para preencher os postos de trabalho, é outro fator. "A Espanha está recebendo um número importante de imigrantes legais. Em 2006, com contratação em origem, vieram 150 mil. Neste ano, prevemos a chegada de 200 mil para dar resposta aos setores onde não se encontram espanhóis para trabalhar", diz Consuelo Rumí Ibáñez, secretaria de Estado de Imigração da Espanha.
Assim como os filhos da equatoriana Victoria, que chegaram quando ela já tinha os documentos em ordem, cerca de 250 mil pessoas entraram na Espanha nos últimos três anos por meio da reunião familiar.
Uma norma da UE reconhece o direito do imigrante em situação legal de trazer seus parentes de primeiro grau caso apresente condições financeiras para sustentá-los, já que os familiares não recebem visto para trabalhar. "A vinda de familiares é um facilitador para a integração desse indivíduo em nossa sociedade", diz Ibañez.
Pesquisa do governo indica que, de forma geral, os espanhóis aceitam bem os imigrantes: 73% acreditam que eles contribuem para a economia e 69,7% acham positivo que a sociedade abrigue pessoas de diferentes culturas e religiões. Mas, de forma contraditória, 61,8% acreditam que o número de imigrantes é excessivo.


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