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Em vez de votos, Itália caça a cédula eleitoral
Para grupo de Berlusconi, disposição induz a erro
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A ROMA
A uma semana das eleições
gerais de domingo e segunda-feira, os partidos políticos italianos estão empenhados não
na caça ao voto, mas literalmente na caça a uma cédula
eleitoral acusada de levar ao
risco de anulação de 1,5 milhão
de votos, pelos cálculos de Sandro Bondi, porta-voz do PDL
("Povo da Liberdade", novo nome da coalizão de centro-direita comandada pelo bilionário
Silvio Berlusconi).
O problema da cédula é simples: nela aparece um quadradinho colorido para cada um
dos partidos aceitos pelas autoridades eleitorais. São 158 no
total, o que transforma a cédula
na maior do mundo, na ironia
de Sebastiano Messina, colunista do "La Repubblica".
Até aí, faz parte da absurda
fragmentação partidária italiana. O risco de erro no voto surge do fato de que, quando há
uma coligação, os quadradinhos de cada um dos grupos
que a integram aparecem lado a
lado, formando um retângulo.
O eleitor, no entanto, tem
que marcar com um "xis" o
quadradinho de apenas um dos
partidos. Se fizer a marca sobre
o outro, o voto é anulado.
Parece uma questão bizantina, mas foi o suficiente para
que a Liga Norte, grupo xenófobo que defende a independência de um vasto pedaço do rico
Norte italiano, ameaçasse, pela
voz de seu fundador e líder,
Umberto Bossi: "Se for necessário para fazer parar os romanos que imprimiram esta cédula eleitoral que é uma verdadeira porcaria, podemos até abraçar os fuzis".
"Romanos", no caso, é o governo, cuja sede, como é óbvio,
fica em Roma, a capital.
A frase causou o previsível
escândalo mesmo entre os aliados da Liga Norte, como Berlusconi, coligado com Bossi em
algumas circunscrições.
Até a pós-fascista Aliança
Nacional, coligada com Berlusconi no grupo "Povo da Liberdade", distanciou-se de Bossi.
"Essa linguagem certamente
não é a da AN", apressou-se a
dizer seu porta-voz, Andrea
Ronchi. Completou: "É o folclore de Bossi".
Já o Partido Democrático,
por seu líder e candidato a premiê Walter Veltroni, disse ser
"um absurdo" que alguém capaz de dizer uma frase como a
de Bossi possa ser candidato a
ministro, se Berlusconi ganhar
(seria ministro das Reformas).
Berlusconi apressou-se a dizer que o "estado de saúde de
Bossi é aquele que é", em alusão
a recentes e sérios problemas
do líder da Liga Norte. Insinuação velada de que Bossi não estaria em condições de ser ministro. "Não estou pedindo cargos", reagiu o próprio Bossi,
que, no entanto, insistiu em
que as cédulas têm que ser
reimpressas de forma a eliminar o risco de votos anulados.
O "romano" incumbido de
conduzir o processo eleitoral
(Giuliani Amato, ministro do
Interior) já descartou a hipótese com um argumento irrebatível: diplomatas, militares e italianos que vivem no exterior já
votaram com a cédula da confusão. Seria, pois, inconstitucional refazê-la para os demais
eleitores (no total são 47 milhões).
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