São Paulo, terça-feira, 08 de abril de 2008

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Em vez de votos, Itália caça a cédula eleitoral

Para grupo de Berlusconi, disposição induz a erro

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A ROMA

A uma semana das eleições gerais de domingo e segunda-feira, os partidos políticos italianos estão empenhados não na caça ao voto, mas literalmente na caça a uma cédula eleitoral acusada de levar ao risco de anulação de 1,5 milhão de votos, pelos cálculos de Sandro Bondi, porta-voz do PDL ("Povo da Liberdade", novo nome da coalizão de centro-direita comandada pelo bilionário Silvio Berlusconi).
O problema da cédula é simples: nela aparece um quadradinho colorido para cada um dos partidos aceitos pelas autoridades eleitorais. São 158 no total, o que transforma a cédula na maior do mundo, na ironia de Sebastiano Messina, colunista do "La Repubblica".
Até aí, faz parte da absurda fragmentação partidária italiana. O risco de erro no voto surge do fato de que, quando há uma coligação, os quadradinhos de cada um dos grupos que a integram aparecem lado a lado, formando um retângulo.
O eleitor, no entanto, tem que marcar com um "xis" o quadradinho de apenas um dos partidos. Se fizer a marca sobre o outro, o voto é anulado.
Parece uma questão bizantina, mas foi o suficiente para que a Liga Norte, grupo xenófobo que defende a independência de um vasto pedaço do rico Norte italiano, ameaçasse, pela voz de seu fundador e líder, Umberto Bossi: "Se for necessário para fazer parar os romanos que imprimiram esta cédula eleitoral que é uma verdadeira porcaria, podemos até abraçar os fuzis".
"Romanos", no caso, é o governo, cuja sede, como é óbvio, fica em Roma, a capital.
A frase causou o previsível escândalo mesmo entre os aliados da Liga Norte, como Berlusconi, coligado com Bossi em algumas circunscrições.
Até a pós-fascista Aliança Nacional, coligada com Berlusconi no grupo "Povo da Liberdade", distanciou-se de Bossi. "Essa linguagem certamente não é a da AN", apressou-se a dizer seu porta-voz, Andrea Ronchi. Completou: "É o folclore de Bossi".
Já o Partido Democrático, por seu líder e candidato a premiê Walter Veltroni, disse ser "um absurdo" que alguém capaz de dizer uma frase como a de Bossi possa ser candidato a ministro, se Berlusconi ganhar (seria ministro das Reformas).
Berlusconi apressou-se a dizer que o "estado de saúde de Bossi é aquele que é", em alusão a recentes e sérios problemas do líder da Liga Norte. Insinuação velada de que Bossi não estaria em condições de ser ministro. "Não estou pedindo cargos", reagiu o próprio Bossi, que, no entanto, insistiu em que as cédulas têm que ser reimpressas de forma a eliminar o risco de votos anulados.
O "romano" incumbido de conduzir o processo eleitoral (Giuliani Amato, ministro do Interior) já descartou a hipótese com um argumento irrebatível: diplomatas, militares e italianos que vivem no exterior já votaram com a cédula da confusão. Seria, pois, inconstitucional refazê-la para os demais eleitores (no total são 47 milhões).


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