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Fujimori é condenado por massacres
Sentenciado a 25 anos, ex-presidente peruano é 1º líder eleito julgado por violações humanitárias na região; defesa alega viés político
Episódios de La Cantuta e de Barrios Altos ocorreram durante ofensiva contra terrorismo do Sendero Luminoso, nos anos 90
DA REDAÇÃO
O ex-presidente peruano Alberto Fujimori (1990-2000) foi
condenado a 25 anos de prisão,
em quatro processos por assassinato e sequestro durante a
ofensiva contra o grupo maoísta Sendero Luminoso em seu
governo. Após 16 meses de julgamento, um painel de três juízes peruanos considerou Fujimori autor intelectual dos massacres de Barrios Altos e La
Cantuta e dos sequestros de um
jornalista e de um empresário.
Em Barrios Altos, no centro
de Lima, 15 pessoas -entre elas
um menino de oito anos- foram mortas a tiros em uma festa. No campus da Universidade
Nacional de Educação, conhecido como La Cantuta, também
na capital, foram sequestrados
e mortos um professor e nove
estudantes suspeitos de ligação
com a guerrilha.
Os crimes são atribuídos ao
grupo Colina, formado por militares que combatiam os
maoístas sob comando de Vladimiro Montesinos, chefe do
serviço secreto de Fujimori e
pivô da crise que derrubou seu
governo, em 2000. A defesa alega viés político e quer a anulação do julgamento.
Fujimori, 70, é o primeiro
presidente eleito condenado
por violações humanitárias na
América Latina. Alvo de investigação da Comissão Verdade, o
conflito entre o Estado peruano e guerrilhas -além do Sendero, atuava no país o Movimento Revolucionário Tupac
Amaru, de orientação castrista- deixou 70 mil mortos entre
1980 e 2000.
A Comissão Verdade atribuiu
54% das mortes ao Sendero Luminoso, adepto de táticas terroristas, e 40% às forças de segurança -militares, policiais e
grupos paramilitares formados
por camponeses pró-governo.
Fujimori nega envolvimento
nas ações do grupo Colina, mas
defende a linha dura de seu governo. "Minha estratégia de pacificação foi correta, e não me
arrependo", disse durante o
processo. Ele terá de pagar US$
90 mil em indenizações.
O ex-presidente criticou a
"hipocrisia" da corte: "Por que
Belaúnde [1980-85] e García
[atual presidente, que governou entre 1985-90] são inocentes e Fujimori é culpado [de
violações sob seus mandatos]?"
O julgamento de Fujimori,
cuja popularidade disparou
com as sucessivas vitórias sobre o MRTA e do Sendero Luminoso, foi marcado por conflitos verbais entre simpatizantes
do ex-presidente e ativistas de
direitos humanos. Dois mil policiais vigiavam os arredores do
tribunal para evitar confrontos.
O caso polariza o país, onde
um terço dos eleitores apoia
Fujimori. A deputada Keiko
Fujimori, filha do ex-presidente, aparece entre os favoritos
para a eleição presidencial de
2011, ao lado do esquerdista
Ollanta Humala. Se eleita, promete anistiar o pai, que já fora
condenado em 2007 a seis anos
de prisão por abuso de poder.
Guerra suja
"Operações de terror" foram
cometidas pelo Estado sob o
governo Fujimori, afirmam documentos americanos, tornados públicos e usados no processo. A política extraoficial
"incluía ações especiais de unidades treinadas em assassinatos", segundo esses papéis.
Perita nas exumações do caso La Cantuta, Carmen Rosa
Cardoza conta que os indícios
confirmam o massacre. "Disparo por armas de fogo causaram
as mortes, nos casos em que foi
possível identificar a causa",
disse Cardoza à Folha, explicando que foram encontrados
apenas restos de oito das vítimas, algumas calcinadas.
A vitória sobre as guerrilhas
é vista como o principal legado
do governo de Fujimori, marcado pelo crescente autoritarismo. Eleito em 1990, ele fechou o Congresso em 1992, em
"autogolpe" apoiado pelos militares. Reeleito em 1995, obteve um terceiro mandato em
2000, mas foi forçado a deixar
a Presidência no mesmo ano,
quando fugiu do país em meio a
escândalos de corrupção envolvendo Montesinos.
Com agências internacionais
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