São Paulo, quarta-feira, 08 de abril de 2009

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Fujimori é condenado por massacres

Sentenciado a 25 anos, ex-presidente peruano é 1º líder eleito julgado por violações humanitárias na região; defesa alega viés político

Episódios de La Cantuta e de Barrios Altos ocorreram durante ofensiva contra terrorismo do Sendero Luminoso, nos anos 90


DA REDAÇÃO

O ex-presidente peruano Alberto Fujimori (1990-2000) foi condenado a 25 anos de prisão, em quatro processos por assassinato e sequestro durante a ofensiva contra o grupo maoísta Sendero Luminoso em seu governo. Após 16 meses de julgamento, um painel de três juízes peruanos considerou Fujimori autor intelectual dos massacres de Barrios Altos e La Cantuta e dos sequestros de um jornalista e de um empresário.
Em Barrios Altos, no centro de Lima, 15 pessoas -entre elas um menino de oito anos- foram mortas a tiros em uma festa. No campus da Universidade Nacional de Educação, conhecido como La Cantuta, também na capital, foram sequestrados e mortos um professor e nove estudantes suspeitos de ligação com a guerrilha.
Os crimes são atribuídos ao grupo Colina, formado por militares que combatiam os maoístas sob comando de Vladimiro Montesinos, chefe do serviço secreto de Fujimori e pivô da crise que derrubou seu governo, em 2000. A defesa alega viés político e quer a anulação do julgamento.
Fujimori, 70, é o primeiro presidente eleito condenado por violações humanitárias na América Latina. Alvo de investigação da Comissão Verdade, o conflito entre o Estado peruano e guerrilhas -além do Sendero, atuava no país o Movimento Revolucionário Tupac Amaru, de orientação castrista- deixou 70 mil mortos entre 1980 e 2000.
A Comissão Verdade atribuiu 54% das mortes ao Sendero Luminoso, adepto de táticas terroristas, e 40% às forças de segurança -militares, policiais e grupos paramilitares formados por camponeses pró-governo.
Fujimori nega envolvimento nas ações do grupo Colina, mas defende a linha dura de seu governo. "Minha estratégia de pacificação foi correta, e não me arrependo", disse durante o processo. Ele terá de pagar US$ 90 mil em indenizações.
O ex-presidente criticou a "hipocrisia" da corte: "Por que Belaúnde [1980-85] e García [atual presidente, que governou entre 1985-90] são inocentes e Fujimori é culpado [de violações sob seus mandatos]?"
O julgamento de Fujimori, cuja popularidade disparou com as sucessivas vitórias sobre o MRTA e do Sendero Luminoso, foi marcado por conflitos verbais entre simpatizantes do ex-presidente e ativistas de direitos humanos. Dois mil policiais vigiavam os arredores do tribunal para evitar confrontos.
O caso polariza o país, onde um terço dos eleitores apoia Fujimori. A deputada Keiko Fujimori, filha do ex-presidente, aparece entre os favoritos para a eleição presidencial de 2011, ao lado do esquerdista Ollanta Humala. Se eleita, promete anistiar o pai, que já fora condenado em 2007 a seis anos de prisão por abuso de poder.

Guerra suja
"Operações de terror" foram cometidas pelo Estado sob o governo Fujimori, afirmam documentos americanos, tornados públicos e usados no processo. A política extraoficial "incluía ações especiais de unidades treinadas em assassinatos", segundo esses papéis.
Perita nas exumações do caso La Cantuta, Carmen Rosa Cardoza conta que os indícios confirmam o massacre. "Disparo por armas de fogo causaram as mortes, nos casos em que foi possível identificar a causa", disse Cardoza à Folha, explicando que foram encontrados apenas restos de oito das vítimas, algumas calcinadas.
A vitória sobre as guerrilhas é vista como o principal legado do governo de Fujimori, marcado pelo crescente autoritarismo. Eleito em 1990, ele fechou o Congresso em 1992, em "autogolpe" apoiado pelos militares. Reeleito em 1995, obteve um terceiro mandato em 2000, mas foi forçado a deixar a Presidência no mesmo ano, quando fugiu do país em meio a escândalos de corrupção envolvendo Montesinos.

Com agências internacionais


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