|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ARTIGO
Viagem delineia grande estratégia de Obama
DAVID SANGER
DO "NEW YORK TIMES", EM VIENA
Nos oito dias de sua visita à
Europa, o presidente Barack
Obama deu os primeiros passos
no sentido da reconstrução do
sistema financeiro mundial, do
fortalecimento do compromisso da Otan (Organização do
Tratado do Atlântico Norte)
com o Afeganistão e o Paquistão, da reinvenção da estratégia
nuclear americana e da restauração das relações dos EUA
com o mundo muçulmano.
Assim, com 77 dias de mandato completados, podemos dizer que a grande estratégia de
Obama já se tornou clara?
Ainda não, mas surgiram alguns contornos que podem indicar o que o futuro trará. Obama falou sempre com brandura
e nem deu a entender que poderia recorrer à força. Sem
mencionar muito seu predecessor, ele enfatizou uma das
principais diferenças entre os
dois: a de que os EUA não só
planejavam conferir mais autoridades às instituições internacionais que George W. Bush
muitas vezes rejeitou como
também apoiar a criação de
instituição novas.
Mas, com exceção de sua
abordagem quanto ao desarmamento nuclear -na qual parece haver mudanças radicais
em curso-, o que Obama descreveu se assemelhava mais a
uma restauração da velha ordem do que a um vasto realinhamento estratégico.
A busca por uma "grande estratégia", um plano coordenado para usar o poderio americano de maneira a atingir objetivos amplos em todo o mundo, é
sempre um risco.
Foi apenas no
ano seguinte à sua posse que
Bush declarou que "combater
terroristas e tiranos" era o objetivo da política americana e
foi apenas ao assumir seu segundo mandato, em 2005, que
ele articulou a doutrina de que
espalhar a liberdade deveria ser
a nova missão dos EUA.
Democracia
Uma diferença reveladora é
que, embora Obama falasse em
enfrentar os terroristas, não fez
menção aos tiranos. A Al Qaeda
precisa ser destruída, ele disse,
mas Irã, Coreia do Norte e Cuba serão abordados com vigor
diplomático renovado.
Obama
deixou claro que, embora compreenda a importância da democracia, ela não seria mais
parte formal da pauta de exportação americana.
Em sua primeira parada,
Londres, Obama não fingiu dispor de uma grande estratégia
para a crise financeira mundial.
Ele deixou ao premiê britânico,
Gordon Brown, a tarefa de declarar, na reunião do G20, que
"a nova ordem mundial está
emergindo" e se concentrou
em uma mistura de soluções
com as quais os líderes presentes poderiam concordar.
O verdadeiro significado da
reunião foi Obama ter acolhido
China, Índia, Brasil e outras nações numa posição mais central para a definição dos rumos
da economia mundial, ainda
que isso complique ainda mais
o processo decisório.
Obama tinha mais a dizer sobre estratégia ao chegar à Otan.
Nos dias anteriores à celebração do 60º aniversário da aliança, ele havia informado que a
nova estratégia para o Afeganistão e o Paquistão teria o objetivo de impedir o estabelecimento de um santuário para a
Al Qaeda e que os esforços para
fazer do Afeganistão uma democracia seriam reduzidos. Ele
encontrou simpatia entre os
parceiros, mas pouco apoio. A
maioria deixou claro que seus
eleitores haviam perdido a paciência com a guerra.
Armas nucleares
Foi quando Obama começou
a delinear sua visão sobre um
futuro livre de armas nucleares
que sua visão estratégica começou a superar os aspectos simbólicos da viagem. A estratégia
tem por base uma aposta: se o
primeiro país a desenvolver armas nucleares se mostrar disposto a reduzir o seu arsenal
nuclear, proibir testes atômicos e reduzir a produção mundial de material físsil de uso bélico, seus relutantes aliados e
parceiros em todo o mundo estariam provavelmente mais
dispostos a renegociar tratados
nucleares e a impor sanções à
Coreia do Norte e ao Irã.
Obama estava aceitando um
conceito rejeitado pelo governo
Bush: o de que, para combater a
proliferação, os EUA não podiam mais ignorar o fato de que
alguns países, entre os quais o
Irã, eram signatários de tratados internacionais e tinham o
direito de alegar, corretamente,
seu "direito" de produzir combustível nuclear.
A abordagem de Bush simplesmente era a de declarar que
há países nos quais não se pode
confiar. A de Obama é reforçar
a rede de tratados e emendar o
Tratado de Não Proliferação
Nuclear para tornar mais difícil
a países como o Irã limitarem
inspeções.
Obama defendeu
dois tratados aos quais muita
gente no Congresso pode se
opor: um proíbe os testes nucleares; o outro reduz a produção de novos materiais físseis.
"Para mim, estamos em um
mundo diferente", disse Mohamed El Baradei, diretor da
Agência Internacional de Energia Atômica. "Estamos começando a ver uma estratégia. O
que não sabemos ainda é se ele
será capaz de implementá-la."
Tradução de PAULO MIGLIACCI
Texto Anterior: Rede de chinês que financiava Irã cai nos EUA Próximo Texto: Após pedir diálogo, Fidel vê legisladores dos EUA Índice
|