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Cenário devastado de Áquila é de uma "guerra sem bombas"
DO ENVIADO A ÁQUILA
Não é à toa que guerras costumam ser comparadas a terremotos e vice-versa. As semelhanças são marcantes, e não
apenas pela devastação indiscriminada. Nos dois casos, o
momento da tragédia parece ficar congelado no tempo, criando cidades-fantasmas onde antes havia vida.
Nas ruas estreitas do precioso centro antigo de Áquila, portas entreabertas revelam a intimidade de famílias forçadas a
deixar suas casas às pressas. Na
via Roma, uma longa ladeira
que leva ao coração da cidade
medieval, as escadas dos prédios mostram o rastro da fuga,
com sapatos e outros objetos
pessoais misturados aos escombros, sob a parede rachada.
Nos varais, lençóis brancos
estão cobertos da poeira densa
que envolveu Áquila. Gatos e
cachorros com coleiras vagam
sem rumo pela cidade. Na vitrine de uma sapataria, dezenas
de pares antes cuidadosamente
enfileirados, agora se amontoam uns sobre os outros.
A cada esquina, moradores
com olhar angustiado carregam sacolas abarrotadas de
pertences que conseguiram retirar. Apartamentos, igrejas,
mercearias simples e lojas de
luxo, tudo está vazio por ordem
da defesa civil, o que aumenta o
ar fantasmagórico da cidade
em ruínas.
Em algumas casas, paredes
inteiras desapareceram, criando gigantescas casas de bonecas, com o interior exposto ao
olhar público. Numa delas, um
quarto de casal tem a cama desarrumada por pedaços de reboco que se confundem com os
lençóis. Em outra, quatro fotos
de artistas coladas precariamente resistiram ao tremor e
continuam na parede do quarto
de adolescente.
Vivendo há oito anos em
Áquila, onde se divide entre o
curso de medicina e o trabalho
como garçom, o israelense Badir acompanha angustiado as
tentativas dos bombeiros de
resgatar um colega de estudos
que ficou soterrado. À sua volta, praticamente nenhum prédio escapou ao terremoto.
"É como uma guerra sem
bombas", resume.
(MN)
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