São Paulo, sábado, 08 de maio de 2004

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IRAQUE OCUPADO

Pressionado, secretário pede desculpas por abusos de presos, mas diz que há imagens mais graves, ainda inéditas

Escândalo vai piorar, prevê Rumsfeld

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

Sob pressão do Congresso e da mídia dos EUA, o secretário americano da Defesa, Donald Rumsfeld, 71, assumiu ontem "completa responsabilidade" pelos abusos contra prisioneiros no Iraque, pediu "profundas desculpas" aos que sofreram maus-tratos sob a custódia de soldados dos EUA e disse que o escândalo deve piorar -segundo ele, há mais fotos mostrando abusos.
Rumsfeld e seus principais assessores militares foram interrogados ontem por mais de seis horas em duas sessões no Congresso, apresentadas ao vivo pelas principais TVs dos EUA e árabes.
Pressionado principalmente pelos senadores democratas, de oposição ao presidente George W. Bush, Rumsfeld afirmou que não renunciaria: "Não renunciarei simplesmente pelo fato de que alguns querem fazer disso uma questão política".
O depoimento deu a entender que há muito mais a saber sobre o caso -e que o estrago sobre a campanha eleitoral de Bush pode estar apenas começando. "Aparentemente, o pior ainda está por vir. Ainda há muitas fotos. Olhei [para elas] ontem à noite e é difícil de acreditar. Obviamente, as coisas vão piorar."
Segundo informações não-oficiais, além de outras fotos ainda inéditas, haveria vídeos mostrando maus-tratos e casos de estupros de prisioneiras iraquianas por soldados dos EUA.
No Senado, Rumsfeld foi interrompido por gritos de cerca de dez manifestantes que pediram sua demissão. Pesquisa divulgada ontem pelo "Washington Post" revelou, no entanto, que apenas 20% dos americanos acham que o secretário deveria renunciar.
Um percentual maior, de 48%, disse apoiar o modo como Bush está lidando com o assunto.
Ontem, foi a vez do "New York Times" pedir a renúncia de Rumsfeld, repetindo a exigência manifestada por vários jornais e pela revista britânica "The Economist". Na Casa Branca e entre os correligionários do republicano Bush, está sendo considerada acertada a estratégia de não ceder às pressões, que só alimentariam o discurso dos democratas que qualificam como "desastrosa" a estratégia para o Iraque.
Ao Senado, Rumsfeld apresentou uma cronologia dos eventos envolvendo as denúncias de maus-tratos e as investigações em torno do assunto e como as imagens acabaram vindo a público em um programa de TV americana CBS, no dia 28 de abril.
O secretário fez um mea-culpa por não ter feito "um relato completo" a Bush sobre o caso e por ele próprio não ter se inteirado completamente do assunto. ""Se houve falha, foi minha. Nunca dei ao presidente uma informação completa. Ele esteve o tempo todo tão "no escuro" quanto eu e os membros desse Congresso."
Entre os senadores, houve fortes reações e momentos de bate-boca com Rumsfeld e o general Richard Myers, chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas dos EUA. Myers foi criticado pelo fato de ter pedido à CBS que adiasse a divulgação das fotos. Ele afirmou que o fez para "proteger" os soldados e reféns americanos da reação iraquiana.
O senador democrata Carl Levin exigiu explicações sobre quem estava no comando dos interrogatórios e afirmou que as torturas fariam parte de "um processo consciente e organizado para a obtenção de informações de prisioneiros". "Esses atos obscenos só vão alimentar a fúria daqueles que já nos odeiam no Iraque."


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