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IRAQUE OCUPADO
Pressionado, secretário pede desculpas por abusos de presos, mas diz que há imagens mais graves, ainda inéditas
Escândalo vai piorar, prevê Rumsfeld
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
Sob pressão do Congresso e da
mídia dos EUA, o secretário americano da Defesa, Donald Rumsfeld, 71, assumiu ontem "completa responsabilidade" pelos abusos
contra prisioneiros no Iraque, pediu "profundas desculpas" aos
que sofreram maus-tratos sob a
custódia de soldados dos EUA e
disse que o escândalo deve piorar
-segundo ele, há mais fotos
mostrando abusos.
Rumsfeld e seus principais assessores militares foram interrogados ontem por mais de seis horas em duas sessões no Congresso, apresentadas ao vivo pelas
principais TVs dos EUA e árabes.
Pressionado principalmente pelos senadores democratas, de
oposição ao presidente George
W. Bush, Rumsfeld afirmou que
não renunciaria: "Não renunciarei simplesmente pelo fato de que
alguns querem fazer disso uma
questão política".
O depoimento deu a entender
que há muito mais a saber sobre o
caso -e que o estrago sobre a
campanha eleitoral de Bush pode
estar apenas começando. "Aparentemente, o pior ainda está por
vir. Ainda há muitas fotos. Olhei
[para elas] ontem à noite e é difícil
de acreditar. Obviamente, as coisas vão piorar."
Segundo informações não-oficiais, além de outras fotos ainda
inéditas, haveria vídeos mostrando maus-tratos e casos de estupros de prisioneiras iraquianas
por soldados dos EUA.
No Senado, Rumsfeld foi interrompido por gritos de cerca de
dez manifestantes que pediram
sua demissão. Pesquisa divulgada
ontem pelo "Washington Post"
revelou, no entanto, que apenas
20% dos americanos acham que o
secretário deveria renunciar.
Um percentual maior, de 48%,
disse apoiar o modo como Bush
está lidando com o assunto.
Ontem, foi a vez do "New York
Times" pedir a renúncia de
Rumsfeld, repetindo a exigência
manifestada por vários jornais e
pela revista britânica "The Economist". Na Casa Branca e entre os
correligionários do republicano
Bush, está sendo considerada
acertada a estratégia de não ceder
às pressões, que só alimentariam
o discurso dos democratas que
qualificam como "desastrosa" a
estratégia para o Iraque.
Ao Senado, Rumsfeld apresentou uma cronologia dos eventos
envolvendo as denúncias de
maus-tratos e as investigações em
torno do assunto e como as imagens acabaram vindo a público
em um programa de TV americana CBS, no dia 28 de abril.
O secretário fez um mea-culpa
por não ter feito "um relato completo" a Bush sobre o caso e por
ele próprio não ter se inteirado
completamente do assunto. ""Se
houve falha, foi minha. Nunca dei
ao presidente uma informação
completa. Ele esteve o tempo todo
tão "no escuro" quanto eu e os
membros desse Congresso."
Entre os senadores, houve fortes
reações e momentos de bate-boca
com Rumsfeld e o general Richard Myers, chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas dos EUA. Myers foi criticado pelo fato de ter pedido à CBS
que adiasse a divulgação das fotos. Ele afirmou que o fez para
"proteger" os soldados e reféns
americanos da reação iraquiana.
O senador democrata Carl Levin exigiu explicações sobre quem
estava no comando dos interrogatórios e afirmou que as torturas
fariam parte de "um processo
consciente e organizado para a
obtenção de informações de prisioneiros". "Esses atos obscenos
só vão alimentar a fúria daqueles
que já nos odeiam no Iraque."
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