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O FIM DO NAZISMO
Para diretor internacional do Ministério da Defesa, esforço soviético evitou a nazificação da Europa
A vitória foi nossa, afirma general russo
MÁRCIO SENNE DE MORAES
ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU
A Rússia não se importa com o
modo como o Ocidente vê a vitória na Segunda Guerra Mundial,
que exalta a participação dos aliados, considera o ponto de inflexão
do conflito o desembarque das
tropas aliadas na Normandia
(França) em 1944 e não dá o devido valor ao esforço soviético para
conter o avanço nazista na frente
leste, conforme afirmou à Folha o
general Anatoly Mazurkevich,
chefe do Diretório de Cooperação
Militar Internacional do Ministério da Defesa russo.
"Conhecemos o valor do esforço militar soviético e sabemos que
fomos nós que obtivemos a vitória no conflito. Perdemos quase
27 milhões [cerca de 26,6 milhões,
de acordo com estatísticas oficiais] de pessoas na Grande Guerra Patriótica, o que foi o mais alto
preço possível por nossa vitória.
Costumo até brincar com meus
amigos sobre o tema e dizer que,
se não fossem a determinação e a
coragem dos russos, talvez toda a
Europa e até os EUA ou o Brasil
falassem somente alemão hoje, o
que seria terrível, pois se trata de
uma língua muito difícil", disse
Mazurkevich, com um sorriso
nos lábios.
"Graças à nossa luta e à nossa vitória, as pessoas podem hoje em
todo o mundo viver em seu território soberano e falar sua própria
língua. Além disso, a derrota nazista permitiu que cada país pudesse ter sua própria cultura, sua
própria moeda e sua liberdade",
acrescentou o general de três estrelas, cujo escritório, que "já foi
do grande marechal Georgy Zhukov" -herói de guerra soviético-, é decorado com um grande
relógio que pertencia ao ministro
da Propaganda nazista, Joseph
Goebbels.
Ele não mencionou, contudo, os
mais de 40 anos do domínio russo
sobre outras ex-repúblicas soviéticas, como os países bálticos (Estônia, Letônia e Lituânia).
Mazurkevich ressaltou, contudo, que a Rússia crê hoje na importância de uma parceria construtiva com a Alemanha. "É importante estabelecer uma relação
positiva com a Alemanha, pois os
alemães já perceberam o que fizeram de negativo durante a Segunda Guerra Mundial. "Com isso,
mais uma vez, estamos na vanguarda do pensamento global. A
idéia de muitos no Ocidente é de
que o papel da Rússia na Grande
Guerra Patriótica foi primitivo e
miserável. Volto a dizer que, para
os russos, o modo como muitos
ocidentais acreditam que a vitória
tenha sido conquistada não é de
nenhuma importância", afirmou
o general russo.
A URSS entrou na guerra em
1941, pois, anteriormente, o ditador soviético Josef Stálin e o "Führer" nazista, Adolf Hitler, tinham
feito um acordo de não-agressão,
chamado Ribentrop-Molotov.
"Não conheço os detalhes daquele pacto. Ha rumores sobre a colaboração soviética com Hitler, mas
não saberia dizer se ele foi positivo ou negativo para a URSS. Tínhamos boas relações com os países ocidentais e só pudemos perceber que a guerra tinha realmente começado quando os nazistas
passaram a nos atacar", admitiu
Mazurkevich.
Ele ressaltou ainda que os comandantes soviéticos adiantaram
uma grande operação militar passar poupar vidas de soldados aliados. "Quando o Ocidente abriu a
segunda frente da guerra em 1944,
na Normandia, a situação era terrível para as forças ocidentais. Decidimos, então, começar uma das
maiores ofensivas da guerra duas
semanas antes do que estava programado para salvar vidas de soldados aliados."
"Não sei quantos mais teriam
morrido se não tivéssemos começados aquela operação antes do
tempo que estava planejado, mas,
para nossos comandantes, era
importante salvar o maior numero possível de pessoas inocentes
de qualquer nacionalidade", declarou Mazurkevich.
"Para que se possa ter uma verdadeira noção da situação à época
e do enorme esforço soviético durante o conflito, é preciso lembrar
que, apenas durante o cerco de
Stalingrado [hoje Volvogrado],
perdemos 1,12 milhão de pessoas
entre civis e militares. Ademais,
descobri recentemente que, em
Rzhev-Vyazma, perto de Moscou,
no verão [setentrional] de 1942,
houve uma enorme batalha, na
qual perdemos 1,3 milhão de pessoas", acrescentou.
"Por razões políticas, este número jamais foi tornado público
pelo regime soviético. Somente
em 1941, perdemos 5,5 milhões de
militares, que foram mortos em
combate ou levados a campos de
concentração nazistas. Isso tudo
ilustra o tamanho de nosso esforço militar e também mostra que
merecemos crédito pela vitória",
concluiu o bem-humorado general russo.
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