São Paulo, terça-feira, 08 de maio de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Aumento de gastos na Venezuela leva a queda das reservas

Redução de recursos em moeda forte foi de 32,5% desde o início do ano, apesar de preços do petróleo estarem altos

Repasse do BC a Fundo de Desenvolvimento foi de US$ 6,6 bilhões; governista diz que queda estava prevista e será revertida em breve

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

As reservas internacionais da Venezuela caíram 32,5% desde o início do ano, chegando ao menor nível desde março de 2005, mostram dados do Banco Central do país. A forte redução, em meio a um período de alta sustentada do preço do petróleo, reflete o aumento dos gastos públicos promovido pelo presidente Hugo Chávez.
No início de janeiro, as reservas internacionais da Venezuela estavam em US$ 36,6 bilhões. Quatro meses depois, esse valor já havia baixado para US$ 24,7 bilhões, representando uma queda de US$ 11,9 bilhões. O BC tem afirmado que o nível adequado de reservas venezuelanas deveria estar em torno dos US$ 30 bilhões.
São chamadas de reservas internacionais os recursos de um país usados para assegurar o pagamento de importações e do serviço da dívida e também para a estabilização da moeda. No caso venezuelano, porém, as reservas caem devido a duas mudanças recentes promovidas por Chávez: o fim do repasse dos lucros obtidos com o petróleo e o uso das reservas para financiar o Fonden (Fundo de Desenvolvimento Nacional), principal fonte de recursos do presidente venezuelano para financiar seus programas sociais e a sua política externa.
"A queda das reservas é devido principalmente a três fatores: primeiro, as transferências feitas pelo Banco Central ao Fonden, num total de US$ 6,6 bilhões de dólares neste ano", disse à Folha Asdrúbal Oliveros, diretor da Ecoanalítica, empresa de consultoria econômica que publicou um informe com duras críticas à política econômica chavista.
De acordo com Oliveros, o segundo motivo foi a emissão de US$ 7,5 bilhões de bônus da PDVSA, a estatal venezuelana de petróleo, na maior operação registrada na América Latina.
"Uma parte importante da liquidação dos bônus tem de ser feita com dólares, que a PDVSA pede ao Banco Central", explica Oliveros.
A operação da PDVSA foi justificada por Chávez como uma forma de enxugar a liqüidez da economia venezuelana, que cresceu 10% no ano passado, mas está submetida a uma rígida política de câmbio fixo, pressionando o aumento da moeda local, o bolívar, no mercado paralelo.
Analistas do setor de petróleo, no entanto, afirmam que a contração de uma dívida tão alta revela dificuldades financeiras da estatal petroleira, principal fonte de recursos do Estado venezuelano. Segundo Oliveros, além desses dois fatores "conjunturais", há um terceiro fator estrutural: a PDVSA, de onde provém cerca de 85% das divisas vindas do exterior, entrega cada vez menos recursos ao BC. Apesar da queda, o analista acredita que a tendência possa ser revertida num curto prazo. Para isso, avalia que será necessário cortar os repasses ao Fonden até o final do ano.

Sem surpresa
De acordo com o deputado chavista Ricardo Sanguino, presidente da Comissão de Finanças do Congresso, a recente queda brusca estava prevista por causa da operação de bônus da PDVSA e das transferências ao Fonden. Sanguino acredita que as reservas internacionais subirão num curto prazo.
"É necessário considerar que a economia continua crescendo", disse à Folha, em entrevista por telefone. Sanguino afirmou também que o processo de nacionalização das empresas Cantv (telecomunicações) e EDC (eletricidade) e a tomada do controle acionário das associações petrolíferas na região do Orinoco não afetarão as divisas internacionais.


Texto Anterior: Repercussão: EUA saúdam escolha de conservador
Próximo Texto: Diplomacia: Bush recebe Elizabeth 2ª e quase a situa no século 18
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.