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Aumento de gastos na Venezuela leva a queda das reservas
Redução de recursos em moeda forte foi de 32,5% desde o início do ano, apesar de preços do petróleo estarem altos
Repasse do BC a Fundo de Desenvolvimento foi de US$ 6,6 bilhões; governista diz que queda estava prevista e será revertida em breve
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
As reservas internacionais da
Venezuela caíram 32,5% desde
o início do ano, chegando ao
menor nível desde março de
2005, mostram dados do Banco
Central do país. A forte redução, em meio a um período de
alta sustentada do preço do petróleo, reflete o aumento dos
gastos públicos promovido pelo presidente Hugo Chávez.
No início de janeiro, as reservas internacionais da Venezuela estavam em US$ 36,6 bilhões. Quatro meses depois, esse valor já havia baixado para
US$ 24,7 bilhões, representando uma queda de US$ 11,9 bilhões. O BC tem afirmado que o
nível adequado de reservas venezuelanas deveria estar em
torno dos US$ 30 bilhões.
São chamadas de reservas internacionais os recursos de um
país usados para assegurar o
pagamento de importações e
do serviço da dívida e também
para a estabilização da moeda.
No caso venezuelano, porém,
as reservas caem devido a duas
mudanças recentes promovidas por Chávez: o fim do repasse dos lucros obtidos com o petróleo e o uso das reservas para
financiar o Fonden (Fundo de
Desenvolvimento Nacional),
principal fonte de recursos do
presidente venezuelano para
financiar seus programas sociais e a sua política externa.
"A queda das reservas é devido principalmente a três fatores: primeiro, as transferências
feitas pelo Banco Central ao
Fonden, num total de US$ 6,6
bilhões de dólares neste ano",
disse à Folha Asdrúbal Oliveros, diretor da Ecoanalítica,
empresa de consultoria econômica que publicou um informe
com duras críticas à política
econômica chavista.
De acordo com Oliveros, o
segundo motivo foi a emissão
de US$ 7,5 bilhões de bônus da
PDVSA, a estatal venezuelana
de petróleo, na maior operação
registrada na América Latina.
"Uma parte importante da liquidação dos bônus tem de ser
feita com dólares, que a PDVSA
pede ao Banco Central", explica Oliveros.
A operação da PDVSA foi
justificada por Chávez como
uma forma de enxugar a liqüidez da economia venezuelana,
que cresceu 10% no ano passado, mas está submetida a uma
rígida política de câmbio fixo,
pressionando o aumento da
moeda local, o bolívar, no mercado paralelo.
Analistas do setor de petróleo, no entanto, afirmam que a
contração de uma dívida tão alta revela dificuldades financeiras da estatal petroleira, principal fonte de recursos do Estado
venezuelano. Segundo Oliveros, além desses dois fatores
"conjunturais", há um terceiro
fator estrutural: a PDVSA, de
onde provém cerca de 85% das
divisas vindas do exterior, entrega cada vez menos recursos
ao BC. Apesar da queda, o analista acredita que a tendência
possa ser revertida num curto
prazo. Para isso, avalia que será
necessário cortar os repasses
ao Fonden até o final do ano.
Sem surpresa
De acordo com o deputado
chavista Ricardo Sanguino,
presidente da Comissão de Finanças do Congresso, a recente
queda brusca estava prevista
por causa da operação de bônus
da PDVSA e das transferências
ao Fonden. Sanguino acredita
que as reservas internacionais
subirão num curto prazo.
"É necessário considerar que
a economia continua crescendo", disse à Folha, em entrevista por telefone. Sanguino afirmou também que o processo
de nacionalização das empresas Cantv (telecomunicações) e
EDC (eletricidade) e a tomada
do controle acionário das associações petrolíferas na região
do Orinoco não afetarão as divisas internacionais.
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