São Paulo, sexta-feira, 08 de junho de 2001

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ARGENTINA

Ex-presidente é acusado de chefiar associação ilícita em caso de contrabando de armas e afirma que é inocente

Juiz ordena prisão domiciliar de Menem

France Presse
O ex-presidente Menem deixa tribunal de Buenos Aires, na condição de detido, com sua mulher, a ex-Miss Universo Cecilia Bolocco


ROGERIO WASSERMANN
DE BUENOS AIRES

Carlos Saúl Menem, 70, tornou-se ontem o primeiro ex-presidente constitucional da Argentina a ser preso como resultado de um processo criminal. Ele recebeu a ordem de prisão pela manhã, após chegar para prestar depoimento ao juiz Jorge Urso em caso de contrabando de armas para Equador e Croácia entre 91 e 95, durante seu governo (89-99).
Por já ter completado 70 anos, Menem terá direito a cumprir prisão domiciliar. Após apresentar ao juiz um documento no qual defendia sua inocência e negar-se a responder ao interrogatório, ele foi levado, de helicóptero, a uma ampla casa de campo na cidade de Don Torcuato, cerca de 30 km a nordeste de Buenos Aires, cedida pelo amigo Armando Gostanián, presidente da Casa da Moeda em seu governo, para o cumprimento da ordem de prisão.
A detenção de Menem era considerada cada vez mais provável após os rumos tomados pelas investigações do caso na Justiça.
Diversos depoimentos recentes implicavam Menem e seus colaboradores. Nos últimos dois meses, três pessoas próximas foram presas por envolvimento no caso -seu ex-cunhado e ex-assessor, Emir Yoma, o ex-ministro da Defesa Antonio Erman González e o ex-comandante do Exército Martín Balza.
O crime pelo qual Menem é acusado -chefe de associação ilícita, equivalente a formação de quadrilha- tem pena prevista de cinco a dez anos de prisão, pelo Código Penal argentino. A lei exige que o acusado responda ao processo preso, motivo pelo qual o juiz Urso, considerando ter provas suficientes contra o ex-presidente, ordenou sua detenção.
Os advogados de defesa disseram ontem que não recorrerão da ordem de prisão por enquanto. O juiz, por sua vez, tem dez dias para decidir os próximos passos.
Aliados de Menem vêm reiteradamente declarando sua inocência e acusando o juiz Urso de ter motivações políticas. O senador Eduardo Menem, irmão do ex-presidente, afirmou ontem que "há um setor do governo" por trás de sua prisão e que o juiz Urso é "parcial", porque não convocou o ministro da Economia, Domingo Cavallo, a depor.
Os menemistas cobram a convocação de Cavallo, um dos ministros de Menem que assinaram os decretos secretos que deram origem ao contrabando. Cavallo nega relação com o caso e diz que sua assinatura foi só protocolar.
O presidente Fernando de la Rúa disse que o governo não interferiu no caso e se negou a comentá-lo, dizendo defender "a independência do Poder Judiciário". Segundo ele, a prisão de Menem é um fato "importante, transcendente, porque se trata de um ex-presidente".
Ele afirmou, porém, que isso não significa "um problema institucional ou político" e que "o funcionamento das instituições e dos poderes está garantido". "Isso não deve nos absorver, por mais grave que seja, e seguiremos trabalhando para resolver os problemas da população", disse.
O ministro do Interior, Ramón Mestre, disse que a prisão é "um fato que causa comoção, mas que não afeta a governabilidade ou o clima social do país". "Também não está ameaçada a relação do governo com o Partido Justicialista [o maior da oposição, presidido por Menem"", disse ele.
A expectativa pela prisão de Menem, que já vinha mobilizando os argentinos desde anteontem, tornou-se intensa pela manhã, com uma multidão de jornalistas, manifestantes contra e a favor e curiosos se acotovelando na porta dos Tribunais de Retiro, em Buenos Aires.
Menem chegou por volta das 9h, uma hora antes do horário marcado para seu depoimento, acompanhado da ex-Miss Universo chilena Cecilia Bolocco, 36, com quem se casou no último dia 26. Cercado pelos jornalistas na entrada do prédio, Menem se disse tranquilo, tentando manter um tenso sorriso no rosto.
Ao entrar na sala do juiz Urso, Menem lhe teria entregue sua defesa por escrito e afirmou que não responderia ao questionário com cerca de 200 perguntas que o juiz havia preparado.
Segundo o advogado Mariano Cavagna Martínez, que o acompanhava, Menem não disse nada ao ser informado da ordem de prisão, mas fez um gesto demostrando surpresa.



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