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CÚPULA GLOBAL
G8 evita compromisso com metas no clima
Texto final reconhece necessidade de "redução substancial" nas emissões poluentes, mas não especifica como chegar lá
Única concessão dos EUA foi concordar em "considerar seriamente" iniciativas contra aquecimento já adotadas por UE e Japão
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL À ALEMANHA
A cúpula 2007 do G8, o clube
das sete maiores economias do
mundo mais a Rússia, terminou ontem com o mero reconhecimento do óbvio em matéria de ambiente: o documento
final diz que que o grupo reconhece a necessidade de "reduzir substancialmente" a emissão dos gases que provocam o
aquecimento global.
Depois que o Painel Intergovernamental sobre Mudança
Climática produziu recentemente um texto devastador sobre as conseqüências do aquecimento global, os países ricos,
os maiores poluentes, não poderiam deixar de dizer o que
disseram ontem.
Mas a presidência, a cargo da
Alemanha neste ano, queria
muito mais: queria metas numéricas específicas. Queria que
o G8 fixasse 2C como o máximo tolerável para o aumento da
temperatura média no planeta,
para o que seria necessário cortar pela metade, sobre os níveis
de 1990, a emissão dos gases do
efeito estufa até 2050.
Os Estados Unidos vetaram
metas precisas, do que resultou
um comunicado aguado, no
qual só um ponto passa perto
do projeto original da Alemanha: o G8 diz que "considerará
seriamente" as decisões já tomadas pela União Européia, o
Canadá e o Japão, as quais incluem cortar ao menos pela
metade as emissões até 2050.
Nada no documento, no entanto, é de cumprimento obrigatório pelas partes.
Mesmo assim, Angela Merkel, a anfitriã como chanceler
da Alemanha, soltou a comemoração de praxe nesse tipo de
evento. "É um grande passo
adiante", disse. "Posso viver
muito bem com esse tipo de
compromisso."
Só Nicolas Sarkozy, recém-eleito presidente da França e
que, durante a campanha, foi
retratado pela esquerda como
"um neoconservador americano com passaporte francês",
distinguiu-se pela crítica ao
texto, ainda que elegante e velada. "O acordo é significativo,
mas eu preferiria metas obrigatórias", disse. E ainda acrescentou: "Não dá para esperar".
Chama da discórdia
Já os EUA, como é natural,
festejaram genuinamente e, ao
mesmo tempo, mantiveram no
ar a chama da discórdia com o
mundo em desenvolvimento.
O assessor da Casa Branca
Steve Hadley disse que o compromisso do G8 é "muito consistente" com as idéias do presidente Bush sobre a necessidade de cooperação entre países
ricos e economias emergentes
para combater o aquecimento
global. "É preciso haver uma
meta de longo prazo para reduzir substancialmente as emissões, mas fixar tais metas exige
a participação de todos os países emissores, incluindo a China e a Índia", completa.
A China, a Índia (e o Brasil)
não aceitam uma distribuição
igual da carga pelo combate à
mudança climática entre países
ricos e em desenvolvimento
porque dizem que foi e ainda é
o mundo desenvolvido o maior
responsável pelo problema.
Agora, os próximos passos na
batalha contra o aquecimento
global serão os seguintes:
1 - Hoje, o G8 ouve o grupo de
cinco países convidados, Brasil
inclusive. O presidente Luiz
Inácio Lula da Silva proporá
uma nova reunião como a Eco-92, realizada no Rio, para 2012.
Seria a Rio+20.
2 - Antes, em setembro, a
ONU organiza um jantar com
os presidentes de cerca de 15
países para discutir o tema. Lula e Bush estarão presentes.
3 - Imediatamente depois,
Bush organiza a sua própria
reunião, com os 15 países que
são considerados responsáveis
pela emissão de 85% dos gases
do efeito estufa, Brasil incluído.
4 - Em novembro, na Indonésia, os peritos da ONU voltam a
discutir os detalhes de um
eventual acordo que substitua
o Protocolo de Kyoto, que vence precisamente em 2012.
O protocolo foi a mais ambiciosa meta para conter a mudança climática, frustrado porque os EUA, o maior emissor de
gases, não participaram.
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