São Paulo, sexta-feira, 08 de junho de 2007

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CÚPULA GLOBAL

G8 evita compromisso com metas no clima

Texto final reconhece necessidade de "redução substancial" nas emissões poluentes, mas não especifica como chegar lá

Única concessão dos EUA foi concordar em "considerar seriamente" iniciativas contra aquecimento já adotadas por UE e Japão

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL À ALEMANHA

A cúpula 2007 do G8, o clube das sete maiores economias do mundo mais a Rússia, terminou ontem com o mero reconhecimento do óbvio em matéria de ambiente: o documento final diz que que o grupo reconhece a necessidade de "reduzir substancialmente" a emissão dos gases que provocam o aquecimento global.
Depois que o Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática produziu recentemente um texto devastador sobre as conseqüências do aquecimento global, os países ricos, os maiores poluentes, não poderiam deixar de dizer o que disseram ontem.
Mas a presidência, a cargo da Alemanha neste ano, queria muito mais: queria metas numéricas específicas. Queria que o G8 fixasse 2C como o máximo tolerável para o aumento da temperatura média no planeta, para o que seria necessário cortar pela metade, sobre os níveis de 1990, a emissão dos gases do efeito estufa até 2050.
Os Estados Unidos vetaram metas precisas, do que resultou um comunicado aguado, no qual só um ponto passa perto do projeto original da Alemanha: o G8 diz que "considerará seriamente" as decisões já tomadas pela União Européia, o Canadá e o Japão, as quais incluem cortar ao menos pela metade as emissões até 2050.
Nada no documento, no entanto, é de cumprimento obrigatório pelas partes.
Mesmo assim, Angela Merkel, a anfitriã como chanceler da Alemanha, soltou a comemoração de praxe nesse tipo de evento. "É um grande passo adiante", disse. "Posso viver muito bem com esse tipo de compromisso."
Só Nicolas Sarkozy, recém-eleito presidente da França e que, durante a campanha, foi retratado pela esquerda como "um neoconservador americano com passaporte francês", distinguiu-se pela crítica ao texto, ainda que elegante e velada. "O acordo é significativo, mas eu preferiria metas obrigatórias", disse. E ainda acrescentou: "Não dá para esperar".

Chama da discórdia
Já os EUA, como é natural, festejaram genuinamente e, ao mesmo tempo, mantiveram no ar a chama da discórdia com o mundo em desenvolvimento.
O assessor da Casa Branca Steve Hadley disse que o compromisso do G8 é "muito consistente" com as idéias do presidente Bush sobre a necessidade de cooperação entre países ricos e economias emergentes para combater o aquecimento global. "É preciso haver uma meta de longo prazo para reduzir substancialmente as emissões, mas fixar tais metas exige a participação de todos os países emissores, incluindo a China e a Índia", completa.
A China, a Índia (e o Brasil) não aceitam uma distribuição igual da carga pelo combate à mudança climática entre países ricos e em desenvolvimento porque dizem que foi e ainda é o mundo desenvolvido o maior responsável pelo problema.
Agora, os próximos passos na batalha contra o aquecimento global serão os seguintes:
1 - Hoje, o G8 ouve o grupo de cinco países convidados, Brasil inclusive. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva proporá uma nova reunião como a Eco-92, realizada no Rio, para 2012. Seria a Rio+20.
2 - Antes, em setembro, a ONU organiza um jantar com os presidentes de cerca de 15 países para discutir o tema. Lula e Bush estarão presentes.
3 - Imediatamente depois, Bush organiza a sua própria reunião, com os 15 países que são considerados responsáveis pela emissão de 85% dos gases do efeito estufa, Brasil incluído.
4 - Em novembro, na Indonésia, os peritos da ONU voltam a discutir os detalhes de um eventual acordo que substitua o Protocolo de Kyoto, que vence precisamente em 2012.
O protocolo foi a mais ambiciosa meta para conter a mudança climática, frustrado porque os EUA, o maior emissor de gases, não participaram.


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