São Paulo, sexta-feira, 08 de junho de 2007

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análise

Texto repete promessas e limita avanços

CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA

No que depender da declaração de ontem do G8, as negociações no âmbito das Nações Unidas sobre o substituto do Protocolo de Kyoto vão continuar emperradas. Segundo um especialista brasileiro no assunto, o texto aprovado pelo clube dos países ricos é uma vitória de George W. Bush, que chegou à Alemanha como alguém a ser constrangido e saiu de lá constrangendo (o mundo).
O que a declaração tem de bom - a frase "reduções substanciais de emissões globais"- não é novo: isso já havia sido acordado pelo G8 em sua reunião de 2005.
E o que ela tem de novo não é bom. A mão grande de Bush (mais precisamente, de Jimmy Connaughton, seu conselheiro para temas ambientais) no texto acordado em Heiligendamm se faz presente na seguinte passagem: "Ao fixarmos um objetivo global para a redução de emissões no processo que acordamos hoje envolvendo todos os maiores emissores, nós consideraremos seriamente as decisões tomadas pela União Européia, pelo Canadá e pelo Japão, que incluem pelo menos reduzir à metade as emissões globais em 2050".
A declaração aparentemente comprometida com a causa ambiental esconde uma perversidade semântica: "objetivo", ou "goal", em inglês -palavra que pode ser entendida como um desejo de ver algo realizado algum dia- é diferente da palavra que a UE gostaria de ver impressa ali: "meta" (em inglês, "target"), ou seja, uma proposta quantificada de fazer algo num dado prazo.
Foi "goal" a palavra que Bush usou na última quinta-feira, quando mudou seu discurso sobre o clima sem mudar sua posição. Foi "goal" a palavra que a diplomacia americana emplacou na declaração pífia do G8.
"É mais ou menos a diferença entre você dizer que tem o objetivo de acabar com a pobreza na África e fazer um cheque para eles", comparou Marcelo Furtado, diretor de campanhas do Greenpeace Brasil.
Para não dizer que não há nada na declaração, há um sinal importante: ela reconhece que a Convenção do Clima precisa chegar a um acordo global em 2009 para substituir o Protocolo de Kyoto, e que os grandes emissores do mundo subdesenvolvido deverão participar do processo.
Mas isso não basta para dar vida ao acordo pós-Kyoto, que deveria se desenhar no fim deste ano em Bali, na reunião da Convenção do Clima da ONU. Como é difícil obter uma decisão importante num grupo de 180 países, havia a esperança de que os maiores emissores do mundo apontassem um caminho a ser seguido.
Mais uma vez, George Walker Bush impediu que isso acontecesse.


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