|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
análise
Texto repete promessas e limita avanços
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
No que depender da declaração de ontem do G8, as negociações no âmbito das Nações Unidas sobre o substituto do Protocolo de Kyoto vão
continuar emperradas. Segundo um especialista brasileiro no assunto, o texto
aprovado pelo clube dos países ricos é uma vitória de
George W. Bush, que chegou
à Alemanha como alguém a
ser constrangido e saiu de lá
constrangendo (o mundo).
O que a declaração tem de
bom - a frase "reduções
substanciais de emissões
globais"- não é novo: isso já
havia sido acordado pelo G8
em sua reunião de 2005.
E o que ela tem de novo
não é bom. A mão grande de
Bush (mais precisamente, de
Jimmy Connaughton, seu
conselheiro para temas ambientais) no texto acordado
em Heiligendamm se faz
presente na seguinte passagem: "Ao fixarmos um objetivo global para a redução de
emissões no processo que
acordamos hoje envolvendo
todos os maiores emissores,
nós consideraremos seriamente as decisões tomadas
pela União Européia, pelo
Canadá e pelo Japão, que incluem pelo menos reduzir à
metade as emissões globais
em 2050".
A declaração aparentemente comprometida com a
causa ambiental esconde
uma perversidade semântica: "objetivo", ou "goal", em
inglês -palavra que pode ser
entendida como um desejo
de ver algo realizado algum
dia- é diferente da palavra
que a UE gostaria de ver impressa ali: "meta" (em inglês,
"target"), ou seja, uma proposta quantificada de fazer
algo num dado prazo.
Foi "goal" a palavra que
Bush usou na última quinta-feira, quando mudou seu discurso sobre o clima sem mudar sua posição. Foi "goal" a
palavra que a diplomacia
americana emplacou na declaração pífia do G8.
"É mais ou menos a diferença entre você dizer que
tem o objetivo de acabar com
a pobreza na África e fazer
um cheque para eles", comparou Marcelo Furtado, diretor de campanhas do
Greenpeace Brasil.
Para não dizer que não há
nada na declaração, há um sinal importante: ela reconhece que a Convenção do Clima
precisa chegar a um acordo
global em 2009 para substituir o Protocolo de Kyoto, e
que os grandes emissores do
mundo subdesenvolvido deverão participar do processo.
Mas isso não basta para
dar vida ao acordo pós-Kyoto, que deveria se desenhar
no fim deste ano em Bali, na
reunião da Convenção do
Clima da ONU. Como é difícil obter uma decisão importante num grupo de 180 países, havia a esperança de que
os maiores emissores do
mundo apontassem um caminho a ser seguido.
Mais uma vez, George
Walker Bush impediu que isso acontecesse.
Texto Anterior: Penetra: Após perseguição no mar, ativistas são detidos Próximo Texto: Pouca ajuda à África deixa Bono "deprimido" Índice
|