São Paulo, domingo, 08 de junho de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / TERRITÓRIO INIMIGO

Candidatos tentam redesenhar mapa eleitoral dos EUA

Obama e McCain almejam mudar preferência partidária tradicional de Estados americanos na disputa de novembro

Postulantes aproveitam perfis incomuns para atrair eleitorado de sigla rival; analistas prevêem até 16 Estados trocando de lado


SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Assim que ficou claro que Hillary Clinton sairia de cena na disputa pela vaga do Partido Democrata na disputa pela Presidência dos EUA, o senador Barack Obama deu o pontapé inicial oficial em sua campanha nacional. Fez isso quinta-feira, ao visitar o Estado da Virgínia, vizinho à capital, Washington.
Nenhum democrata vence nesse Estado conservador desde 1964. Semanas antes, seu oponente, o senador John McCain, havia surpreendido o mundo político local ao fazer campanha em cidades predominantemente negras de Estados do Sul do país, como Nova Orleans, locais que votaram em Obama em índices superiores a 90% nas primárias.
Considerados corpos estranhos no tradicional processo político norte-americano, impressão que ambos gostam de alimentar, Obama e McCain prometem redesenhar o mapa eleitoral na disputa pela Casa Branca, processo que tomará os próximos cinco meses.
"Não se iluda", diz à Folha o analista político Larry Sabato, expert em disputas presidenciais. "A maioria dos Estados vermelhos continuará vermelha, assim como os Estados azuis continuarão azuis", afirma, referindo-se respectivamente às cores associadas respectivamente aos partidos Republicano e Democrata. "Mas entre 8 e 12 Estados mudarão de lado. Não é pouca coisa."
São os chamados "Estados-pêndulo", os "swing states". Eles podem variar a cada quatro anos, votando num candidato democrata numa eleição num e republicano na outra, ou quebrar décadas de tradição ao mudar de lado. Com isso, se tornam decisivos numa eleição, como aconteceu com a Flórida em 2000 ou Ohio em 2004, ambos a favor de Bush.
Nesse ano, pelo ineditismo da disputa, com o primeiro negro e o mais velho candidato da história do país, há mais Estados-pêndulo do que o usual. Dependendo do cálculo e do analista, vão de 6 a 16, num universo de 50 mais a capital federal. Para Sabato, são apenas dez. Para o site agregador de pesquisas RealClearPolitics, são 11, e quatro não batem com a lista de Sabato.

Tática Obama
Nesse jogo de "War" disputado por gente grande, o habitual seria que os candidatos se concentrassem nesses lugares. Sendo Obama e McCain quem são, porém, o habitual está fora do jogo. Com ajuda do comando do partido e embalado por sua incrível máquina de arrecadação, Obama quer fazer campanha nos 50 Estados, mesmo os já solidamente democratas, como a Califórnia.
Os objetivos, segundo estratégia traçada por David Plouffe, do comando de sua campanha, a quatro mãos com Howard Dean, presidente nacional do partido, são três. Primeiro, ajudar os candidatos nas corridas locais -além da Presidência, estão em jogo 11 governos de Estado, 35 das 100 cadeiras do Senado e todas as 435 da Câmara dos Representantes (deputados federais).
Segundo, conseguir registrar para votar todo um universo de não-eleitores -o voto não é obrigatório nos EUA. Esses tendem a escolher Obama em sua primeira vez, segundo pesquisas de boca-de-urna feitas nas primárias. Terceiro, obrigar seu oponente a gastar dinheiro mesmo em Estados considerados seguros para os republicanos, como o Texas.

Tática McCain
A estratégia do candidato republicano é diferente, mas não menos ousada, segundo Mark Salter, seu assessor mais próximo. Na avaliação dos republicanos, há um universo de democratas esperando uma desculpa para não votar em Obama.
São eleitores frustrados de Hillary -25% dos quais disseram que preferem ficar em casa ou votar em McCain em novembro. E também os chamados "democratas de Reagan", que ajudaram o então presidente republicano a sair vencedor em 49 dos 50 Estados em sua reeleição, em 1984.
Esses a princípio se animaram com Obama, segundo pesquisas de opinião iniciais. Com o passar do tempo e o desdobramento da plataforma progressista do senador, estão retraídos e podem ir para qualquer lado em novembro. Há ainda os que consideram a raça do democrata uma barreira intransponível, total não desprezível que pode chegar a 10%, segundo o Pew Research Center.
Os dois querem ainda vender seu peixe aos públicos em que o oponente se saiu pior na primeira fase das eleições. No caso de Obama, seu calcanhar-de-aquiles se concentra nas mulheres mais velhas (maioria em Ohio), os hispânicos (importantes no Novo México) e os operários brancos (que deram Pensilvânia a Hillary). No de McCain, os evangélicos do país inteiro são terra a conquistar.
"Começar com um Estado sulista como a Virgínia foi inteligente", diz Steve Jarding, um marqueteiro democrata não ligado à campanha de Obama. "Ele passa aos eleitores que não vai se deixar intimidar por velhos padrões de votação."
Toda inovação é bem-vinda, diz Larry Sabato, mas no final a eleição se resumirá ao que disse o presidente Abraham Lincoln (1861-1865) a um novato que pedia seu conselho de como ganhar uma disputa: "Find them; vote them". Em tradução livre, ache onde estão os eleitores; faça-os votar.


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