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SUCESSÃO NOS EUA / TERRITÓRIO INIMIGO
Candidatos tentam redesenhar mapa eleitoral dos EUA
Obama e McCain almejam mudar preferência partidária tradicional de Estados americanos na disputa de novembro
Postulantes aproveitam perfis incomuns para atrair eleitorado de sigla rival; analistas prevêem até 16 Estados trocando de lado
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Assim que ficou claro que Hillary Clinton sairia de cena na
disputa pela vaga do Partido
Democrata na disputa pela Presidência dos EUA, o senador
Barack Obama deu o pontapé
inicial oficial em sua campanha
nacional. Fez isso quinta-feira,
ao visitar o Estado da Virgínia,
vizinho à capital, Washington.
Nenhum democrata vence
nesse Estado conservador desde 1964. Semanas antes, seu
oponente, o senador John
McCain, havia surpreendido o
mundo político local ao fazer
campanha em cidades predominantemente negras de Estados do Sul do país, como Nova
Orleans, locais que votaram em
Obama em índices superiores a
90% nas primárias.
Considerados corpos estranhos no tradicional processo
político norte-americano, impressão que ambos gostam de
alimentar, Obama e McCain
prometem redesenhar o mapa
eleitoral na disputa pela Casa
Branca, processo que tomará os
próximos cinco meses.
"Não se iluda", diz à Folha o
analista político Larry Sabato,
expert em disputas presidenciais. "A maioria dos Estados
vermelhos continuará vermelha, assim como os Estados
azuis continuarão azuis", afirma, referindo-se respectivamente às cores associadas respectivamente aos partidos Republicano e Democrata. "Mas
entre 8 e 12 Estados mudarão
de lado. Não é pouca coisa."
São os chamados "Estados-pêndulo", os "swing states".
Eles podem variar a cada quatro anos, votando num candidato democrata numa eleição
num e republicano na outra, ou
quebrar décadas de tradição ao
mudar de lado. Com isso, se
tornam decisivos numa eleição, como aconteceu com a
Flórida em 2000 ou Ohio em
2004, ambos a favor de Bush.
Nesse ano, pelo ineditismo
da disputa, com o primeiro negro e o mais velho candidato da
história do país, há mais Estados-pêndulo do que o usual.
Dependendo do cálculo e do
analista, vão de 6 a 16, num universo de 50 mais a capital federal. Para Sabato, são apenas
dez. Para o site agregador de
pesquisas RealClearPolitics,
são 11, e quatro não batem com
a lista de Sabato.
Tática Obama
Nesse jogo de "War" disputado por gente grande, o habitual
seria que os candidatos se concentrassem nesses lugares.
Sendo Obama e McCain quem
são, porém, o habitual está fora
do jogo. Com ajuda do comando do partido e embalado por
sua incrível máquina de arrecadação, Obama quer fazer campanha nos 50 Estados, mesmo
os já solidamente democratas,
como a Califórnia.
Os objetivos, segundo estratégia traçada por David Plouffe,
do comando de sua campanha,
a quatro mãos com Howard
Dean, presidente nacional do
partido, são três. Primeiro, ajudar os candidatos nas corridas
locais -além da Presidência,
estão em jogo 11 governos de
Estado, 35 das 100 cadeiras do
Senado e todas as 435 da Câmara dos Representantes (deputados federais).
Segundo, conseguir registrar
para votar todo um universo de
não-eleitores -o voto não é
obrigatório nos EUA. Esses
tendem a escolher Obama em
sua primeira vez, segundo pesquisas de boca-de-urna feitas
nas primárias. Terceiro, obrigar seu oponente a gastar dinheiro mesmo em Estados considerados seguros para os republicanos, como o Texas.
Tática McCain
A estratégia do candidato republicano é diferente, mas não
menos ousada, segundo Mark
Salter, seu assessor mais próximo. Na avaliação dos republicanos, há um universo de democratas esperando uma desculpa
para não votar em Obama.
São eleitores frustrados de
Hillary -25% dos quais disseram que preferem ficar em casa
ou votar em McCain em novembro. E também os chamados "democratas de Reagan",
que ajudaram o então presidente republicano a sair vencedor em 49 dos 50 Estados em
sua reeleição, em 1984.
Esses a princípio se animaram com Obama, segundo pesquisas de opinião iniciais. Com
o passar do tempo e o desdobramento da plataforma progressista do senador, estão retraídos e podem ir para qualquer lado em novembro. Há ainda os que consideram a raça
do democrata uma barreira intransponível, total não desprezível que pode chegar a 10%, segundo o Pew Research Center.
Os dois querem ainda vender
seu peixe aos públicos em que o
oponente se saiu pior na primeira fase das eleições. No caso
de Obama, seu calcanhar-de-aquiles se concentra nas mulheres mais velhas (maioria em
Ohio), os hispânicos (importantes no Novo México) e os
operários brancos (que deram
Pensilvânia a Hillary). No de
McCain, os evangélicos do país
inteiro são terra a conquistar.
"Começar com um Estado
sulista como a Virgínia foi inteligente", diz Steve Jarding, um
marqueteiro democrata não ligado à campanha de Obama.
"Ele passa aos eleitores que não
vai se deixar intimidar por velhos padrões de votação."
Toda inovação é bem-vinda,
diz Larry Sabato, mas no final a
eleição se resumirá ao que disse
o presidente Abraham Lincoln
(1861-1865) a um novato que
pedia seu conselho de como ganhar uma disputa: "Find them;
vote them". Em tradução livre,
ache onde estão os eleitores; faça-os votar.
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