São Paulo, domingo, 08 de junho de 2008

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Namoro entre China e Taiwan tem limites

Estreito vive rara calmaria, mas metas de longo prazo da China continental e da ilha são conflitantes

KATHRIN HILLE
MURE DICKIE
DO FINANCIAL TIMES

Enquanto Taiwan e China se preparam para retornar à mesa de negociações, autoridades em Taipé brincam, dizendo que as conversações são "vinho novo em garrafas velhas".
Previstas para começar em 11 de junho em Pequim, as discussões farão uso de canais antigos: a Fundação de Intercâmbio do Estreito e a Associação para as Relações Transestreito -entidades que foram criadas pelos dois governos há mais de 15 anos para sua primeira tentativa de diálogo.
"Mas os conteúdos são muito diferentes. Em 1992, a primeira tarefa era construir confiança, gradativa", diz um veterano funcionário do Conselho de Assuntos da China Continental de Taiwan. "Desde então, já houve muitos contatos não oficiais, de modo que hoje estamos avançando a passos largos."
O novo presidente de Taiwan, Ma Ying-jeou, já disse que a partir de julho quer vôos fretados de ida e volta à China a cada fim de semana e que espera que turistas chineses possam começar a visitar a ilha. Ma pretende também fechar um acordo amplo de cooperação econômica e espera que os dois lados possam, eventualmente, assinar um acordo de paz.
Assim, não surpreende o fato de terem sido criadas expectativas enormes. Mas os objetivos de longo prazo de Taipé e Pequim ainda são fundamentalmente contraditórios.
"Estamos vendo os dois lados avançando rapidamente agora porque esta é a parte da boa vontade", disse George Tsai, especialista em relações China-Taiwan na Universidade de Cultura Chinesa em Taipé. "Quando passarmos para questões mais delicadas, o ritmo cairá consideravelmente."
Não está claro se a China continental está disposta a fazer concessões em questões que envolvam a soberania da ilha. "Pequim quer cortejar os taiwaneses, mas evitar dar à comunidade internacional a impressão de que deixou de insistir no lema "uma só China'", diz um diplomata em Taipé.
Ao mesmo tempo em que representantes chineses se preparavam para suas conversações amenas com o partido Kuomintang, de Taiwan, eles asseguravam que um texto sobre a ilha formulado em linguagem inequívoca fosse incluído numa declaração com a Coréia do Sul divulgada no mesmo dia.
Nessa declaração, Pequim "reiterou que existe apenas uma China no mundo e que Taiwan constitui uma parte inalienável da China".

Reunificação
A diferença entre as linguagens empregadas por Pequim em contextos políticos distintos alimenta em Taiwan a desconfiança de que a política chinesa em relação à ilha possa facilmente reverter para uma posição mais dura no futuro.
E, mesmo que os dois lados consigam dar conta desse teste, o que existe é uma chance de adiar a divergência básica que os divide, não de resolvê-la. A maioria dos taiwaneses prefere manter o status quo da ilha por tempo indeterminado.
Os cálculos de Pequim são diferentes. "A liderança chinesa espera que laços mais estreitos possam levar a uma tendência irreversível de unificação antes da próxima troca de partido governista em Taiwan", diz Tsai.
Até agora, Pequim vem mostrando seu lado ameno. Após uma reunião há duas semanas entre o presidente chinês, Hu Jintao, e o presidente do Kuomintang, o diretor do Escritório de Assuntos de Taiwan do Partido Comunista declarou que "após oito anos de chuvas e tempestades no estreito [que separa a China da ilha], o céu ficou limpo".


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