São Paulo, terça-feira, 08 de junho de 2010

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Israel apura incidente por conta própria

País rejeita proposta da ONU de investigação internacional e abre dois inquéritos sobre a ação em alto-mar

Marinha mata quatro membros da Brigada dos Mártires de Al Aqsa em roupa de mergulho diante da costa de Gaza


MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

Após rejeitar proposta da ONU de investigação internacional, Israel decidiu abrir dois inquéritos domésticos sobre a ação militar em alto-mar que deixou nove ativistas mortos há uma semana.
A apuração não deve se concentrar só na interceptação da frota que tentava romper o cerco naval à faixa de Gaza, mas tentar responder ao questionamento crescente sobre a legalidade do bloqueio ao território palestino.
Sob pressão externa para investigar a ação no navio humanitário Mavi Marmara, que teve resultado desastroso para a imagem do país e aumentou o seu isolamento internacional, Israel fará dois inquéritos, um militar e um civil.
Com eles, o governo busca aplacar as críticas internacionais e satisfazer o seu principal aliado, os EUA. O incidente no Mediterrâneo preocupa Washington não apenas pelo potencial de inflamar a região mas também porque dilui seus esforços para aplicar sanções contra o Irã perante o Conselho de Segurança da ONU, que pode votar o tema amanhã.
Para dar credibilidade ao processo, o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, deve incluir na comissão de inquérito dois juristas estrangeiros, inclusive um americano, informou o jornal "Haaretz".
Uma outra investigação será conduzida pelas Forças Armadas, a fim de apurar se houve falhas no planejamento e condução da interceptação do navio. Além dos mortos, a ação deixou dezenas de feridos, entre eles nove soldados israelenses.
A ação foi duramente criticada dentro de Israel, principalmente pela suposta falta de informação dos soldados de que havia um grupo em meio aos cerca de 600 passageiros do Mavi Marmara disposto a usar violência para rechaçar uma abordagem.

NEUTRALIDADE
O comando militar nomeou o general da reserva Giora Eiland para conduzir a investigação. Embora seja conhecido por defender o bloqueio à faixa de Gaza a fim de impedir que cheguem armas ao Hamas, Eiland é uma voz dissonante entre a elite militar israelense, por não ser contrário ao diálogo com o grupo islâmico.
Israel quer mostrar que tem capacidade de investigar com neutralidade a ação que despertou uma onda de condenação mundial e aumentou a pressão contra o bloqueio à faixa de Gaza, que a própria secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, chamou de "insustentável".
Após rejeitar a proposta do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, de criar um time de investigação internacional com a participação de turcos e israelenses, Netanyahu age para esfriar as críticas, tanto externas como internas.

CENSURA
Ontem a oposição apresentou no Parlamento uma moção de censura contra o governo e reforçou o pedido para que investigue as falhas cometidas na interceptação do Mavi Marmara, 1 dos 6 navios da frota humanitária.
A moção foi rejeitada, mas o governo não escapou dos ataques da líder da oposição, Tzipi Livni, que acusou Netanyahu de isolar Israel. Livni, porém, era chanceler do governo Ehud Olmert, e participou do processo decisório que levou ao ataque a Gaza que deixou mais de mil mortos entre dezembro de 2008 e janeiro de 2009.

MORTES
A Marinha israelense matou ontem quatro membros da Brigada dos Mártires de Al Aqsa, em frente à costa de Gaza. Eles estavam em roupas de mergulho e seguiam rumo ao norte de Israel.
O grupo, considerado terrorista por EUA e União Europeia e ligado ao Fatah, facção palestina rival do Hamas, informou que os mergulhadores treinavam para uma "operação" contra Israel, codinome geralmente usado para atentados.

Egito não impõe prazo para fechar passagem à faixa de Gaza

folha.com.br/mu747003


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