São Paulo, quarta-feira, 08 de junho de 2011

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ANÁLISE

Até eleição, presidente tem pouco tempo e nenhum meio de reavivar a economia

VINICIUS TORRES FREIRE
COLUNISTA DA FOLHA

Barack Obama está no mato sem cachorro no que diz respeito à economia. No curto prazo, quase não dispõe de meios de estimular a atividade econômica. Curto prazo significa mais ou menos um ano, o tempo que resta até a campanha eleitoral entrar no momento decisivo.
Entre o final de maio e o início deste junho, ficou evidente que a economia americana deve crescer em torno de 2%, em vez de algo perto de 4%, como se estimava até o início do ano. Ainda que cresça, será uma melhoria pouco sentida pela massa dos americanos.
O valor médio real dos salários está estagnado faz quatro anos. A duração média do desemprego é de 40 semanas. A Grande Recessão (2008-10) eliminou 107% dos empregos criados no ciclo anterior de crescimento (2003-07). Nos ciclos de expansão-recessão posteriores à Segunda Guerra, a média de destruição de empregos era de 23% e jamais passara de 53% (em 1957-1958).
O desemprego é o dobro do registrado entre os anos 1995-2008. A recuperação econômica de agora é a dos lucros e a da finança.
Como seria possível estimular a economia?
Ontem, Ben Bernanke, o presidente do Banco Central americano (o Fed), disse que não pretende iniciar outro "relaxamento monetário".
Como os juros básicos são nulos, restou ao Fed "imprimir dinheiro". Isto é, comprar títulos da dívida pública e títulos privados, o que reduz a taxa de juros de longo prazo, evita a deflação, inunda o mercado de dinheiro e, em tese, ressuscita o crédito.
Na prática, o Fed assim também reduz os custos de financiamento do governo e infla o valor dos ativos do setor privado, evitando novas quebradeiras e estimulando novos investimentos.
O Fed evitou a temível deflação, ajudou a elevar os ativos privados (ações, papéis de empresas e até de commodities, como petróleo e comida). Mas não ressuscitou o mercado imobiliário, de novo em depressão. Nem reavivou a economia "real".
O Fed teme que novo estímulo monetário tenha ainda menos poder de fazer rodar a economia e, pior, cause inflação -a alta do petróleo é um dos fatores da desaceleração econômica de agora.
Obama, por sua vez, não tem apoio político no Congresso para um novo programa de estímulo fiscal (gastos do governo), plano que insinuou ontem vagamente numa desanimada entrevista.
Pior, seu governo pode ter de cortar ainda mais despesas, pois a maioria republicana o chantageia com a hipótese de impedir o governo de fazer mais dívida pública.


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