São Paulo, domingo, 08 de julho de 2007

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Barak Obama avança na corrida do ouro

Campeão de arrecadação, senador novato começa a criticar publicamente Hillary Clinton, que tem a dianteira nas pesquisas

Político consegue mais doadores em campanha à Presidência que deve custar US$ 1 bilhão; críticos dizem que ele não tem programa

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL À FILADÉLFIA (PENSILVÂNIA)

O escritório de campanha de Barack Obama começou a vazar que o senador novato pelo Estado de Illinois baterá novos recordes de arrecadação neste trimestre. Ato seguinte, a imprensa especializada passou a ouvir do comando de Hillary Clinton, sua principal rival na disputa pela candidatura democrata à Presidência, que o marido da ex-primeira-dama participaria pela primeira vez da campanha ao lado da mulher. E discursaria.
O que fez a controlada senadora por Nova York, à frente das pesquisas de intenção de voto com folgados 18 pontos percentuais, perder a calma e lançar mão do que os analistas estão chamando de "a arma secreta Bill"? A ascensão do político negro de 45 anos num dos campos em que o casal de democratas era considerado imbatível: o de doações eleitorais.
De abril a junho, Barack Obama arrecadou mais dinheiro, de mais gente, com o maior número de doadores via internet e de maneira mais pulverizada do que todos os outros pré-candidatos à sucessão de George W. Bush no mesmo período, democratas ou republicanos. Foram US$ 32,5 milhões, número só batido em época similar por outro político até hoje: George W. Bush, nas eleições de 2004.
É muito dinheiro, mesmo para os padrões da atual corrida presidencial americana, que pode chegar ao recorde histórico de US$ 1 bilhão gastos pelos dois candidatos majoritários até o dia do voto, em 4 de novembro de 2008. Apesar de estar em seu primeiro cargo legislativo nacional, Obama conseguiu mais do que o dobro do ex-prefeito de Nova York Rudolph Giuliani, o principal pré-candidato republicano, e US$ 5,5 milhões mais do que Hillary.
"Não é o dinheiro que impressiona tanto, mas o número de pessoas", disse Joe Trippi, um dos estrategistas da campanha do ex-senador John Edwards, também pré-candidato democrata, que levantou US$ 9 milhões no trimestre passado.
Mais de 250 mil potenciais eleitores deram dinheiro a Obama até agora. Desses, boa parte contribuiu com até US$ 100 -o limite legal é de US$ 2,3 mil- e usou a internet para isso, depois de se informar em sites populares como o You Tube, num fenômeno já batizado de "arrecadação viral", numa referência à forma de propaganda camuflada que usa a rede para se espalhar.
Isso demonstra que, embora Hillary e Bill ainda atraiam os tubarões, Obama é o preferido dos peixinhos -e dos peixinhos mais jovens. "Nossos 258 mil doadores são nosso alicerce e servirão como um exército de voluntários sem precedentes nos 50 Estados", escreveu por e-mail David Plouffe, coordenador da campanha de Obama.
Seu sucesso entre os jovens também é um dos argumentos usados por seus críticos. Para o estrategista democrata James Carville, "falta conteúdo" ao candidato. Ele ecoa outros analistas, que reclamam do fato de a campanha de Obama ter feito os comerciais mais comentados até agora -mas ainda não ter apresentado um programa de governo que possa realmente ser chamado como tal.
De qualquer maneira, o dinheiro no banco fez com que o senador colocasse as luvas e se sentisse seguro de partir para o confronto direto com sua companheira de partido. Até então, os comandos das duas campanhas se limitavam a pequenos golpes mútuos, como quando o time do senador classificou Hillary Clinton como "democrata pelo Estado de Punjab", ao culpá-la pela terceirização de empregos norte-americanos por conta das boas relações que mantém com milionários indianos (depois, o candidato diria que o texto foi liberado sem sua aprovação).
Na última quinta-feira, no entanto, o próprio faria referência à concorrente num evento na Filadélfia. ""Mudar não pode ser apenas mais um slogan", cutucou o senador. Dias antes, Hillary, 59, havia anunciado o novo slogan de sua campanha: "Pronta para mudar, pronta para liderar".


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