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Franquias da Al Qaeda exploram novos redutos
Norte da África e Líbano são frentes de expansão de grupos de inspiração jihadista
Iraque vira centro de treinamento e motivação; bases no Paquistão e no Afeganistão, golpeadas após 2001, se recompõem
Baranas Khan - 01.jun.2007/France Presse
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Morador de Killi Nalai, fronteira entre Afeganistão e Paquistão, passa diante de muro com saudação a "combatentes sagrados", como o mulá Omar; região é reduto do Taleban e tem bases da Al Qaeda
ROULA KHALEF
STEPHEN FIDLER
DO "FINANCIAL TIMES"
Seis anos depois dos atentados terroristas contra Nova
York e Washington, a Al Qaeda
perdeu muito de sua eficiência
como organização. O refúgio de
que ela desfrutava no Afeganistão foi destruído e muitos de
seus líderes foram capturados
ou mortos. Mas o fanatismo
violento que a Al Qaeda promovia não só sobreviveu como
proliferou, auxiliado, na opinião de muitos especialistas,
pela condução da "guerra contra o terrorismo" liderada pelos
Estados Unidos.
Na semana passada a Al Qaeda voltou a ser o centro dos temores em um país do Ocidente,
depois que o premiê britânico,
Gordon Brown, acusou os suspeitos de um complô terrorista
em Londres e Glasgow (Escócia) de terem ligações com a organização de Osama bin Laden.
A ordem da Al Qaeda parece
estar prosperando, com novos
baluartes em ascensão no momento em que seus antigos redutos são desmantelados. Embora as medidas repressivas
adotadas na Arábia Saudita e na
Indonésia pareçam ter reduzido a ameaça de jihad (guerra
santa), as frentes de combate
da organização se expandiram
na África do Norte e no Líbano.
Os ataques de militantes inspirados pela Al Qaeda não chegaram à escala espetacular do
11 de Setembro, mas seu número vem se multiplicando e seu
alcance geográfico ganhou diversidade. Líderes de serviços
de segurança árabes dizem que
adesões voluntárias, muitas vezes via internet, estão substituindo o processo de radicalização que, no passado, costumava ser conduzido em mesquitas e escolas religiosas.
De acordo com funcionários
de governos ocidentais, um núcleo de líderes da Al Qaeda continua ativo na província do Waziristão, na fronteira entre o
Paquistão e o Afeganistão, oferecendo apoio logístico e treinamento em explosivos a alguns militantes, ou nada mais
que inspiração a outros.
Pólo iraquiano
O Iraque se estabeleceu como a mais importante das novas fronteiras do terrorismo.
Agora, o país desempenha o papel que o Afeganistão tinha nos
anos 80, o de imã para os militantes árabes que procuram a
guerra santa. A invasão norte-americana e a presença continuada de tropas estrangeiras
no país oferecem, além disso,
uma nova e poderosa narrativa
para embasar o recrutamento
de combatentes para a jihad no
Oriente Médio e na Europa.
"O Iraque é uma nova fonte
de recrutas, uma plataforma
para operações contra o Ocidente e uma fonte de conhecimento especializado, fornecido
por antigos oficiais das Forças
Armadas iraquianas", diz um
funcionário ocidental.
O Iraque não é um refúgio seguro para simpatizantes da Al
Qaeda, como era o Afeganistão
sob o Taleban. A Al Qaeda está
sob severa repressão no país e é
alvo de rejeição pela maioria
xiita, pela minoria curda e por
muitos árabes sunitas.
Mas os especialistas afirmam
que o Iraque ampliou o alcance
destrutivo da Al Qaeda, o que
gera a perspectiva de efeitos colaterais quando os militantes
treinados em solo iraquiano
voltarem a seus países.
Intermediários
As autoridades agora temem
que militantes inspirados pela
Al Qaeda estejam tentando
criar frentes de batalha na África, Síria e nos territórios palestinos. Mesmo no Irã, os funcionários vêem indicações de que
"intermediários da Al Qaeda"
estão transmitindo mensagens
e dinheiro entre a alta liderança, localizada no Paquistão, e
diversos grupos militantes.
Caso isso seja verdade, não se
sabe se esses operadores estão
presentes no país com a anuência das autoridades iranianas,
que consideram a Al Qaeda, um
grupo sunita, como ameaça à
República Islâmica xiita em seu
país, mas se beneficiam da luta
contra os Estados Unidos que a
organização conduz no Iraque.
"Como organização operacional, a Al Qaeda se tornou
muito frágil devido à repressão
da polícia e dos serviços de informações, mas como organização ideológica ela obteve sucesso imenso, sem precedentes", diz Rohan Gunaratna, autor de um livro sobre o grupo.
Waziristão e Magreb
Alguns agentes de organizações de combate ao terror dizem, porém, que o comando
central da Al Qaeda está se preparando para retomar as atividades, da base da organização
no Waziristão, na fronteira entre o Paquistão e o Afeganistão.
Desde que as autoridades paquistanesas chegaram a um
acordo com líderes tribais, no
ano passado, a pressão sobre os
agentes da Al Qaeda diminuiu.
Os principais líderes recuperaram parcialmente sua capacidade de organização e comunicação, voltando a ter capacidade de contato com grupos islâmicos em outros lugares.
"A Al Qaeda precisou de tempo para reconstruir suas conexões externas. Mas conseguiu
fazê-lo ao longo dos dois últimos anos", disse Gavin Proudley, diretor de inteligência da
Quest, consultoria londrina.
Os líderes da Al Qaeda estão
encorajando grupos autônomos a se redefinirem como
franquias da organização, e que
enfatizem suas ligações com o
comando central. O primeiro
sucesso surgiu na Argélia, onde
o antigo Grupo Salafista de Pregação e Combate (GSPC) assumiu em setembro o nome Al
Qaeda para o Magreb Islâmico.
Até agora, porém, essas conexões vêm demonstrando mais
valor de propaganda que valor
operacional, e não há sinais de
que seus ataques sejam comandados a partir do Paquistão.
Mas autoridades européias e
norte-americanas dizem que o
GSPC estaria operando campos
de treinamento em regiões desérticas remotas no Sahel, para
militantes da África do Norte e
do restante do mundo muçulmano. Isso sugere que a organização poderia representar perigo bem além de suas fronteiras.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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