São Paulo, domingo, 08 de julho de 2007

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Franquias da Al Qaeda exploram novos redutos

Norte da África e Líbano são frentes de expansão de grupos de inspiração jihadista

Iraque vira centro de treinamento e motivação; bases no Paquistão e no Afeganistão, golpeadas após 2001, se recompõem

Baranas Khan - 01.jun.2007/France Presse
Morador de Killi Nalai, fronteira entre Afeganistão e Paquistão, passa diante de muro com saudação a "combatentes sagrados", como o mulá Omar; região é reduto do Taleban e tem bases da Al Qaeda

ROULA KHALEF
STEPHEN FIDLER
DO "FINANCIAL TIMES"

Seis anos depois dos atentados terroristas contra Nova York e Washington, a Al Qaeda perdeu muito de sua eficiência como organização. O refúgio de que ela desfrutava no Afeganistão foi destruído e muitos de seus líderes foram capturados ou mortos. Mas o fanatismo violento que a Al Qaeda promovia não só sobreviveu como proliferou, auxiliado, na opinião de muitos especialistas, pela condução da "guerra contra o terrorismo" liderada pelos Estados Unidos. Na semana passada a Al Qaeda voltou a ser o centro dos temores em um país do Ocidente, depois que o premiê britânico, Gordon Brown, acusou os suspeitos de um complô terrorista em Londres e Glasgow (Escócia) de terem ligações com a organização de Osama bin Laden.
A ordem da Al Qaeda parece estar prosperando, com novos baluartes em ascensão no momento em que seus antigos redutos são desmantelados. Embora as medidas repressivas adotadas na Arábia Saudita e na Indonésia pareçam ter reduzido a ameaça de jihad (guerra santa), as frentes de combate da organização se expandiram na África do Norte e no Líbano.
Os ataques de militantes inspirados pela Al Qaeda não chegaram à escala espetacular do 11 de Setembro, mas seu número vem se multiplicando e seu alcance geográfico ganhou diversidade. Líderes de serviços de segurança árabes dizem que adesões voluntárias, muitas vezes via internet, estão substituindo o processo de radicalização que, no passado, costumava ser conduzido em mesquitas e escolas religiosas. De acordo com funcionários de governos ocidentais, um núcleo de líderes da Al Qaeda continua ativo na província do Waziristão, na fronteira entre o Paquistão e o Afeganistão, oferecendo apoio logístico e treinamento em explosivos a alguns militantes, ou nada mais que inspiração a outros.

Pólo iraquiano
O Iraque se estabeleceu como a mais importante das novas fronteiras do terrorismo. Agora, o país desempenha o papel que o Afeganistão tinha nos anos 80, o de imã para os militantes árabes que procuram a guerra santa. A invasão norte-americana e a presença continuada de tropas estrangeiras no país oferecem, além disso, uma nova e poderosa narrativa para embasar o recrutamento de combatentes para a jihad no Oriente Médio e na Europa.
"O Iraque é uma nova fonte de recrutas, uma plataforma para operações contra o Ocidente e uma fonte de conhecimento especializado, fornecido por antigos oficiais das Forças Armadas iraquianas", diz um funcionário ocidental.
O Iraque não é um refúgio seguro para simpatizantes da Al Qaeda, como era o Afeganistão sob o Taleban. A Al Qaeda está sob severa repressão no país e é alvo de rejeição pela maioria xiita, pela minoria curda e por muitos árabes sunitas.
Mas os especialistas afirmam que o Iraque ampliou o alcance destrutivo da Al Qaeda, o que gera a perspectiva de efeitos colaterais quando os militantes treinados em solo iraquiano voltarem a seus países.

Intermediários
As autoridades agora temem que militantes inspirados pela Al Qaeda estejam tentando criar frentes de batalha na África, Síria e nos territórios palestinos. Mesmo no Irã, os funcionários vêem indicações de que "intermediários da Al Qaeda" estão transmitindo mensagens e dinheiro entre a alta liderança, localizada no Paquistão, e diversos grupos militantes.
Caso isso seja verdade, não se sabe se esses operadores estão presentes no país com a anuência das autoridades iranianas, que consideram a Al Qaeda, um grupo sunita, como ameaça à República Islâmica xiita em seu país, mas se beneficiam da luta contra os Estados Unidos que a organização conduz no Iraque.
"Como organização operacional, a Al Qaeda se tornou muito frágil devido à repressão da polícia e dos serviços de informações, mas como organização ideológica ela obteve sucesso imenso, sem precedentes", diz Rohan Gunaratna, autor de um livro sobre o grupo.

Waziristão e Magreb
Alguns agentes de organizações de combate ao terror dizem, porém, que o comando central da Al Qaeda está se preparando para retomar as atividades, da base da organização no Waziristão, na fronteira entre o Paquistão e o Afeganistão. Desde que as autoridades paquistanesas chegaram a um acordo com líderes tribais, no ano passado, a pressão sobre os agentes da Al Qaeda diminuiu.
Os principais líderes recuperaram parcialmente sua capacidade de organização e comunicação, voltando a ter capacidade de contato com grupos islâmicos em outros lugares. "A Al Qaeda precisou de tempo para reconstruir suas conexões externas. Mas conseguiu fazê-lo ao longo dos dois últimos anos", disse Gavin Proudley, diretor de inteligência da Quest, consultoria londrina.
Os líderes da Al Qaeda estão encorajando grupos autônomos a se redefinirem como franquias da organização, e que enfatizem suas ligações com o comando central. O primeiro sucesso surgiu na Argélia, onde o antigo Grupo Salafista de Pregação e Combate (GSPC) assumiu em setembro o nome Al Qaeda para o Magreb Islâmico.
Até agora, porém, essas conexões vêm demonstrando mais valor de propaganda que valor operacional, e não há sinais de que seus ataques sejam comandados a partir do Paquistão. Mas autoridades européias e norte-americanas dizem que o GSPC estaria operando campos de treinamento em regiões desérticas remotas no Sahel, para militantes da África do Norte e do restante do mundo muçulmano. Isso sugere que a organização poderia representar perigo bem além de suas fronteiras.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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