São Paulo, terça-feira, 08 de julho de 2008

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Bogotá corta mediação européia com Farc

Fortalecido com resgate de Ingrid, governo da Colômbia acusa enviados de França e Suíça de terem laços com a guerrilha

Acusação parte de laptops de Reyes, apreendidos em março; Bogotá já admitiu ter usado missão mediadora para enganar guerrilheiros

John Vizcaino/Reuters
Policial abraça Emperatriz Guevara, mãe de oficial morto no cativeiro pelas Farc, em cerimônia em homenagem aos resgatados

DA REDAÇÃO

Fortalecido pelo resgate de 15 reféns na semana passada, o governo da Colômbia afirmou ontem que "perdeu a confiança" nos mediadores de França e Suíça. A partir de agora, anunciou, fará contato direto com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) para acordar a soltura de 25 reféns políticos e 750 seqüestrados comuns em poder da guerrilha.
A decisão foi divulgada pelo alto comissário para a Paz do governo, Luis Carlos Restrepo. Ao conseguir libertar a franco-colombiana Ingrid Betancourt sem acordo e sem derramamento de sangue, Bogotá se livrou da pressão internacional liderada pela França, que se opunha à opção do resgate e pressionava por negociação de um acordo humanitário.
"Preferimos um contato, entre outras coisas para falar de paz. Acreditamos que já não tem sentido continuar falando de acordo humanitário como passo prévio", disse Restrepo.
O motivo alegado para a dispensa dos emissários dos chamados "países amigos" -França, Suíça e Espanha- são dúvidas sobre a conduta do mediador suíço, Jean Pierre Gontard, e do francês, Nöel Saéz. Bogotá acusa Gontard de ter portado US$ 500 mil das Farc e diz que Saéz propunha retirar a guerrilha das listas de grupos terroristas mantidas pela União Européia e os EUA.
"Em muitas ocasiões, eles parecem mais conselheiros políticos das Farc do que facilitadores", afirmou Restrepo.
As acusações se baseiam em supostos documentos achados nos computadores de Raúl Reyes, número dois da guerrilha, morto em março. Desde então, Bogotá vem vazando textos dos laptops -como os que acusam os governos de Venezuela e do Equador de laços com a guerrilha-, mas só agora resolveu envolver os mediadores.

Uso dos emissários
Segundo Restrepo, no dia 27 de junho o próprio presidente Álvaro Uribe comunicou "em tom muito enérgico" sua desconfiança aos emissários.
No dia seguinte, porém, os estrangeiros encontraram, com autorização de Bogotá, um enviado da cúpula das Farc, em busca de acordo pelos reféns.
O ministro da Defesa, Juan Manuel Santos, admitiu que vazou à imprensa a reunião para ajudar no enredo que supostamente enganou as Farc e livrou os reféns no último dia 2. "[O governo] deu a eles [emissários] todas as facilidades para que a reunião tivesse êxito", disse uma fonte do palácio de governo ao jornal colombiano "El Tiempo", em texto publicado no dia 30.
Nem Gontard nem Saéz falaram sobre as acusações. Ambos já haviam dito que falaram com um enviado do líder da guerrilha, Alfonso Cano, interessado em negociar um acordo humanitário. Disseram que o resgate foi uma "surpresa" para eles.
Anteontem, a Embaixada da Suíça em Bogotá, em nota, explicou que Gontard é um conselheiro externo do governo, que atua com anuência de Bogotá, e cujas ações ou falas "não comprometem necessariamente o governo suíço". Sobre a acusação de portar US$ 500 mil, citou que o mediador atuou na resolução de um seqüestro extorsivo em 2000, que pode ter envolvido dinheiro.
"Gontard tem toda nossa confiança. Tem feito excelente trabalho", disse Philippe Jeannerat, porta-voz da Chancelaria suíça.
Até o fechamento desta edição, a França não havia se pronunciado. Anteontem, Ingrid Betancourt afirmou que o presidente francês, Nicolas Sarkozy, determinou a Nöel Saéz que continuasse as tratativas com a guerrilha para a libertação dos demais reféns. Alguns familiares temem que, sem os holofotes internacionais, Bogotá intensifique o cerco militar aos cativeiros, com risco para os seqüestrados.


Com agências internacionais


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