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Bogotá corta mediação européia com Farc
Fortalecido com resgate de Ingrid, governo da Colômbia acusa enviados de França e Suíça de terem laços com a guerrilha
Acusação parte de laptops de Reyes, apreendidos em março; Bogotá já admitiu ter usado missão mediadora para enganar guerrilheiros
John Vizcaino/Reuters
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Policial abraça Emperatriz Guevara, mãe de oficial morto no cativeiro pelas Farc, em cerimônia em homenagem aos resgatados
DA REDAÇÃO
Fortalecido pelo resgate de
15 reféns na semana passada, o
governo da Colômbia afirmou
ontem que "perdeu a confiança" nos mediadores de França e
Suíça. A partir de agora, anunciou, fará contato direto com as
Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) para
acordar a soltura de 25 reféns
políticos e 750 seqüestrados
comuns em poder da guerrilha.
A decisão foi divulgada pelo
alto comissário para a Paz do
governo, Luis Carlos Restrepo.
Ao conseguir libertar a franco-colombiana Ingrid Betancourt
sem acordo e sem derramamento de sangue, Bogotá se livrou da pressão internacional
liderada pela França, que se
opunha à opção do resgate e
pressionava por negociação de
um acordo humanitário.
"Preferimos um contato, entre outras coisas para falar de
paz. Acreditamos que já não
tem sentido continuar falando
de acordo humanitário como
passo prévio", disse Restrepo.
O motivo alegado para a dispensa dos emissários dos chamados "países amigos" -França, Suíça e Espanha- são dúvidas sobre a conduta do mediador suíço, Jean Pierre Gontard,
e do francês, Nöel Saéz. Bogotá
acusa Gontard de ter portado
US$ 500 mil das Farc e diz que
Saéz propunha retirar a guerrilha das listas de grupos terroristas mantidas pela União Européia e os EUA.
"Em muitas ocasiões, eles parecem mais conselheiros políticos das Farc do que facilitadores", afirmou Restrepo.
As acusações se baseiam em
supostos documentos achados
nos computadores de Raúl Reyes, número dois da guerrilha,
morto em março. Desde então,
Bogotá vem vazando textos dos
laptops -como os que acusam
os governos de Venezuela e do
Equador de laços com a guerrilha-, mas só agora resolveu envolver os mediadores.
Uso dos emissários
Segundo Restrepo, no dia 27
de junho o próprio presidente
Álvaro Uribe comunicou "em
tom muito enérgico" sua desconfiança aos emissários.
No dia seguinte, porém, os
estrangeiros encontraram,
com autorização de Bogotá, um
enviado da cúpula das Farc, em
busca de acordo pelos reféns.
O ministro da Defesa, Juan
Manuel Santos, admitiu que
vazou à imprensa a reunião para ajudar no enredo que supostamente enganou as Farc e livrou os reféns no último dia 2.
"[O governo] deu a eles [emissários] todas as facilidades para
que a reunião tivesse êxito",
disse uma fonte do palácio de
governo ao jornal colombiano
"El Tiempo", em texto publicado no dia 30.
Nem Gontard nem Saéz falaram sobre as acusações. Ambos
já haviam dito que falaram com
um enviado do líder da guerrilha, Alfonso Cano, interessado
em negociar um acordo humanitário. Disseram que o resgate
foi uma "surpresa" para eles.
Anteontem, a Embaixada da
Suíça em Bogotá, em nota, explicou que Gontard é um conselheiro externo do governo,
que atua com anuência de Bogotá, e cujas ações ou falas "não
comprometem necessariamente o governo suíço". Sobre
a acusação de portar US$ 500
mil, citou que o mediador
atuou na resolução de um seqüestro extorsivo em 2000, que
pode ter envolvido dinheiro.
"Gontard tem toda nossa
confiança. Tem feito excelente
trabalho", disse Philippe Jeannerat, porta-voz da Chancelaria suíça.
Até o fechamento desta edição, a França não havia se pronunciado. Anteontem, Ingrid
Betancourt afirmou que o presidente francês, Nicolas Sarkozy, determinou a Nöel Saéz
que continuasse as tratativas
com a guerrilha para a libertação dos demais reféns. Alguns
familiares temem que, sem os
holofotes internacionais, Bogotá intensifique o cerco militar
aos cativeiros, com risco para
os seqüestrados.
Com agências internacionais
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