São Paulo, quarta, 8 de julho de 1998

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Relatório toca em principal foco de tensão

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
em São Paulo

O relatório da Human Rights Watch sobre abusos contra direitos humanos praticados pelas polícias das principais cidades norte-americanas toca num dos principais focos de tensão urbana dos EUA.
Os graves conflitos urbanos, com saques e mortes, ocorridos em Washington, em 1991, e em Los Angeles, em 1992, após incidentes de violência de policiais de um grupo contra suspeitos de outro (negros contra hispânicos no primeiro caso; brancos contra negro no segundo) foram explosões que podem se repetir a qualquer momento.
Como quase todas as instituições hierarquizadas do mundo, as polícias dos EUA se caracterizam por um forte "esprit de corps" que dificulta a apuração de infrações de seus integrantes. Quando incidentes de grande repercussão ocorrem, providências são tomadas, mas a tendência é de as coisas voltarem ao mesmo ponto.
A generalização do sentimento de que a polícia de Los Angeles, por exemplo, procede de acordo com critérios racistas contra os negros é tão generalizada que, graças a esse argumento, a defesa de O. J. Simpson obteve a sua absolvição diante de um júri de negros, apesar de evidências de que ele havia cometido o crime.
Isso, depois do episódio envolvendo o motorista negro Rodney King (espancado por quatro policiais brancos) ter provocado uma reviravolta no comando da polícia e ter gerado uma atenção muito maior sobre a questão racial.
Em Nova York, o incidente do haitiano Abner Louima ajudou a deixar mais claro o que os críticos do prefeito Rudy Giuliani já vinham denunciando: que um dos subprodutos da celebrada política de "tolerância zero" com o crime havia sido o aumento da brutalidade policial.
Mesmo assim, Giuliani continua a receber crédito pela diminuição dos índices de criminalidade, o que se deve muito mais a anos de prosperidade econômica nacional do que à ação da Prefeitura.
É improvável que o relatório da Human Rights Watch tenha efeitos práticos. Mas seria bom se elevasse o nível de conhecimento do público em relação à polícia de suas cidades.



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