São Paulo, quarta, 8 de julho de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PASSADO NAZISTA

Empresa automobilística alemã anuncia fundo para pagar pelo uso de mão-de-obra gratuita na Segunda Guerra
VW vai indenizar "escravos da guerra'

das agências internacionais

A empresa de veículos alemã Volkswagen anunciou ontem que irá criar um fundo para indenizar a mão-de-obra escrava que trabalhou para ela durante a Segunda Guerra Mundial (1939-45).
No mês passado, a empresa havia se negado a pagar as indenizações, afirmando que o responsável pela mão-de-obra escrava era o governo alemão da época, então sob domínio nazista. Segundo a Volkswagen, as indenizações deveriam ser requeridas ao atual governo alemão.
O governo afirmou que os pedidos de indenização por trabalho escravo durante o regime nazista não eram mais possíveis.
Ontem, a indústria de veículos, fundada em 1938, sob o governo de Adolf Hitler, disse ter voltado atrás por "reconhecer as responsabilidades históricas e morais derivadas do uso de mão-de-obra escrava durante a Segunda Guerra Mundial". A Volkswagen usou trabalho escravo em sua principal indústria, à época instalada em Wolfsburg.
Os detalhes do plano de indenização devem ser anunciados no início de setembro.

Judeus húngaros

A decisão da Volkswagen foi divulgada semanas após um grupo de 30 judeus de origem húngara ter visto recusada sua demanda por indenização.
Inicialmente, a empresa propôs formar um fundo de compensação que seria administrado por autoridades do governo alemão. O advogado do grupo, Klaus von Mueunchhausen, afirmou, no dia 17 do mês passado, que iria acionar judicialmente a Volkswagen porque a proposta apresentada não era "legalmente realista".
Segundo Von Mueunchhausen, outras empresas que instituíram um fundo semelhante conseguiram se livrar do pagamento de indenizações.
O advogado disse que pretendia obter os salários não-recebidos por seus clientes, que agora têm idades em torno de 70 anos.
Quando eram adolescentes, os judeus foram enviados do campo de concentração de Auschwitz, na Polônia, para trabalhar na Volkswagen.
O grupo estava entre as cerca de 12 milhões de pessoas que foram forçadas a trabalhar sem receber salários na Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial. A Volkswagen, segundo Bernd Graef, seu porta-voz, está entre as 12 mil empresas alemãs que usaram trabalho escravo durante o conflito.
No mês passado, o candidato a chanceler (premiê) da oposição, Gerhard Schröder, que lidera as pesquisas de intenção de voto para as próximas eleições, marcadas para setembro, pediu que a Volkswagen pagasse as indenizações.
Uwe Karste, porta-voz do governo da Baixa Saxônia, Estado governado por Schröder, afirmou que a decisão da Volkswagen, a quarta maior empresa do ramo automobilístico do mundo, era um passo na direção certa.

Outras denúncias

Em dezembro do ano passado, o sindicato de metalúrgicos da empresa alemã IG Metall afirmou que a maior companhia industrial do país, Daimler-Benz AG, e Robert Bosch, fabricante de componentes eletrônicos e automobilísticos, tiveram lucros com o emprego de mão-de-obra escrava durante a Segunda Guerra.
No final do conflito, a Daimler, segundo o sindicato, tinha 25 mil trabalhadores escravos.
A Siemens AG, outra importante empresa alemã, também é acusada de haver usado mão-de-obra escrava durante a Segunda Guerra Mundial.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.