São Paulo, domingo, 08 de agosto de 2004

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Fé renasce no país, mas sob controle estatal

DE PEQUIM

Depois de ser banida durante a Revolução Cultural (1966-1976), a religião renasceu na China a partir do fim dos anos 70, e há cerca de 200 milhões de fiéis entre o 1,3 bilhão de chineses. Existem cinco religiões reconhecidas pelo Estado: budismo, taoísmo, islamismo, protestantismo e catolicismo. São dirigidas por entidades ligadas ao governo, como a Associação Católica Patriótica da China.
A que mais atrai seguidores é o budismo, seguido do taoísmo. O islamismo está em terceiro lugar, com 18 milhões de praticantes. Em seguida, aparecem o protestantismo e o catolicismo, com 10 milhões e 5 milhões, respectivamente, nas igrejas "oficiais".
Todos podem praticar sua fé, desde que o façam nas igrejas registradas no poderoso Departamento de Assuntos Religiosos, ao qual têm de ser dadas informações como fonte de renda da instituição, número de seguidores, nomes de seus responsáveis, dados do imóvel onde serão feitas as reuniões e linha doutrinária.
Dentro dessa área "oficial", a liberdade de religião é visível. Igrejas e templos foram restaurados e atraem número cada vez maior de fiéis. Falar de Deus não é visto mais como heresia ideológica, e a prática religiosa chegou até a cúpula do poder. A mulher do ex-presidente Jiang Zemin é uma fervorosa budista.
A Folha assistiu à missa da Igreja Católica Patriótica na Igreja Leste de Pequim, na qual havia cerca de 150 pessoas. Celebrada em chinês, ela seguiu os mesmos rituais das missas tradicionais. Depois da missa, um grupo de pessoas mais velhas, a maioria mulheres, permaneceu na igreja para praticar cânticos religiosos.
Xin Wensen, 38, comparece todos os dias à missa das 7h. Depois, entre 8h e 9h, ele e sua mulher, Wang Zunfan, 33, trabalham como voluntários na casa paroquial que administra a igreja.
Criados em famílias que não tinham religião, ambos se converteram ao catolicismo em 1993, um ano depois de se casarem.
Xin avalia que a situação da liberdade de religião na China melhorou nos últimos anos. "O progresso nessa área ocorre pouco a pouco, como o crescimento de uma criança", afirma. Ele sabe da Igreja Católica Underground, mas afirma não ter interesse nela.
Há quatro igrejas católicas oficiais em Pequim. Na Igreja do Leste, a primeira missa é realizada às 6h, em latim.
Os que recusam o controle do Estado são perseguidos e impedidos de praticar sua religião em lugares públicos. A situação das religiões não oficiais piorou a partir de 1999, quando o governo baniu o Falun Gong, grupo que reúne princípios do budismo e do taoísmo com técnicas de meditação.
A situação dos muçulmanos varia segundo a região do país. Os que estão na Província de Xinjiang (oeste) enfrentam controle mais rigoroso, em razão do separatismo islâmico na região. (CT)

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