São Paulo, domingo, 08 de agosto de 2004

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"Não há liberdade de religião na China"

DE PEQUIM

A situação da liberdade de religião na China piorou no últimos cinco anos, na avaliação de Joseph Kung, diretor da Cardinal Kung Foundation, entidade sediada nos EUA que dá apoio à Igreja Católica Underground na China. (CT)

 

Folha - Qual a situação da liberdade de religião na China?
Joseph Kung -
Não há liberdade de religião na China. Apesar do que diz a Constituição, não há liberdade de religião. Eles ainda prendem bispos, padres e seminaristas da Igreja Católica Underground. Há duas Igrejas Católicas na China. Uma é a Católica Patriótica, reconhecida pelo governo, e a outra é a Católica Underground. A Igreja Underground é a igreja de verdade, leal ao papa. Essa igreja não é legal na China e não tem templo aberto. Ela tem cerca de 50 bispos, e todos estão presos.

Folha - Quantos fiéis cada igreja tem?
Kung -
A Igreja Underground tem algo entre 10 milhões e 12 milhões. A igreja do governo tem algo entre 4 milhões e 5 milhões.

Folha - A prisão de bispos é por longo tempo?
Kung -
Alguns bispos, como Su Zhimin, não podem ser encontrados. Ele desapareceu há quase sete anos. A situação é muito ruim.

Folha - É pior do que no passado?
Kung -
Se compararmos com cinco anos atrás, é. Eles prendem mais bispos e padres, destroem mais igrejas e forçam mais pessoas a aderir à igreja do governo. Não é um bom cenário.
Se compararmos com 50 anos atrás, quando os comunistas chegaram ao poder, a situação é melhor. Em 1949, eles colocaram os bispos e padres na prisão por um longo período e mataram fiéis.

Folha - Onde os fiéis da Igreja Underground se reúnem?
Kung -
Eles rezam em suas casas. Em Pequim, há igrejas católicas muito bonitas, mas todas elas pertencem à igreja governamental, a Associação Patriótica. Quando a Igreja Underground tem uma missa, ela é feita em segredo. Quando o governo descobre, os fiéis são presos.

Folha - A situação das outras religiões é melhor ou pior?
Kung -
A situação é a mesma. Nenhuma religião tem liberdade, a menos que se torne oficial.

Folha - Isso se aplica aos budistas e muçulmanos?
Kung -
Sim, aos budistas, muçulmanos, tibetanos, protestantes, todas as religiões.

Folha - Há negociações entre o Vaticano e o governo chinês?
Kung -
Existem negociações secretas, mas não sabemos qual o resultado. É difícil, porque há dois temas que precisam ser resolvidos. O primeiro é que o governo chinês teria de libertar todos os bispos e padres. Não podem chegar a um acordo com o Vaticano enquanto continuam prendendo membros da Igreja Underground.
O outro tema é a nomeação dos bispos da Igreja Católica. No momento, o governo chinês faz isso de forma independente do Vaticano, na Igreja Patriótica. Pequim não aceita a autoridade do papa e escolhe seus próprios bispos sem a aprovação do pontífice.


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