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Paquistão anuncia a morte de líder do Taleban
Baitullah Mehsud morreu em ataque dos EUA na quarta, afirma chanceler
Exército flagrou conversas em que extremistas tratam da sucessão; morte teria grande impacto no manejo de recursos pelo grupo
IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL A TEMARGARA (PAQUISTÃO)
O governo do Paquistão
anunciou ontem que o líder
terrorista Baitullah Mehsud,
comandante do Taleban local,
foi morto por um ataque com
aviões não tripulados americanos na região tribal do Waziristão do Sul.
Mehsud, de estimados 35
anos, era o mais procurado militante islâmico do país. A vítima mais famosa de seus atentados foi Benazir Bhutto, primeira-ministra paquistanesa entre
1988 e 1990 e entre 1993 e 1996,
morta em dezembro de 2007,
quando fazia campanha para
voltar à vida política no país.
O terrorista foi morto na noite de quarta por um ataque à casa de seu sogro, na vila de Ladha, sede de uma antiga guarnição britânica que virou posto
avançado do Taleban.
Uma de
suas quatro mulheres, seu irmão e talvez sua mãe também
foram mortos no ataque.
"Ainda precisamos de provas
científicas, mas podemos dizer
que Baitullah está morto", afirmou às TVs locais o chanceler
Shah Mehmood Qureshi. Mehsud foi atingido por mísseis
Hellfire, disparados de um
avião-robô Predator americano.
Mas a designação do alvo
por GPS e talvez por mira a laser foi dada pelo Exército paquistanês.
"Ele está morto, sim. Nossos
rádios acabaram de pegar as comunicações internas entre os
militantes falando de sua sucessão", disse à Folha o comandante da Dir Scouts, coronel Nadim Mirza.
Ele é responsável pela segurança na região tribal de Dir,
que ontem mesmo ainda registrava combates contra membros do Taleban.
A morte de Mehsud foi dúvida no país por dois dias. Ele já
fora declarado morto algumas
vezes, só para aparecer na TV
no dia seguinte. Desta vez, evidência local e o fato de que já
há candidatos para a sua sucessão sendo comentados pelos
porta-vozes do Taleban parecem ter resolvido a questão.
A importância simbólica da
morte, se realmente confirmada, é enorme. O Paquistão está
finalizando a primeira etapa de
uma grande operação militar
nas áreas tribais em que os integrantes do Taleban se insurgiram, após tomar o poder em
alguns locais.
Ainda que o Taleban seja
uma espécie de franquia no Paquistão, com diversos grupos
alegando relação com o irmão
afegão, basicamente para obter
financiamento, o de Mehsud
era o mais visível.
Por anos, ele e seu suposto irmão Abdullah fizeram acordos
com Islamabad para manter a
ordem na região do Waziristão
do Sul. Eram líderes da tribo
dos Mehsud, conhecida por sua
ferocidade guerreira.
Fortalecidos e armados, os
Mehsud começaram uma onda
terrorista que deixou dezenas
de mortos, sendo que Benazir
foi a mais famosa. A notoriedade os levou a renomear o grupo
como Taleban para reforçar o
senso de "guerra santa" e azeitar canais de entrada do dinheiro do tráfico de drogas e
armas na fronteira -só no ano
passado, estima-se que US$ 5
bilhões tenham sido auferidos
no Afeganistão com o comércio
de heroína.
Abdullah acabou se matando
para fugir de uma emboscada, e
Baitullah tomou as rédeas do
grupo no ano passado. De vida
pregressa quase desconhecida,
com raras aparições públicas e
hábitos de ermitão, o jovem
Mehsud virou uma espécie de
ícone para os fundamentalistas
da região.
"Mais importante, ele era o
homem que centralizava o dinheiro. Agora, podem aparecer
cinco líderes, mas nenhum terá
como organizar a distribuição
de verbas para o terrorismo como Baitullah fazia. Por isso essa morte é tão importante",
disse Mirza à Folha em Temargara, seu quartel-general.
Ontem, no meio da tarde, um
emissário avisou o coronel de
que o líder do Taleban local,
um afegão conhecido como Dr.
Shahiid, queria negociar um
salvo-conduto para os seus homens para voltar ao seu país, a
pouco mais de dez quilômetros
dali. "Nem pensar", respondeu
Mirza. Resta saber se o movimento é isolado ou virará uma
tendência.
Folha Online
Ouça podcast de Igor
Gielow sobre morte de
Baitullah Mehsud
www.folha.com.br/0921910
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