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ANÁLISE A ERA URIBE
Álvaro Uribe tentou impor estratégia a países vizinhos
Diálogo com nações fronteiriças e lado político do confronto são lacunas
PRESIDENTE DIZIA SE OPOR A CONFERIR CARÁTER INTERNACIONAL AO COMBATE ÀS FARC, MAS QUIS DIVIDIR A RESPONSABILIDADE COM OUTRAS NAÇÕES DA REGIÃO
CLAUDIA ANTUNES
DO RIO
Nos seus oito anos de mandato, o colombiano Álvaro
Uribe vez por outra reiterava
se opor à "internacionalização" do conflito interno colombiano. Mas dizia meia
verdade.
É fato que ele nunca buscou mediação externa, a fim
de não devolver às Farc parte
da legitimidade perdida
quando aderiram ao narcotráfico e aos sequestros como
métodos de financiamento,
ainda nos anos 80.
Mas todas as iniciativas regionais de Uribe nos últimos
anos visaram impor aos vizinhos corresponsabilidade
pelo combate à guerrilha
-que, vale lembrar, é fenômeno anterior à onda insurgente inspirada pela Revolução Cubana e enraizado na
história colombiana, mesmo
que o tráfico lhe dê contornos
transnacionais.
A internacionalização pretendida pelo uribismo usou a
retórica do combate sem
fronteiras típica da "guerra
ao terror", mesclou-a com a
"guerra às drogas" e incluiu
o bombardeio no Equador,
em 2008.
Em termos propagandísticos, Uribe foi beneficiado pelo delírio chavista de imaginar que seria possível uma
reviravolta política na Colômbia com as impopulares
Farc como agentes do "novo
bolivarianismo".
Mas a corresponsabilidade
dos vizinhos, na visão uribista, quase nunca significou
decisões compartilhadas.
Aos países fronteiriços caberia perseguir os grupos irregulares colombianos, sem
jamais questionar a efetividade de uma estratégia que
nem encerrou a guerra interna nem livrou o país de ser o
maior produtor mundial de
cocaína, dez anos e US$ 7 bilhões após o início do Plano
Colômbia.
Agora, os limites militares
e políticos desse projeto desafiam o presidente Juan Manuel Santos.
O transbordamento do
conflito colombiano é antigo,
facilitado pela geografia, pela corrupção dos agentes estatais e pelo fato de o país
manter as fronteiras relativamente desguarnecidas, mesmo com um dos maiores contingentes militares da região
-66 homens por 10 mil habitantes, contra 59 da Venezuela e 17 do Brasil.
PLANO DE SEGURANÇA
A tática de empurrar as organizações ilegais para a periferia, a fim de controlar os
grandes centros e rotas rodoviárias, foi magnificada sob o
Plano de Segurança Democrática de Uribe.
O plano melhorou a vida
da maioria dos colombianos.
Mas expulsou mais refugiados para a vizinhança, e as
áreas fronteiriças borbulham
com grupos de origem esquerdista e egressos do paramilitarismo de direita.
Em relatório de 29 de junho, o centro de estudos International Crisis Group
(ICG) aponta a intensificação
do espalhamento não só para
a Venezuela (Chávez é criticado por inação e dubiedade) mas também para Panamá, Peru, Equador e Brasil.
O relatório calcula que,
apesar da redução de sua capacidade ofensiva, as Farc
mantêm entre 8.000 e 10 mil
integrantes. "É pouco provável que possam ser derrotadas militarmente", diz.
Ao chamar as Farc de "narcoterroristas", Uribe indicou
sua rejeição à negociação,
numa fase em que o objetivo
era enfraquecer o grupo e
restabelecer o controle territorial do Estado nas áreas
centrais. Mas, assim como
boa parte dos analistas, o ICG
avalia que o fim do conflito
colombiano exigirá um
"componente de negociação
política".
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