São Paulo, domingo, 08 de agosto de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ANÁLISE A ERA URIBE

Álvaro Uribe tentou impor estratégia a países vizinhos

Diálogo com nações fronteiriças e lado político do confronto são lacunas

PRESIDENTE DIZIA SE OPOR A CONFERIR CARÁTER INTERNACIONAL AO COMBATE ÀS FARC, MAS QUIS DIVIDIR A RESPONSABILIDADE COM OUTRAS NAÇÕES DA REGIÃO

CLAUDIA ANTUNES
DO RIO

Nos seus oito anos de mandato, o colombiano Álvaro Uribe vez por outra reiterava se opor à "internacionalização" do conflito interno colombiano. Mas dizia meia verdade.
É fato que ele nunca buscou mediação externa, a fim de não devolver às Farc parte da legitimidade perdida quando aderiram ao narcotráfico e aos sequestros como métodos de financiamento, ainda nos anos 80.
Mas todas as iniciativas regionais de Uribe nos últimos anos visaram impor aos vizinhos corresponsabilidade pelo combate à guerrilha -que, vale lembrar, é fenômeno anterior à onda insurgente inspirada pela Revolução Cubana e enraizado na história colombiana, mesmo que o tráfico lhe dê contornos transnacionais.
A internacionalização pretendida pelo uribismo usou a retórica do combate sem fronteiras típica da "guerra ao terror", mesclou-a com a "guerra às drogas" e incluiu o bombardeio no Equador, em 2008.
Em termos propagandísticos, Uribe foi beneficiado pelo delírio chavista de imaginar que seria possível uma reviravolta política na Colômbia com as impopulares Farc como agentes do "novo bolivarianismo".
Mas a corresponsabilidade dos vizinhos, na visão uribista, quase nunca significou decisões compartilhadas.
Aos países fronteiriços caberia perseguir os grupos irregulares colombianos, sem jamais questionar a efetividade de uma estratégia que nem encerrou a guerra interna nem livrou o país de ser o maior produtor mundial de cocaína, dez anos e US$ 7 bilhões após o início do Plano Colômbia.
Agora, os limites militares e políticos desse projeto desafiam o presidente Juan Manuel Santos.
O transbordamento do conflito colombiano é antigo, facilitado pela geografia, pela corrupção dos agentes estatais e pelo fato de o país manter as fronteiras relativamente desguarnecidas, mesmo com um dos maiores contingentes militares da região -66 homens por 10 mil habitantes, contra 59 da Venezuela e 17 do Brasil.

PLANO DE SEGURANÇA
A tática de empurrar as organizações ilegais para a periferia, a fim de controlar os grandes centros e rotas rodoviárias, foi magnificada sob o Plano de Segurança Democrática de Uribe.
O plano melhorou a vida da maioria dos colombianos. Mas expulsou mais refugiados para a vizinhança, e as áreas fronteiriças borbulham com grupos de origem esquerdista e egressos do paramilitarismo de direita.
Em relatório de 29 de junho, o centro de estudos International Crisis Group (ICG) aponta a intensificação do espalhamento não só para a Venezuela (Chávez é criticado por inação e dubiedade) mas também para Panamá, Peru, Equador e Brasil.
O relatório calcula que, apesar da redução de sua capacidade ofensiva, as Farc mantêm entre 8.000 e 10 mil integrantes. "É pouco provável que possam ser derrotadas militarmente", diz.
Ao chamar as Farc de "narcoterroristas", Uribe indicou sua rejeição à negociação, numa fase em que o objetivo era enfraquecer o grupo e restabelecer o controle territorial do Estado nas áreas centrais. Mas, assim como boa parte dos analistas, o ICG avalia que o fim do conflito colombiano exigirá um "componente de negociação política".


Texto Anterior: Reconciliação é prioridade, diz Santos
Próximo Texto: Chávez aceita encontro direto com Santos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.